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Quaest: Lula mantém vantagem entre independentes

Um dos aspectos mais interessantes da pesquisa Quaest divulgada ontem é a estratificação do eleitorado por posicionamento político. O Brasil tem, grosso modo, três grandes grupos ideológicos. O eleitorado é dividido em esquerda, independentes e direita, cada um correspondendo a um terço do eleitorado, ou aproximadamente 50 milhões de eleitores cada um. O eleitorado de […]

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16.12.2025 - Reunião do Conselho de Participação Social 16.12.2025 - Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante a 10ª Reunião do Conselho de Participação Social, momento que marcou a recondução dos conselheiros representantes da sociedade civil e movimentos sociais. O Conselho, criado em 2003, assessora a Presidência da República no diálogo com setores organizados da sociedade civil. Na pauta estão a assinatura da portaria de recondução dos membros do CPS - em sua totalidade oriundos da sociedade civil -, o balanço das atividades no ano de 2025, análise de conjuntura política e planejamento para 2026. Salão Oeste do Palácio do Planalto em Brasília (DF). Foto: Ricardo Stuckert / PR

Um dos aspectos mais interessantes da pesquisa Quaest divulgada ontem é a estratificação do eleitorado por posicionamento político.

O Brasil tem, grosso modo, três grandes grupos ideológicos. O eleitorado é dividido em esquerda, independentes e direita, cada um correspondendo a um terço do eleitorado, ou aproximadamente 50 milhões de eleitores cada um.

O eleitorado de esquerda tende a votar em Lula, o eleitorado de direita num candidato apoiado por Bolsonaro.

Os independentes são o fiel da balança.

Mas há nuances interessantes. O eleitorado de esquerda parece mais alinhado à candidatura de Lula do que a direita à candidatura de Flávio Bolsonaro. Temos 19% de esquerda lulista contra apenas 12% de direita bolsonarista. Além desses, temos 14% de esquerda não-lulista e 21% de direita não bolsonarista.

Performance entre os independentes

Os independentes representam 32% do eleitorado.

Enquanto lulistas e bolsonaristas já têm suas preferências consolidadas, os independentes podem migrar para um lado ou outro dependendo do momento político do país.

A aprovação de Lula entre os independentes ficou em 42% em dezembro, mantendo-se estável em relação aos meses anteriores.

Para entender se esse patamar é bom ou ruim, basta comparar com a performance de Lula no segundo turno contra Flávio: o presidente marca 37% contra 23% do senador, entre os eleitores independentes. Isso significa que um nível de aprovação superior a 40% entre os independentes é suficiente para que Lula mantenha a liderança no segundo turno contra seus principais adversários, conforme veremos a seguir.

Essa superioridade se torna ainda mais expressiva quando consideramos a rejeição. Entre independentes, Flávio tem 69% de rejeição contra 64% de Lula.

A propósito, na média geral, a rejeição de Lula ficou em 54% em dezembro, contra 60% de Flavio Bolsonaro.

Segundo turno: Lula vs Flávio

No segundo turno contra Flávio Bolsonaro, Lula alcança 46% contra 36% do senador, uma vantagem de 10 pontos.

Essa margem é confortável, mas não é esmagadora. A tendência é que o segundo turno fique mais apertado conforme a campanha avança. Flávio oscilou quatro pontos para cima no segundo turno (de agosto para dezembro), o que se explica pela maior visibilidade que ganhou depois de ter sido oficialmente escolhido por seu pai como candidato.

Um dos fatores mais decisivos dessa pesquisa é que Tarcísio de Freitas não mostra mais vantagem em relação a Flávio Bolsonaro.

Pelo contrário. No cenário de segundo turno contra Lula, o Tarcísio tem 35%, um ponto a menos que os 36% de Flávio Bolsonaro. O governador de São Paulo havia chegado a 40% em maio, nas simulações de segundo turno contra Lula, mas desde então começou a cair.

Interessante destacar também que Tarcísio está pontuando menos na direita do que o Flávio. E não é pouco.

No cenário de segundo turno contra Lula, entre os eleitores bolsonaristas, Flávio tem 90% contra 73% de Tarcísio. Mesmo na direita não-bolsonarista, Flávio se sai melhor, com 79% contra 76% de Tarcísio. O Tarcísio é um pouco melhor apenas entre os independentes, com 29% contra 23% de Flávio.

