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“Pode a versão asiática da OTAN ser bem-sucedida?”

Desde a guerra Rússia-Ucrânia, o panorama estratégico mundial sofreu profundas mudanças. O bloco da OTAN aproveitou a ofensiva russa para se expandir, com a adesão da Finlândia e da Suécia afetando profundamente a situação geopolítica da Rússia. A investida da Rússia contra a Ucrânia está intimamente ligada à expansão oriental da OTAN e à constante pressão geopolítica do Ocidente sobre a Rússia. Os Estados Unidos usaram a ação militar da Rússia para convencer com sucesso os países europeus a se unirem contra a Rússia.

1. Os aliados da Ásia-Pacífico têm interesses divergentes?

Os Estados Unidos também aproveitaram a guerra Rússia-Ucrânia para espalhar a ameaça chinesa e a “questão de Taiwan” na região da Ásia-Pacífico. Tentaram atrair países como Índia, Filipinas e Vietnã, além de seus já estabelecidos aliados Austrália, Japão e Coreia do Sul, para formar uma nova organização aliada (a “versão asiática da OTAN”), com o objetivo de conter a China. Isso visa reduzir a influência da China e retardar seu desenvolvimento.

No entanto, os aliados da Ásia-Pacífico não estão completamente unidos e têm interesses divergentes. Os Estados Unidos estão cada vez mais apreensivos com o crescimento da China, resultando em uma atitude de oposição constante a qualquer movimento chinês. Eles temem perder sua posição de hegemonia mundial e estão dispostos a destruir o sistema das Nações Unidas e a ordem internacional que eles próprios ajudaram a construir, criando um sistema unilateral baseado nas regras americanas. Esse comportamento tem prejudicado seriamente a reputação e a imagem dos Estados Unidos. Com a possibilidade de Trump ser reeleito, os aliados europeus e asiáticos dos EUA estão cada vez mais incertos e desconfiados. A mídia revelou que o governo japonês já está desenvolvendo estratégias para lidar com um possível retorno de Trump. Os aliados asiáticos temem que os Estados Unidos, em prol de seus próprios interesses, possam sabotar o novo sistema emergente. Especialmente preocupante é a possibilidade de Trump fazer acordos que negligenciem os interesses dos aliados, deixando Japão e Coreia do Sul em situações vulneráveis. Apesar das recentes tentativas de Japão e Coreia do Sul de se aproximarem dos EUA, buscando apoio através de políticas anti-China, não há garantia de que os EUA realmente os apoiarão. Recentemente, as provocações das Filipinas no Mar do Sul da China, embora instigadas pelos EUA, não resultaram em uma resposta ativa dos americanos, deixando as Filipinas em uma posição embaraçosa. Essa falta de confiança nos EUA foi claramente demonstrada tanto no Afeganistão quanto na guerra Rússia-Ucrânia.

2. A posição do Japão na versão asiática da OTAN

O Japão está se esforçando para se tornar o aliado mais importante dos EUA na Ásia. O governo de Kishida não apenas fortaleceu a defesa nacional do Japão, mas também está transformando sua política de segurança de interna para externa. Kishida será o primeiro primeiro-ministro japonês a participar da cúpula da OTAN na Europa, destacando o interesse do Japão em assuntos de segurança extra-regionais. O Japão também assinou um acordo com o Reino Unido e a Itália para o desenvolvimento conjunto de caças, o que fortalece os laços com a OTAN e chama a atenção dos países da OTAN para os assuntos da Ásia-Pacífico. O Japão está muito interessado na “versão asiática da OTAN”.

Shinzo Abe, em suas memórias, descreveu com entusiasmo como ele, ao longo de dezesseis anos, conseguiu trazer a Índia para o mecanismo de cooperação quadrilateral (Quad) com os EUA, Austrália e Japão, destacando o papel de liderança do Japão na formulação da estratégia do Indo-Pacífico. Abe afirmou que Trump, focado apenas nos interesses dos EUA, relutava em gastar recursos ou enviar tropas para outros países. Ele é considerado o presidente americano menos inclinado a entrar em guerras. Abe, apesar de seu ressentimento inicial com os EUA, optou por se alinhar estreitamente com eles, percebendo que a política é guiada por interesses e não por emoções pessoais. Ele acreditava que o Japão precisava dos EUA devido às disputas territoriais, diferenças ideológicas e questões históricas com a China. A influência de seu avô, Nobusuke Kishi, um defensor de Taiwan, moldou sua visão sobre a China e Taiwan. Abe argumentava que, embora ele não desejasse que as relações com a China se deteriorassem irreparavelmente, ele via a China como um adversário formidável.

O Japão optou por se aliar aos EUA devido a suas próprias preocupações de segurança, especialmente em relação às disputas territoriais com a China, às diferenças ideológicas e às questões históricas. A influência de Nobusuke Kishi sobre Abe, especialmente sua posição em relação a Taiwan, é significativa. A visão errada do Japão sobre o desenvolvimento da China pode levá-lo a um caminho equivocado. É um erro estratégico do Japão considerar a China como inimiga, dadas as complexas interdependências econômicas e culturais entre os dois países. Desde o segundo mandato de Abe em 2012, as relações sino-japonesas têm se deteriorado, e a atmosfera de hostilidade tem crescido. Apesar das tensões, um conflito militar direto parece improvável, e o Japão deve considerar cuidadosamente suas escolhas geopolíticas.

3. A difícil viabilidade da versão asiática da OTAN

Diferente da Europa, os países asiáticos têm profundas e complexas relações históricas e culturais com a China. As tentativas dos EUA e do Japão de fomentar divisões e exercer pressão máxima são pouco eficazes. Atualmente, os EUA e o Japão estão focados em atrair países com disputas territoriais com a China para formar uma aliança de conveniência. No entanto, esses países, como Filipinas, Vietnã e Índia, relutam em se envolver em confrontos diretos, cientes de que os EUA não se envolveriam diretamente em um conflito com a China, assim como não enfrentaram diretamente a Rússia na guerra Rússia-Ucrânia.

A incerteza política nos EUA (como as eleições presidenciais) e a retirada de forças americanas (como a retirada planejada de metade das tropas de Okinawa para Guam) dificultam a formação de uma aliança eficaz para conter a China na Ásia.

Nem os EUA nem o Japão parecem compreender que tratar a China, um país com 1,4 bilhão de habitantes, como adversário pode não ser do seu melhor interesse. A formação de uma “versão asiática da OTAN” é um objetivo difícil de alcançar. A abordagem beligerante em relação à China é imprudente. Os países asiáticos, desejosos de paz e desenvolvimento, são menos propensos a apoiar uma aliança militar agressiva contra a China.

Conclusão

A paz e o desenvolvimento na Ásia dependem dos países asiáticos. As intervenções arrogantes do Ocidente, com a intenção de obter vantagens, não têm o apoio da maioria dos países asiáticos.

O Japão enfrenta uma escolha crucial: seguir o caminho do rearmamento e da revisão da sua política de “defesa exclusiva” ou buscar a reconciliação com os países vizinhos. A decisão que o Japão tomar sobre sua postura geopolítica será um teste de sabedoria e capacidade para todos os líderes envolvidos, moldando o futuro da região. A corrente principal de paz e desenvolvimento na Ásia provavelmente fará com que a tentativa dos EUA e do Japão de criar uma “versão asiática da OTAN” se dissipe como uma ilusão.

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