Lupi no paredão

Ninguém ousa apostar qual será o destino de Lupi, mas o consenso entre os analistas políticos é que tudo vai depender de seu depoimento hoje pela manhã no Senado (assista na TV Senado). O Jornal Nacional desta quarta-feira disparou algumas balas certeiras em seu avantajado tórax: entrevistou o presidente regional do PDT do Maranhão, que afirmou não ter encontrado recibo de pagamento do jatinho; e desmontou mais uma vez a versão do ministro de que não teria usado um King Air, mas um Sêneca, em suas viagens pelo Maranhão. O JN exibiu a foto que mostra o ministro saindo de um King Air e o vídeo, publicado pelo site da Veja, onde se vê Adair logo atrás do ministro.

A incompetência da assessoria do ministro vai entrar para os anais da história política. Ao negar o uso do King Air, trazendo fotos de um Sêneca, num tom de autoconfiança e desafio, todos pensaram que o blog do Ministério do Trabalho havia emplacado um belo gol em favor do ministro. Soube-se, pouco depois, que havia sido um gol contra. Havia fotos públicas na internet, e não só uma mas várias, do ministro saindo de um King Air do mesmo modelo descrito pela Veja.

Ou seja, dessa vez, quando governo e forças partidárias pareciam unidos em defesa do ministro e decididos a resistir aos “ataques da mídia”, o ministro trai a confiança de todos através de um erro bobo. Afinal, qual a diferença entre voar num King Air ou Sêneca? Se o partido pagou a viagem, qual o problema em viajar na companhia de um dono de ongs?

E o blog do Trabalho, que entrou em ação há alguns dias com tanta pompa, prometendo fazer e acontecer, limitou-se a apagar a postagem com informações desmentidas e não publicou nenhuma explicação nova sobre o caso. Ou seja, se o próprio ministro não sabe se defender, fica difícil pedir que outros o façam.

Folha e Estadão (no alto do post) trazem manchetes contundentes em seu objetivo de mostrar Lupi sem apoio em seu próprio partido. De fato, os repórteres conseguiram arrancar, de lideranças pedetistas, declarações de perigosa indiferença ou mesmo hostis em relação ao ministro. O presidente em exercício do partido, André Figueiredo, aplicou uma simpática facada nas costas de Lupi, ao afirmar que seria melhor que ele se afastasse do cargo.

O Estadão prestigiou Lupi com um editorial direto e franco, cujo título diz tudo: “Já passou da hora”.

O senador Cristovam Buarque, também do PDT, vai além de pedir o afastamento de Lupi e assinar uma CPI da Corrupção; agora diz que o partido não deve sequer participar do governo. Quem tem aliados como Buarque, não precisa de oposição… Confira nota publicada no Panorama Político, no Globo de hoje:

É normal em qualquer partido que existam divergências internas, e a mídia soube explorar isso com inteligência. Ao que parece, Lupi exerce uma liderança do tipo autoritária no PDT, nomeando interventores nos estados e impedindo uma renovação democrática das bases regionais. Criou, com isso, muitos adversários internos, a começar pelo jovem deputado Brizola Neto, um dos parlamentares mais ligados à presidente Dilma, tanto que partiu dela a articulação para trazê-lo de volta à Câmara. Brizola perdeu a eleição, mas assumiu o cargo como suplente do deputado Sérgio Zveiter, que por sua vez assumiu o cargo de Secretário do Trabalho e Renda no governo Sérgio Cabral. Detalhe curioso: Zveiter deixou o PDT há alguns meses e migrou para o PSD, que é chefiado no Rio pelo deputado Indio da Costa.

Entretanto, mesmo com essas divergências, o partido havia se unido em defesa de Lupi, por entender, acertadamente, que não fazê-lo naquela hora corresponderia a uma vil deslealdade. O erro crasso – o termo certo seria idiota – do ministro (de negar que tenha voado num King Air), porém, num momento em que não podia cometer nenhum erro, revoltou seus próprios aliados. Brizola Neto reagiu imediatamente com um post lacônico e irritado. Afinal, ninguém esperava que a assessoria do ministro fosse tão incompetente, e num momento tão crucial. Nem eu, admito. Quando o blog do Trabalho divulgou fotos de um Sêneca e afirmou que tinha sido aquele – e não um King Air – o avião que o ministro havia usado em 2009, durante suas viagens pelo Maranhão, eu pensei: vejam só, a Veja quebrou a cara. Pois quem quebrou a cara fui eu, que cheguei até a caçoar da falta de repercussão da matéria.

Não é sem razão, portanto, que todos agora se voltem, irritados, contra Lupi, pedindo explicações, desculpas, justificativas.

Ele terá essa chance hoje. Afinal, ele mesmo nunca mencionou modelo de avião. É mesmo possível que Lupi sequer se lembre daquele em que voou. Mas terá que ser muito mais humilde para explicar a contradição em sua nota.

Na verdade não é um erro tão terrível assim errar o modelo do avião. Terrível é o momento em que o erro se dá. O ministro vinha, até então conseguindo se blindar razoavelmente bem contra os ataques da mídia. Até agora não entendi porque ninguém deu bola para a reportagem-bomba da Istoé, que traz um denúncia bastante grave contra o ministério.

A melhor definição para o futuro de Lupi, no curto prazo, foi dita por Heraldo Pereira, comentarista do Jornal da Globo,  ontem à noite: “não sei”.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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