Peritos do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), representados pela Associação Nacional dos Médicos Peritos (ANMP), afirmam que levaram ao então presidente eleito Jair Bolsonaro, em dezembro de 2018, denúncias de desvios, fraudes e irregularidades no INSS durante o processo de transição de governo. A informação envolve indícios de descontos indevidos, supostos malversos do dinheiro público e riscos ao equilíbrio financeiro da Previdência.
De acordo com relatos, o encontro teria ocorrido em 11 de dezembro de 2018 no CCBB, em Brasília, onde Bolsonaro foi informado pelos peritos sobre operações suspeitas dentro do INSS. A ANMP diz que participou de pelo menos três reuniões ao longo da fase de transição com membros da equipe e com o próprio Bolsonaro nas quais foram apresentados dados sobre o impacto dos desvios no deficit previdenciário.
Nesse contexto, também foi citado o senador Izalci Lucas (PL-DF) como interlocutor que articulou audiência entre os peritos e a equipe de transição. Izalci afirmou que os peritos o procuraram depois das eleições para relatar problemas em áreas como seguro-defeso e aposentadorias rurais, e que, com base nessas informações, ajudou a viabilizar agenda com a equipe de Bolsonaro.
A pauta desses encontros incluía críticas ao modelo de alocação de recursos, à presença de descontos associativos irregulares e à possível “politização ideológica” no INSS. Segundo a ANMP, também foram apresentadas reivindicações relativas à carreira dos peritos, como a criação de carreira federal própria para esse corpo técnico.
Essas revelações surgem em meio ao desdobramento de um dos maiores escândalos do setor previdenciário dos últimos anos, alvo de uma CPMI no congresso: o esquema de fraudes em descontos irregulares, frequentemente chamado de “Farra do INSS”, que teria causado um prejuízo estimado em R$ 6,3 bilhões entre 2019 e 2024, segundo investigações da PF e da CGU. Grande parte do volume estaria concentrada nos últimos anos do período.
O caso ganhou repercussão nacional com a deflagração da Operação Sem Desconto em abril de 2025, que cumpriu mais de 200 mandados de busca e apreensão em 13 estados e no Distrito Federal, visando entidades, intermediários e servidores suspeitos de envolvimento nos descontos ilegais.
Entre os alvos centrais está o lobista Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”, apontado como peça-chave do esquema de intermediação e lavagem de recursos. Ele teria mantido uma offshore nas Ilhas Virgens Britânicas e é suspeito de facilitar a apropriação de recursos desviados por meio dos descontos indevidos. Carros de luxo e outros bens foram apreendidos em operações relacionadas ao caso.
Durante sessões da CPMI, o senador Izalci foi pressionado a detalhar as circunstâncias das reuniões com os peritos. Ele rechaça que essas reuniões indiquem ação concreta por parte de Bolsonaro.
Por sua vez, integrantes da gestão Bolsonaro, como Onyx Lorenzoni, relataram não se lembrar de ter recebido denúncias específicas sobre descontos associativos, reconhecendo apenas que os peritos trouxeram temas como “benefícios indevidos” e reivindicações de prêmio por produtividade para reduzir filas no INSS.


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