As chances de Ciro Gomes no Ceará

Alguns dias atrás foi divulgada uma pesquisa do instituto Real Time Big Data para intenção de voto no Ceará, em que o governador Elmano de Freitas aparece à frente ou empatado com os principais concorrentes em diferentes cenários para as eleições de 2026. O levantamento, realizado entre os dias 25 e 26 de setembro com 1.200 eleitores, tem margem de erro de três pontos percentuais para mais ou para menos.

No cenário que coloca Elmano contra Roberto Cláudio e Eduardo Girão, o governador lidera com 41% das intenções de voto, seguido por Roberto Cláudio com 27% e Eduardo Girão com 16%. Quando o cenário inclui Ciro Gomes, os números mudam. Elmano registra 38% das intenções de voto, enquanto Ciro aparece com 37%, configurando empate técnico dentro da margem de erro. Eduardo Girão fica com 16% e Roberto Cláudio cai para 5%.

A pesquisa também testou um quarto cenário, no qual Ciro Gomes seria o único candidato de oposição contra Elmano. Nesse cenário, Ciro aparece com 43% das intenções de voto, contra 42% de Elmano, outro empate técnico.

Os números mostram que Ciro Gomes surge como o adversário mais competitivo contra Elmano. No entanto, é preciso colocar esses números em perspectiva. A presença de Ciro nas pesquisas carrega um forte componente de reconhecimento de nome, o chamado recall. Ciro é uma figura política conhecida no Ceará há décadas, o que naturalmente eleva seus índices em levantamentos de intenção de voto realizados mais de um ano antes da eleição.

O problema para Ciro não está em aparecer bem nas pesquisas, mas na ausência de espaço político real para sua candidatura. O Ceará, como qualquer outro estado brasileiro, está polarizado entre apoiadores de Lula e Bolsonaro. É possível eleger um governador de terceira via, mas esse governador precisa ser identificado como mais próximo de um dos dois polos. O lado do governo Lula já está ocupado por Elmano de Freitas, que governa o estado com o apoio do PT e tem aprovação de 56% dos eleitores, segundo a mesma pesquisa Real Time Big Data.

O único espaço disponível seria pela direita, alinhado ao bolsonarismo. Mas os bolsonaristas formam um grupo fechado e vão querer um candidato próprio. Ciro não seria apoiado por esse campo sem concessões. O mais provável é que surja uma divisão, uma disputa, e que os bolsonaristas cobrem de Ciro uma radicalização à direita. A única coisa em comum entre o bolsonarismo e Ciro Gomes é a oposição a Lula.

Para ocupar esse espaço, Ciro teria que intensificar os ataques ao governo federal e ao presidente Lula. Seria muito ingênuo achar que a eleição estadual para o Ceará em 2026 não vai ter um componente fortemente nacionalizado. Vai ser uma eleição em que Lula terá uma campanha muito forte no estado, e os candidatos a governador vão ser cobrados sobre se estão com Lula ou contra Lula. Essa estratégia pode não ser vantajosa para quem pretende se eleger pelo Ceará, um estado onde Lula teve 65,91% dos votos válidos no primeiro turno de 2022.

Os resultados eleitorais de 2022 oferecem uma leitura mais precisa do que o eleitor cearense pensa sobre Ciro Gomes. Naquele ano, Ciro recebeu 369.222 votos no Ceará, o que representa 6,80% dos votos válidos. Em 2018, ele havia sido o candidato mais votado no estado, com 1.998.597 votos, ou 40,95% dos votos válidos. A queda foi de 81,53% entre uma eleição e outra.

Em Sobral, berço político da família Gomes, Ciro ficou em terceiro lugar em 2022, com 22.201 votos, ou 18,46% dos votos válidos. Lula venceu na cidade com 55,46%, seguido por Bolsonaro com 24,67%. Quando há outros candidatos na disputa, Ciro desaparece. A pesquisa Real Time Big Data pode estar contaminada pelo recall, mas o resultado eleitoral de 2022 mostra o que acontece quando o eleitor precisa escolher de fato.