Belo Monte e os artistas

Formou-se uma grande polêmica, desde ontem, a partir de um vídeo publicado no youtube com depoimentos de artistas globais declarando-se contrários à construção da usina hidroelétrica de Belo Monte. Sobre isso, gostaria apenas de alertar aos defensores de Belo Monte (entre os quais eu me incluo) que participem da discussão com mais cuidado. O insulto aos artistas me pareceu excessivo e desnecessário. Eles podem não entender nada de energia, mas a sua participação no vídeo foi obviamente desinteressada e altruísta. Ali estavam grandes artistas da televisão brasileira. De qualquer forma, nem vem ao caso discutir o talento de cada um. São cidadãos brasileiros exercendo o sagrado e democrático direito de se expressar.

Também prefiro não comentar a cena realmente ridícula da Maitê Proença tirando o sutiã. Há uma outra cena, com um ator se insinuando sensualmente. Achei de um mau gosto lamentável usar esse tipo de ferramenta midiática para influenciar um debate que é puramente técnico e, em menor escala, político.

Agora, analisando os argumentos expostos pelos artistas, gostaria de discutir os seguintes pontos:

  • Em determinado momento do vídeo, os artistas enchem a boca para falar no custo da obra: R$ 30 bilhões. É um momento bastante desagradável, porque eles passam a ideia de que se trata simplesmente de um disperdício, que o governo enfiou a mão em seus bolsos e tirou de lá a grana, quando na verdade é um investimento com vistas justamente a desenvolver o Norte do Brasil, que ainda é deficitário em energia. Ou seja, não é gasto, é investimento, é um dinheiro que vai voltar numa escala muito superior ao gasto realizado.
  • Em outra parte, eles falam que o Brasil deveria investir em energias “limpas” como a eólica e a solar. Eu sou fã dessas fontes alternativas, e também acho que o governo deveria ampliar os investimentos nessa área. No caso da eólica, há informações de que está havendo uma grande expansão do parque eólico no país. Entretanto, a energia eólica não oferece, nem de perto, o mesmo nível de estabilidade e segurança da hidroenergia. Simplesmente porque é impossível controlar a intensidade dos ventos. O clima no planeta (aí incluindo seu regime de ventos) é naturalmente instável. E tanto a energia eólica e solar ainda não possuem tecnologia que as permitam ser um substituto à altura da hidroenergia quando falamos em larga escala.
Concluindo, eu acho que o Brasil tem um enorme potencial no campo das energias limpas, como as eólicas e solar, e concordo que deveria haver maior investimento nessa área. Mas é irreal achar que essas alternativas substituem a necessidade de uma fonte energética estável, segura e barata, como a hidroenergia, sobretudo na escala de que o Brasil precisa para atender o aumento da demanda esperado para as próximas décadas.
Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
Related Post

Privacidade e cookies: Este site utiliza cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com seu uso.