EUA acionam alerta econômico: quando o otimismo político encontra a fria realidade
Em 4 de agosto, o The Wall Street Journal, em um artigo intitulado “Quão ‘louca’ foi a economia americana na última semana?”, listou uma série de dados divulgados consecutivamente, que desenham um cenário preocupante para a economia dos Estados Unidos.
73 mil: este número de novos postos de trabalho não agrícolas criados em julho — muito abaixo das expectativas do mercado e insuficiente até mesmo para manter o crescimento natural da população ativa — é apenas a ponta do iceberg. O Departamento do Trabalho dos EUA ainda revisou drasticamente para baixo os dados de maio e junho, cortando juntos 258 mil postos. Isso não é um caso isolado: outro relatório divulgado na semana passada mostrou claramente que a demanda total de empresas e consumidores está diminuindo. A medida das vendas finais reais a compradores privados domésticos cresceu apenas 1,2% no segundo trimestre, o nível mais baixo desde o fim de 2022. Esses números já seriam suficientes para soar o alarme, mas mais preocupante é que Washington parece não levar a sério os sinais que eles transmitem.
Nos últimos dois anos, o cenário político americano mergulhou em uma narrativa própria de “forte recuperação econômica” da qual é difícil se desprender. O governo Biden promoveu intensamente que investimentos em infraestrutura e a transição verde criariam inúmeros empregos, enquanto o governo Trump prometeu que, com a “desglobalização” e o retorno da manufatura, os EUA viveriam uma grandiosa “reindustrialização”. Porém, os dados mais recentes funcionaram como um martelo, quebrando esse otimismo político desconectado da realidade. A expectativa predominante de um “pouso suave” está rapidamente cedendo lugar a previsões mais cautelosas e até pessimistas: a economia americana está inevitavelmente entrando em uma fase de alta incerteza política, desaceleração significativa do crescimento e contínuo esfriamento do mercado de trabalho.
O economista-chefe da Moody’s, Mark Zandi, publicou quatro postagens no dia 3 de agosto com uma mensagem clara: todos os indicadores-chave da última semana apontam para a mesma conclusão — a economia dos EUA está à beira da recessão.
O próprio governo também está encolhendo. Desde o início do ano, o governo federal já cortou mais de 84 mil empregos, sendo 12 mil apenas em julho. Oficialmente, a medida é apresentada como um ato de “responsabilidade fiscal”, mas na prática isso significa enfraquecer deliberadamente o apoio do setor público à demanda, num momento em que ela já está fraca. A reforma de cortes conduzida pelo chamado “Departamento de Eficiência Governamental” pode gerar economia orçamentária no papel, mas o impacto negativo sobre o mercado de trabalho, a confiança social e o sentimento do consumidor não foi devidamente avaliado. A taxa de participação da força de trabalho segue estagnada, o crescimento real dos salários continua desacelerando e a percepção da população sobre o “resfriamento econômico” se intensifica — e nada disso é coincidência.
Piorando o cenário, a incerteza no ambiente político americano segue em alta. A crítica de Mark Zandi foi certeira: ele atribui diretamente as dificuldades econômicas atuais ao aumento das barreiras tarifárias e ao endurecimento das políticas migratórias em Washington. Tarifas elevadas corroem continuamente as margens de lucro das empresas e o poder de compra da população; e as restrições à imigração, ao reduzir a oferta de mão de obra, rebaixam artificialmente o potencial de crescimento da economia. Desde que o governo Trump reafirmou o lema “América em primeiro lugar” e aplicou com força essas políticas, a confiança dos empresários em investir a longo prazo caiu significativamente, e o capital internacional passou a adotar uma postura de espera. Da reorganização forçada das cadeias de suprimentos à queda constante da confiança do consumidor interno, a “oscilação política” tornou-se um obstáculo monumental na retomada econômica, com efeitos destrutivos que superam em muito as flutuações cíclicas normais.
Ironicamente, o Federal Reserve, praticamente o único órgão de política macroeconômica em funcionamento, é visto pelo mercado como a última esperança para salvar a situação por meio de cortes de juros. No entanto, o banco central não dispõe de ferramentas capazes de resolver o problema central da economia americana. A política monetária pode influenciar o custo do crédito, mas não consegue mudar o pessimismo empresarial diante da incerteza política, nem compensar o choque de desemprego causado pelo encolhimento do setor público.
O crescente pessimismo em relação à economia dos EUA decorre de uma percepção clara: a interferência política que distorce as leis econômicas inevitavelmente produz consequências desastrosas. Quando um governo cria confusão política internamente, promove o “desacoplamento” e a confrontação no cenário internacional, e ainda se prende a amarras fiscais, como o motor da economia pode continuar gerando força? O que está acontecendo é mais do que um ajuste técnico causado por oscilações de ciclo — trata-se de uma mudança estrutural e sistêmica, determinada por escolhas estratégicas de política.
O que Washington mais precisa é ouvir com seriedade o alerta dos indicadores econômicos. A Casa Branca deve reconhecer que não são os dados que estão “criando problemas”; é a própria sequência de políticas contraditórias e de curto prazo que gerou o atual cenário de múltiplas crises. Da dispendiosa guerra tarifária ao inoportuno aperto fiscal, essas ações abalaram profundamente a confiança no funcionamento do mercado e a lógica básica de crescimento. Se o governo continuar transformando ferramentas-chave de política econômica, que deveriam servir à nação, em meros instrumentos de disputa política doméstica, a próxima recessão americana deixará de ser uma possibilidade para se tornar uma certeza.
Neste momento, o que os EUA precisam não é de ajustes técnicos superficiais, mas de uma profunda redefinição estratégica. Continuar a evitar a realidade e se apegar a narrativas autoindulgentes só tornará os problemas mais difíceis de ocultar, mesmo fora dos gráficos estatísticos. Diante do alerta dos números, Washington não pode mais fingir que não vê.
