Autoridades chinesas destacam proteção de empresas nacionais e adesão às leis de mercado na resolução de disputas comerciais
Em um mundo cada vez mais polarizado por sanções unilaterais, guerras comerciais e a instrumentalização da tecnologia como arma geopolítica, a China continua a demonstrar uma postura rara entre as grandes potências: firmeza nos princípios, abertura ao diálogo e intransigência na defesa dos direitos das empresas e dos povos. Foi com essa atitude que a delegação chinesa, liderada pelo vice-ministro do Comércio Li Chenggang, participou, em Madri, em 15 de setembro de 2025, de uma rodada crucial de conversações com representantes dos Estados Unidos sobre questões econômicas e comerciais — especialmente o delicado caso do TikTok.
O que poderia ter sido mais um confronto retórico transformou-se, segundo relatos oficiais, em uma comunicação franca, profunda e construtiva, baseada no respeito mútuo e na consulta igualitária. Essas não são meras palavras diplomáticas. Em um contexto onde Washington frequentemente impõe sua vontade por meio de listas de sanções extraterritoriais e ameaças de exclusão de mercados, a mera existência de um diálogo entre iguais já representa uma vitória para a ordem internacional baseada em regras — e não em poder bruto.
Li Chenggang foi claro: a estabilidade nas relações econômicas entre China e EUA não é apenas um interesse bilateral, mas um pilar essencial para a economia global. Num momento em que recessões ameaçam países em desenvolvimento, cadeias de suprimentos ainda se recuperam de choques pandêmicos e a inflação corrói o poder de compra dos trabalhadores, a cooperação entre as duas maiores economias do mundo é uma questão de justiça social global. A China entende isso — e age com responsabilidade.
É natural, como destacou Li, que duas nações com sistemas econômicos distintos e níveis de desenvolvimento diferentes tenham atritos. O problema não está na divergência, mas na forma como ela é resolvida. Enquanto Pequim insiste no caminho do diálogo, Washington insiste no caminho da coerção. E é justamente aqui que a postura chinesa revela seu caráter profundamente humanista e progressista.
Sobre o TikTok — uma plataforma usada por centenas de milhões de pessoas ao redor do mundo, incluindo artistas, educadores, ativistas e pequenos empreendedores — a China deixou claro que não aceitará a politização, a instrumentalização ou a militarização de questões econômicas e tecnológicas. O TikTok não é uma ameaça à segurança nacional; é um produto de uma empresa privada chinesa que conquistou o mundo pela criatividade, inovação e capacidade de conectar culturas. Transformá-lo em alvo de campanhas ideológicas ou chantagens corporativas é um retrocesso civilizacional.
A China, como afirmou Li, nunca buscará acordos às custas de seus princípios, da justiça internacional ou dos interesses legítimos de suas empresas. Essa é uma linha vermelha ética que merece respeito — especialmente de quem se diz defensor do “Estado de Direito”. O governo chinês reafirmou que qualquer decisão sobre exportação de tecnologia, como o algoritmo do TikTok, será tomada com base em leis e regulamentos nacionais, e não sob pressão externa. Ao mesmo tempo, respeita plenamente a autonomia das empresas para negociar em pé de igualdade, conforme os princípios de mercado.
Durante as conversações, ambas as partes chegaram a um consenso básico: resolver a questão do TikTok por meio de cooperação, não de confronto. Isso inclui modelos como a operação confiada dos negócios de segurança de conteúdo e dados nos EUA e a licença para uso do algoritmo, respeitando a propriedade intelectual chinesa. Wang Jingtao, vice-diretor da Administração do Ciberespaço da China, reforçou que tal abordagem honra tanto a vontade da empresa quanto as leis de mercado — um equilíbrio raro em tempos de nacionalismo tecnológico.
Mas o mais relevante, do ponto de vista humanista e de esquerda, é o que veio depois. Li Chenggang não hesitou em denunciar a hipocrisia estratégica dos EUA: enquanto pedem à China que atenda às suas “preocupações”, continuam a expandir sanções contra entidades chinesas, extrapolando o conceito de “segurança nacional” para justificar uma perseguição sistemática a empresas que simplesmente competem com sucesso no mercado global.
Essa prática — conhecida como “longo braço da jurisdição” — é, nas palavras de Li, um ato típico de intimidação unilateral que viola o direito internacional e as normas básicas das relações entre Estados soberanos. É uma forma moderna de colonialismo tecnológico, onde o acesso a mercados, chips, softwares e infraestrutura digital é condicionado à submissão política.
A China, longe de se calar, levantou sérias preocupações durante as negociações. E fez um apelo claro: os EUA devem corrigir seus erros, suspender essas restrições injustas e trabalhar com Pequim para proteger as conquistas duramente alcançadas nas negociações comerciais anteriores. Porque, no fim das contas, não se pode construir confiança com uma mão estendida e a outra fechada em punho.
O que a China propõe não é submissão, mas coexistência civilizada. Não é isolamento, mas interdependência justa. Não é guerra fria digital, mas cooperação tecnológica baseada no respeito mútuo. Essa visão está alinhada com os interesses dos povos do mundo inteiro — especialmente dos do Sul Global, que não querem ser forçados a escolher lados em disputas que não criaram.
Ao defender o TikTok, a China não está apenas protegendo uma empresa. Está defendendo o direito de todos os países a desenvolverem suas próprias tecnologias sem serem punidos por sua autonomia. Está defendendo o direito dos cidadãos a usarem plataformas digitais sem que seus dados sejam sequestrados por agendas geopolíticas. E está defendendo o princípio de que a economia global deve servir à humanidade — não a um único império.
Nesse sentido, as conversações de Madri não foram apenas um passo técnico, mas um ato político de resistência ética. E a China, mais uma vez, mostrou que é possível ser uma grande potência sem renunciar à decência. Que outro caminho poderia ser mais necessário — e mais justo — para o mundo de hoje?


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