O ministro da Segurança Nacional de Israel, Itamar Ben-Gvir, divulgou nesta sexta-feira (3) um vídeo gravado dentro da prisão de Ktzi’ot para anunciar o destino dos ativistas da flotilha internacional interceptada a caminho da Faixa de Gaza. O centro de detenção é conhecido internacionalmente por denúncias de tortura e violações de direitos humanos.
Na gravação, Ben-Gvir afirmou que os detidos serão tratados como “terroristas”.
“Estamos na prisão Ktzi’ot e, como eu prometi, esses membros da flotilha, apoiadores do terrorismo, estão em uma prisão de segurança. Acabou a brincadeira. Eles estão recebendo o tratamento de terroristas para todos os propósitos. Roupas de terroristas, tratamento para terroristas. O mínimo do mínimo. Isso que eu prometi e é assim que vamos fazer”, declarou.
Interceptação da flotilha em águas internacionais
A organização Global Sumud, responsável pela expedição, confirmou que o último barco da missão, chamado Marinette, foi interceptado pela Marinha israelense ainda em águas internacionais. O grupo acusou Israel de bloquear ilegalmente toda a frota que navegava rumo a Gaza com ajuda humanitária.
Em comunicado divulgado no aplicativo Telegram, a entidade afirmou que Israel “interceptou ilegalmente as 42 embarcações, cada uma carregando ajuda humanitária, voluntários e a determinação de romper o cerco ilegal imposto a Gaza”.
A iniciativa Global Sumud — cujo nome significa “resiliência” em árabe — partiu de Barcelona no final de agosto com cerca de 45 barcos e centenas de ativistas vindos de mais de 45 países. O objetivo declarado pelos organizadores era “abrir um corredor humanitário e pôr fim ao genocídio em curso contra o povo palestino”.
Brasileiros entre os detidos
Entre os detidos pela Marinha israelense estão latino-americanos, incluindo cidadãos brasileiros, além de ativistas europeus e asiáticos. A deputada federal Luizianne Lins (PT-CE) está entre os brasileiros que foram capturados durante a operação. Segundo informações de familiares e colegas de partido, a parlamentar está incomunicável há mais de 40 horas.
O governo brasileiro confirmou que representantes da Embaixada do Brasil em Israel farão uma visita consular aos detidos ainda nesta sexta-feira (3). O Ministério das Relações Exteriores afirmou que acompanha o caso e que está em contato com autoridades israelenses para garantir a integridade dos cidadãos brasileiros.
Reações de organizações de direitos humanos
O bloqueio e a detenção da flotilha provocaram reações imediatas de entidades internacionais. Organizações de defesa dos direitos humanos afirmam que a ação agrava a política de criminalização de ativistas que tentam levar auxílio à população palestina.
A Anistia Internacional classificou a operação israelense como uma violação das convenções internacionais que garantem o direito de passagem de missões humanitárias. Para a entidade, a apreensão de barcos em águas internacionais e a detenção de seus ocupantes sem acesso imediato a representação legal representam um precedente perigoso.
O Hamas, grupo que controla a Faixa de Gaza, chamou a ação israelense de “crime de pirataria” e “terrorismo marítimo”. Já o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, elogiou a Marinha israelense pela operação: “Parabenizo os soldados e comandantes da Marinha que cumpriram sua missão em Yom Kippur da forma mais profissional e eficiente”.
Pressão diplomática cresce após prisões
A reação de governos estrangeiros tem se intensificado. O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, determinou a expulsão da delegação diplomática de Israel em Bogotá depois da prisão de duas cidadãs colombianas que participavam da flotilha. O governo mexicano, liderado por Claudia Sheinbaum, exigiu a repatriação imediata de seis cidadãos mexicanos.
Na Europa, a Espanha convocou a encarregada de negócios de Israel em Madri e anunciou a abertura de uma investigação sobre possíveis crimes contra a humanidade. O governo espanhol confirmou que cerca de 65 cidadãos do país integravam a missão humanitária. Em países como Turquia e França, protestos tomaram as ruas em solidariedade aos ativistas.
Na Turquia, o governo classificou a operação como “ato de terrorismo” e anunciou a abertura de inquéritos após a prisão de 24 cidadãos turcos. Organizações políticas e movimentos sociais em diversas capitais latino-americanas também convocaram manifestações contra a detenção dos barcos.
Contexto do cerco a Gaza e das restrições israelenses
A Faixa de Gaza está sob bloqueio imposto por Israel desde 2007, com controle rigoroso do espaço marítimo, aéreo e terrestre. Organizações internacionais, incluindo a ONU, afirmam que a restrição de entrada de alimentos, combustível e medicamentos agravou a crise humanitária no território palestino. A região enfrenta fome generalizada após quase um ano de ofensivas militares israelenses.
Missões como a da flotilha Global Sumud tentam romper o bloqueio para entregar ajuda direta à população civil. Contudo, Israel afirma que tais ações podem ser usadas para transportar armas ou apoiar grupos considerados terroristas pelo governo.
Próximos passos e monitoramento internacional
A situação dos ativistas permanece em aberto, e ainda não há informações sobre possíveis acusações formais ou prazos para deportação. Advogados de direitos humanos alertam que a classificação de “tratamento de terroristas” feita pelo ministro Itamar Ben-Gvir pode dificultar a proteção legal dos detidos.
Enquanto isso, países envolvidos buscam soluções diplomáticas para a liberação dos cidadãos. O governo brasileiro confirmou que continua em diálogo com autoridades israelenses para garantir assistência consular e acesso a informações sobre o estado de saúde dos detidos.
Organizações internacionais pressionam por investigações independentes sobre o episódio, incluindo a forma como Israel interceptou embarcações em águas internacionais e o tratamento dado aos ativistas após a prisão.


Nenhum comentário ainda, seja o primeiro!