OS IMORTAIS FERNANDA MONTENEGRO E GILBERTO GIL

Diversidade na Academia Brasileira de Letras

A Academia Brasileira de Letras (ABL) foi fundada em 20 de julho de 1897 e é sediada no Rio de Janeiro. Seu objetivo é o cultivo da língua e da literatura nacional. 

Foto: Alexandre Macieira Riotur

Compõe-se a ABL de 40 membros efetivos e perpétuos, e 20 sócios correspondentes estrangeiros. E quando algum membro efetivo morre, vira notícia pela abertura de uma cadeira para aspirantes a "imortais".

Foto: Divulgação

Clarice Lispector uma vez afirmou que "apesar do grande respeito" pela Academia, "jamais aceitaria entrar nela". "A gente dá um espirro, já pensam que estamos morrendo e querem a nossa vaga".

No fim do século XIX, já houveram manifestações a favor da criação de uma academia literária nacional, nos moldes da Academia Francesa. 

Lúcio de Mendonça teve, então, a iniciativa de propor uma Academia de Letras, sob a égide do Estado, que, à última hora, se escusaria. Constituiu-se então a ABL como instituição privada.

Machado de Assis foi o 1º presidente da ABL, sucedido por Rui Barbosa. Machado era chamado de mestre pelos seus pares.

Os candidatos interessados devem enviar uma correspondência ao presidente da ABL até 30 dais após a Sessão da Saudade, em homenagem ao membro falecido. Para ser eleito, o postulante deve ter metade dos votos mais um.

De acordo com o estatuto da ABL, "só podem ser membros efetivos da Academia os brasileiros que tenham, em qualquer dos gêneros de literatura, publicado obras de reconhecido mérito ou, fora desses gêneros, livro de valor literário".

Nesse quesito de “fora desses gêneros” se encaixam Fernanda Montenegro e Gilberto Gil e outros não-autores reconhecidos. Embora Fernanda e Gil tenham obras publicadas. A ideia é valorizar outras expressões culturais, no molde da Academia francesa, lógica já ensaiada no século anterior por Joaquim Nabuco.

Além de sua enorme discografia, com cerca de 60 álbuns, Gilberto Gil já foi coautor de alguns livros, como Gilberto bem perto (Nova Fronteira, 2013), com Regina Zappa, e Disposições Amoráveis (Iyá Omin, 2016), com Ana de Oliveira.

Gilberto Gil é atualmente o 2º negro a ocupar uma cadeira entre os membros atuais da Academia Brasileira de Letras.

Foto: Ricardo Stuckert

Fernanda Montenegro lançou sua autobiografia “Prólogo, Ato, Epílogo”. E Marco Lucchesi, presidente da ABL, ressalta que Fernanda “é um dos grandes ícones da cultura brasileira. Intelectual engajada e sensível leitora do real.”.

Foto: Rovena Rosa Ag Brasil

Porém, a ABL nasce conservadora restringindo acesso das mulheres à Academia. Amelia Beviláqua (1930) e Dinah Silveira de Queiroz (dec. 50), foram impedidas de concorrer a uma das cadeiras.

Embora fosse uma das fundadoras, a famosa Júlia Lopes de Almeida, escritora de best-sellers, foi excluída dos documentos de fundação e impedida de ocupar uma cadeira de membro da ABL por ser mulher.

A recusa na candidatura de Amelia Beviláqua levou a criação de uma campanha pelo acesso das mulheres às cadeiras da Academia Brasileira de Letras, na revista política MALHO.

Rachel de Queiroz foi a primeira mulher eleita para uma da cadeiras da Academia Brasileira de letras em 1977. Dinah Silveira de Queiroz conseguiu sua cadeira em 1981, 1 ano antes de sua morte.

Fernanda Montenegro é a 9ª mulher a ocupar uma cadeira na Academia Brasileira de Letras.

Foto: Rovena Rosa Ag Brasil

É salutar para a democracia ver instituições centenárias se abrindo a diversidade.

Que a Academia Brasileira de Letras faça novos avanços na divulgação de nossa rica cultura.

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