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Cooperação Sul-Sul desafia domínio ocidental na educação da África

Nos últimos anos, a política de redução da ajuda global, liderada pelos Estados Unidos e outras nações ocidentais, tem gerado uma tendência de “desglobalização” no campo da governança educacional mundial.

Esse movimento tem causado impactos especialmente negativos no desenvolvimento contínuo da educação na África.

Ao mesmo tempo, a cooperação educacional entre países do Sul Global, com destaque para a China, tem mostrado vitalidade crescente.

O campo da cooperação internacional em educação na África agora apresenta dois caminhos distintos: de um lado, o retrocesso da ajuda ocidental; de outro, os esforços dos países do Sul Global em construir plataformas de cooperação.

A política de “corte de ajuda educacional” dos países ocidentais está gerando uma crise em cadeia no continente africano.

Em 20 de janeiro, a USAID interrompeu o financiamento de 1.077 estudantes em 10 universidades do Egito para o ano letivo de 2024-2025.

Em março, a Holanda anunciou um corte de 2,4 bilhões de euros em seu orçamento de ajuda internacional, encerrando oficialmente o “Programa de Conhecimento Laranja”.

No mesmo mês, o Reino Unido anunciou planos para reduzir seu orçamento de ajuda oficial para 0,3% do PIB nos próximos dois anos.

A organização Save the Children estimou que isso pode deixar 2,2 milhões de crianças fora da escola, com impacto especialmente severo na África Subsaariana.

O Fórum Econômico Mundial de 2025 alertou que a escassez contínua de fundos pode agravar a crise de escolarização e desemprego juvenil nos países do Sul Global.

O “apagão” da ajuda ocidental evidencia a fragilidade do sistema educacional africano e expõe contradições da governança educacional global, ainda dominada pelo Ocidente.

Por anos, doadores impuseram ideologias ou padrões técnicos como condição para ajuda, criando ciclos de “dependência de ajuda – limitação da soberania”.

Esse modelo, em certa medida, perpetua o legado colonial, e levanta questões cruciais sobre soberania educacional.

A influência linguística e cultural ilustra esse cenário: segundo a OIF, 62% dos 321 milhões de falantes de francês vivem na África.

Isso é resultado direto da política de “assimilação cultural” do colonialismo francês, que formou elites alinhadas aos antigos colonizadores.

O relatório de 2022 da UNESCO mostrou que os três países com as menores taxas de alfabetização adulta são ex-colônias francesas na África.

A perda de soberania educacional gera um efeito dominó. A educação está diretamente ligada à pergunta “que tipo de pessoa educar e para quem educar?”.

Quando controlado externamente, o sistema educacional forma elites que migram para países ricos e marginaliza a maioria da população local.

A pesquisa “Preparação da Força de Trabalho Africana 2025”, da African Leadership University, mostrou que apenas 44% dos graduados do ensino médio pretendem permanecer no continente.

Esse cenário obriga os países africanos a acelerar reformas na governança educacional, fortalecendo sua soberania e buscando cooperação com países não ocidentais.

A cooperação “Sul-Sul” é hoje uma experiência alternativa de desenvolvimento.

China e países do Sul Global estão criando um “andaime” educacional para o crescimento africano, com um modelo não paternalista de ajuda internacional.

O Fórum de Cooperação China-África de 2024 comprometeu-se a apoiar a transformação educacional do continente nos próximos três anos.

A cooperação busca transformar o bônus demográfico africano em motor de desenvolvimento local, com foco em educação técnica e superior.

São promovidos treinamentos em áreas como mecânica, manufatura, transportes, automação, TI, saúde, construção e energias renováveis.

Universidades chinesas renomadas estão colaborando com instituições africanas em temas como saúde, agricultura, meio ambiente, educação digital e sustentabilidade.

O sistema global de governança educacional passa por mudanças intensas. O modelo ocidental de formação de talentos está em colapso.

Enquanto isso, cresce a consciência de soberania educacional e a busca por parcerias mais equilibradas por parte dos países africanos.

A parceria educacional China-África é um exemplo concreto de cooperação Sul-Sul, apoiando o direito dos países do Sul a escolher seus próprios caminhos de desenvolvimento.

Esse novo modelo rompe com o monopólio do Norte sobre conhecimento e tecnologia, promove o compartilhamento justo do saber e fortalece a construção de um sistema educacional global mais equitativo.

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