Direita europeia e algumas especulações sobre a eleição americana de 2024
De um modo geral, analistas acreditam que uma série de eventos recentes, classificados como uma “guinada à direita na Europa”, pode trazer problemas para a campanha de Biden no final do ano. Isso porque há uma certa conexão entre a extrema-direita americana e europeia (ou forças populistas de direita), que se fortalecem mutuamente. Ambas veneram o modelo político do “homem forte” e são eficazes em capitalizar temas como a imigração em massa, a globalização e a inflação persistente, criticando ferozmente os atuais governantes. Se a direita europeia se consolidar, os EUA podem seguir o mesmo caminho, o que seria desastroso para Biden.
Além disso, as recentes pesquisas em estados decisivos dos EUA mostram que Trump está ganhando terreno, fazendo alguns observadores acreditarem que sua vitória está praticamente garantida.
No entanto, pode haver outra lógica em jogo, conhecida como a “conexão anglo-americana”. Em resumo, a trajetória da política interna americana pode se assemelhar mais à do Reino Unido. Com a provável queda do governo conservador de Sunak e a ascensão do Partido Trabalhista (um evento considerado altamente provável), a política americana pode espelhar essa tendência, assim como o movimento Brexit refletiu a ascensão de Trump. Mesmo assim, dada a atual polarização política extrema nos EUA, a vitória de Biden sobre Trump pode ser por uma margem muito pequena, em contraste com a vitória expressiva esperada do Partido Trabalhista no Reino Unido.
Steven Levitsky, cientista político de Harvard, apontou corretamente que Trump é muito mais autoritário do que os movimentos populistas de direita europeus. Nenhum desses movimentos europeus se atreveu a negar abertamente os resultados das eleições quando perderam, ao contrário de Trump. Isso levanta uma questão: esses aliados europeus, que não são tão extremistas quanto Trump, conseguirão realmente criar uma onda que o leve de volta à Casa Branca? Talvez não.
Além disso, a chamada “guinada à direita na Europa” pode não ser uma mudança estrutural maciça para a extrema-direita. Por exemplo, o Partido Popular Europeu, liderado por Ursula von der Leyen, ganhou 14 cadeiras nas recentes eleições do Parlamento Europeu, fortalecendo ainda mais sua posição. Talvez por isso, as notícias relatem que “os assessores de Biden estão atentos, mas não preocupados” com a vitória da extrema-direita nas eleições europeias.
Em suma, após o verão, quando os resultados eleitorais europeus estiverem mais claros, teremos uma melhor noção do cenário da eleição americana no final do ano.