Se compararmos um “saldo Lula” entre os dois cenários (Lula X Flavio e Lula X Tarcísio), a vantagem de Flavio é nítida entre a própria base bolsonarista. Lula tem saldo negativo de 86 pontos no cenário com Flavio entre eleitores autoclassificados bolsonaristas, ao passo que registra apenas 66 pontos negativos num cenário com Tarcísio, entre o mesmo eleitorado.

Já entre independentes, o saldo de Lula é positivo em 14 pontos contra Flavio e apenas 5 pontos contra Tarcísio.

Ou seja, entre esse eleitorado mais de centro, Tarcísio tem uma performance expressivamente melhor do que Flavio, o que explica a preferência de algumas legendas e atores centristas pelo nome do governador de São Paulo.

Primeiro turno: Flávio deixa Tarcísio comendo poeira

Em cenários de primeiro turno, a força eleitoral de Flávio Bolsonaro diante de outros nomes da direita aparece de forma ainda mais nítida.

No cenário 2, em que Flávio Bolsonaro e Tarcísio de Freitas aparecem juntos na cédula, a disparidade é expressiva: Flávio marca 23%, enquanto Tarcísio fica em apenas 10% — ou seja, Flávio tem mais que o dobro das intenções de voto do governador paulista.

O desempenho fraco de Tarcísio fica ainda mais evidente quando comparado ao cenário 1, em que Flávio Bolsonaro disputa espaço com Ratinho Júnior, governador do Paraná. Nesse cenário, Ratinho alcança 13%, superando com folga os 10% de Tarcísio no cenário seguinte. Mesmo assim, Flávio mantém seus 23%, consolidando-se como o principal polo da direita.

Ao mesmo tempo, em ambos os cenários, Lula aparece com uma vantagem confortável na liderança. No cenário 1, ele marca 39%, e no cenário 2 chega a 41%, abrindo uma diferença de 16 a 18 pontos em relação ao segundo colocado, Flávio Bolsonaro, que permanece estável em 23%. Isso indica que, apesar da consolidação de Flávio como o nome mais forte da direita no primeiro turno, Lula segue com ampla dianteira no topo da disputa.

Aprovação geral do governo

A aprovação geral do governo Lula na pesquisa Genial Quaest chegou a 48% em dezembro, oscilando um ponto para cima em relação a novembro, um crescimento de oito pontos sobre maio, o mês em que a aprovação havia chegado em seu patamar mais baixo.

A recuperação dos últimos meses pode ser explicada pelo esvaziamento da pequena crise inflacionária dos alimentos, observada no primeiro semestre de 2025. De junho a dezembro, a aprovação oscilou entre 43% e 48%, indicando que o governo encontrou um patamar mais seguro.

Entre os lulistas, a aprovação chegou a 94% em dezembro, o maior índice da série. Na esquerda não-lulista, a aprovação cresceu para 87%. Entre seus próprios eleitores no segundo turno, a aprovação de Lula está fechando o ano em 83%. Os dados sinalizam que Lula manteve sua base social relativamente satisfeita com seu governo.

A aprovação ao governo Lula entre homens cresceu para 45%, oscilando dois pontos para cima. A opinião masculina costuma antecipar tendências, em função do maior grau de engamento político entre homens, de maneira o desempenho de Lula nesse estrato sinaliza melhora na aprovação nas próximas pesquisas.

Na faixa etária de 35 a 59 anos, que é historicamente mais bolsonarista, o governo cresceu 5 pontos, atingindo 52%, o que também é um ótimo sinal para o presidente Lula.

O dado mais importante de todos, porém, é que Lula voltou a pontuar muito fortemente entre famílias de baixa renda, que é a sua principal base social. Segundo a Quaest, Lula atingiu 58% de aprovação entre famílias com até dois salários mínimos em dezembro, o maior índice dessa faixa de renda desde agosto.

Essa recuperação entre os mais pobres está provavelmente ligada ao controle da inflação, sobretudo dos preços de alimentos e energia.

Segundo os dados mais recentes do IBGE, com base no IPCA de novembro, a inflação dos alimentos em domicílio caiu para apenas 2,48% no acumulado em 12 meses — um patamar muito distante dos 7% a 8% registrados durante a maior parte do ano. A tendência de queda tornou-se mais evidente a partir de setembro.

Com a melhora no poder de compra das famílias mais pobres, o governo conseguiu reverter a crise de aprovação que o atingiu no primeiro semestre.

Clique aqui para baixar o relatório da pesquisa Quaest de dezembro de 2025.

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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