Um estudo divulgado nesta quinta-feira, 7, pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) revela que 50,7% dos produtos exportados pelo Brasil aos Estados Unidos serão atingidos por uma tarifa combinada de 50%, em função da nova política comercial adotada pelo governo do presidente Donald Trump. A medida amplia o impacto econômico da decisão norte-americana de sobretaxar mercadorias brasileiras, intensificando as tensões entre os dois países.
De acordo com o levantamento, 41,4% da pauta exportadora brasileira para os Estados Unidos — equivalente a 7.691 produtos — será submetida à alíquota total de 50%, resultado da combinação entre a tarifa já vigente de 10% e a nova sobretaxa de 40%, anunciada pelo governo norte-americano na semana passada. Esses produtos foram responsáveis por US$ 17,5 bilhões em exportações brasileiras em 2024.
A CNI destacou que 69,9% desse montante teve origem na indústria de transformação, que será o setor mais penalizado com a nova alíquota. “O principal segmento exportador ao mercado americano, a indústria de transformação responde por 69,9% desse valor, com 7.184 produtos afetados pelas tarifas combinadas, que totalizaram US$ 12,3 bilhões no ano passado”, afirmou a confederação em nota técnica.
Setores industriais mais afetados
Entre os setores mais atingidos pelas novas tarifas impostas por Washington estão:
- Vestuário e acessórios – 14,6% do total impactado
- Máquinas e equipamentos – 11,2%
- Produtos têxteis – 10,4%
- Alimentos processados – 9,0%
- Produtos químicos – 8,7%
- Couro e calçados – 5,7%
A CNI também alerta que mercadorias de base mineral e metálica como aço, alumínio e cobre, que já estavam sujeitas a tarifas pela Seção 232 (voltada à segurança nacional), agora serão atingidas também pela nova alíquota de 50%. Juntos, esses segmentos representam 9,3% da pauta exportadora brasileira aos Estados Unidos.
Impacto sobre a balança comercial
Os blocos industriais e agrícolas afetados pela medida representam, no total, 50,7% de todas as exportações brasileiras destinadas ao mercado norte-americano. O estudo indica que os setores atingidos pela nova política comercial foram responsáveis por movimentar mais da metade do valor exportado em 2024 para os Estados Unidos.
As alterações tarifárias fazem parte de uma ofensiva do governo Trump, que justificou a decisão com base em alegações de violações à liberdade de expressão no Brasil. O decreto norte-americano também mencionou investigações conduzidas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e aliados como pano de fundo político para a aplicação das tarifas.
Reações e medidas em análise
Diante da gravidade do impacto, a Confederação Nacional da Indústria reforça a necessidade de ações diplomáticas e comerciais por parte do governo brasileiro. Na quarta-feira (6), o Brasil protocolou um pedido de consultas formais contra os Estados Unidos na Organização Mundial do Comércio (OMC), etapa inicial de uma eventual disputa comercial multilateral.
A iniciativa, coordenada pelo Ministério das Relações Exteriores e pela Câmara de Comércio Exterior (Camex), visa contestar a legalidade das sobretaxas, sob o argumento de que violam compromissos firmados pelos EUA no sistema da OMC — como o princípio da Nação Mais Favorecida e os tetos tarifários acordados entre os membros.
Em paralelo, o governo estuda a adoção de medidas emergenciais para mitigar os efeitos imediatos da política americana, incluindo estímulos a mercados alternativos e linhas de crédito a setores produtivos afetados. Representantes do agronegócio e da indústria já manifestaram preocupação com a possibilidade de retração nas exportações, especialmente de produtos com alta concentração no mercado estadunidense, como carnes, café e itens semimanufaturados.
Cenário de incerteza
Em 2024, o Brasil exportou cerca de US$ 40,4 bilhões para os Estados Unidos, valor que corresponde a aproximadamente 1,8% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional. Desse total, cerca de US$ 22 bilhões estão relacionados a produtos que serão afetados diretamente pelas tarifas combinadas. O impacto estimado por entidades como a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) inclui uma retração de até R$ 25,8 bilhões no PIB no curto prazo e perda de 146 mil empregos formais e informais.
Analistas observam que a imposição tarifária se insere em um contexto mais amplo de realinhamento político-diplomático dos EUA com aliados próximos do ex-presidente Jair Bolsonaro. A Casa Branca também revogou os vistos de ministros do Supremo Tribunal Federal e do procurador-geral da República, além de anunciar sanções diplomáticas adicionais.
A expectativa agora se volta para a evolução da disputa na OMC e para a definição de possíveis contramedidas por parte do governo brasileiro. Até o momento, Washington mantém a justificativa de que a medida se ampara em dispositivos da legislação norte-americana, como a Lei dos Poderes Econômicos de Emergência Internacional e a Seção 301 da Lei de Comércio de 1974.


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