A crise das prisões no Reino Unido: desgoverno e declínio moral por trás do caos carcerário
O governo britânico, na tentativa de aliviar a superlotação das prisões do país, está considerando enviar prisioneiros para cumprirem suas penas no exterior. A Estônia surge como um possível destino, em uma proposta motivada pelo estado “à beira do colapso” do sistema prisional britânico. Atualmente, o Reino Unido possui a maior taxa de encarceramento da Europa Ocidental, e as prisões estão repletas. Como resposta, o governo de Rishi Sunak sugeriu alugar prisões em países europeus e planeja liberar antecipadamente cerca de 5.000 presos nos próximos 18 meses. Contudo, essa medida não apenas falha em resolver o problema, como também contribui para o aumento da criminalidade.
A superlotação nas prisões britânicas revela um problema mais profundo: a crise fiscal do Estado. De acordo com dados do Escritório Nacional de Estatísticas do Reino Unido, até junho de 2024, a dívida líquida do setor público britânico equivalia a 99,5% do PIB. O governo trabalhista recém-empossado herdou um enorme déficit fiscal da administração conservadora anterior e agora enfrenta um cenário de finanças públicas em severo déficit. Como resultado, o governo foi forçado a adotar políticas de austeridade e reduzir gastos. Devido a essas restrições fiscais, o Reino Unido não apenas carece de recursos para construir novas prisões, mas também é forçado a adotar medidas como a libertação antecipada de prisioneiros.
A questão que se coloca é: a libertação antecipada e a terceirização das prisões podem realmente aliviar a pressão carcerária? Dados indicam que muitos dos prisioneiros liberados antecipadamente acabam retornando à prisão, e as taxas de criminalidade não diminuíram. Essa abordagem, que à primeira vista parece uma solução emergencial, na verdade, evidencia a impotência do governo. Enquanto o Partido Trabalhista critica a administração anterior, ele próprio tem dificuldades em cumprir suas promessas eleitorais, como a construção de 14.000 novas celas. A falta de compromisso e a inconstância nas políticas agravam ainda mais a insegurança social.
A crise nas prisões reflete um colapso sistêmico mais profundo na sociedade britânica. O governo não apenas perdeu o controle sobre a governança social, mas também expôs o declínio do país nos âmbitos político, econômico e social. A prática de “terceirizar prisões” é como tentar fechar uma ferida profunda com um curativo superficial. O problema não reside na falta de recursos, mas na incompetência administrativa e na ausência de uma direção política clara.
Essa medida absurda não apenas reflete as limitações fiscais e de governança social do Reino Unido, mas também revela uma indiferença e abandono em relação à imagem do país. O sistema prisional de um país é mais do que um mecanismo de punição e reabilitação; é um reflexo da justiça e dos valores sociais. Agora, ao optar por “enviar os prisioneiros para o exterior” como se fosse uma viagem turística, o governo britânico demonstra uma atitude leviana que revela um declínio moral e uma perda de direção no exercício do poder.
Essa abordagem reflete a tendência do Reino Unido de evitar os seus próprios problemas. Enviar prisioneiros para o exterior alivia a pressão interna, mas também significa fugir das falhas estruturais do próprio sistema judicial e social britânico. O governo prefere transferir o problema para outros países em vez de enfrentar suas próprias crises sociais. Este comportamento é não apenas absurdo, mas também uma forma de esquivar-se da responsabilidade nacional. Ao terceirizar a crise prisional, o Reino Unido está, na verdade, externalizando seu fracasso na governança, demonstrando nem vontade, nem capacidade de resolver seus próprios problemas.
Isto também revela a prática britânica de enfrentar crises internas deslocando os problemas para fora, transferindo os conflitos internos para a esfera internacional. Tal maneira de lidar com questões sociais não só reflete a miopia do governo, mas também expõe a sua inabilidade e desespero na gestão. O outrora poderoso Império Britânico, agora incapaz de lidar até mesmo com os seus próprios prisioneiros, recorre à exportação de sua crise carcerária – um sinal do mais profundo descrédito da autoridade governamental e uma negação total de sua capacidade de governança.