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A pandemia na renda e na educação no Brasil de Bolsonaro

Por Bira Marques *

O impacto econômico do novo coronavírus exacerbou outra pandemia: a da pobreza.

Depois de mais de um ano e meio da maior crise sanitária da nossa geração, o Brasil hoje está mais pobre e desigual. A covid-19 expôs dramas que vão além da saúde pública, tocando em problemas antigos e estruturais.

A desigualdade social no Brasil, que sempre foi uma das mais altas do mundo, avançou ainda mais, tanto domesticamente, entre ricos e pobres, como entre nosso país e outros, cujos governos combateram a pandemia com muito mais seriedade, tanto do ponto-de-vista sanitário como econômico.

Um estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) aponta que o número de brasileiros que vivem em situação de pobreza triplicou, passando de 9,5 milhões em agosto de 2020 para mais de 27 milhões em fevereiro de 2021. Um grande salto em um curto período de tempo, ressaltando os terríveis efeitos provocados pela pandemia sobre o trabalho e a renda da população.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de desemprego no Brasil no 2º trimestre deste ano ficou em 14,1%, atingindo 14,4 milhões de pessoas. O levantamento ainda identificou que em apenas um ano, comparando os dados com junho do ano passado, o número de desempregados no país aumentou em 1,6 milhão. Um índice preocupante.

Os brasileiros empobreceram, perderam seus empregos ou tiveram salários reduzidos, e agora precisam lidar com forte alta no preço dos alimentos. O resultado é um cenário de fome e insegurança alimentar gravíssima.

A redução do auxílio emergencial do governo federal também gerou um grande efeito sobre a pobreza.

Essa ausência do Planalto forçou gestores regionais a ampliar as políticas públicas voltadas à proteção social, para além do combate sanitário à pandemia.

Vejamos o exemplo de Niterói, cidade com cerca de 500 mil habitantes do estado do Rio de Janeiro.

O impacto econômico da pandemia também foi sentido na cidade, o que levou à prefeitura a implementar medidas de apoio social e econômico às famílias, com programas como o Renda Básica Temporária, que auxilia cerca de 50 mil famílias com R$500 por mês.

Outro programa da prefeitura, para amenizar as perdas trazidas às empresas pelas medidas necessárias de distanciamento social, é o Supera Mais Ágil, nova fase do programa Supera Mais, que vai disponibilizar R$ 11 milhões em créditos às micro e pequenas empresas.

Seguindo um projeto de desenvolvimento econômico, e sempre com foco no combate à desigualdade, tão acentuada pela pandemia, Niterói estruturou a Moeda Arariboia, um programa de transferência de renda que vai beneficiar cerca de 27 mil famílias. Trata-se de uma política permanente, que vai estimular a circulação da moeda social nas comunidades a partir de outubro deste ano, gerando emprego, renda e reduzindo as desigualdades socioeconômicas regionais.

Além da abordagem econômica, Niterói ainda aposta em outro viés para combater a desigualdade e reduzir a pobreza: a educação. No momento em que as empresas e o mercado de trabalho se reestruturam, é preciso investir na qualificação e tudo começa no ensino básico.

Sem um ambicioso e moderno projeto de educação, não será possível pensar em transformação social. Esse é o fio condutor para uma cidade mais desenvolvida e menos desigual. A retomada das aulas e do cotidiano escolar, priorizando a qualidade do ensino público e o amplo acesso à rede, como já vem acontecendo em Niterói, é um processo imprescindível para reverter as perdas do último ano e mitigar os desafios incalculáveis que o coronavírus trouxe para o setor e para a nova geração.

Os efeitos da pandemia ainda se farão sentir por muito tempo. Planejamento e estratégia, sempre embasados num olhar social, são imprescindíveis para superar essas feridas. E esse processo tem de começar agora. Uma crise tão profunda, como a que vivemos, nos impõe o dever moral de sermos mais ousados, se possível revolucionários, especialmente no campo da educação!

Outros países já viveram dramas sociais terríveis. Eles conseguiram superá-los com políticas de combate à desigualdade, de estímulo ao desenvolvimento, e um grande investimento na instrução de suas crianças e adolescentes.

Danton, um dos mais célebres oradores da revolução francesa, forjou uma das frases que marcaram o espírito moderno: é preciso audácia, sempre audácia e, na hora da crise, ainda mais audácia!

Os traumas da pandemia deveriam produzir, sob a liderança das forças progressistas da sociedade, uma sólida convergência política em torno da necessidade de levarmos adiante políticas audaciosas de combate à desigualdade!

* sociólogo e secretário Executivo da prefeitura de Niterói.

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