Bahia: Refinaria privatizada provoca desabastecimento de Gás de Cozinha

Aurora vermelha na América do Sul

Por Miguel do Rosário

01 de maio de 2012 : 16h49

(William Turner, The Fighting-Temeraire Tugged to Her Last Berth to be Broken).

Hoje é um bom dia para tirar a velha camisa do che da gaveta, comprar um charuto cubano e cantarolar Bella Ciao. A América do Sul espreguiçou-se com mais liberdade, neste primeiro de maio, exibindo músculos salientes e olhos ferozes. Depois de Cristina nacionalizar a petroleira YPF, privatizada na gestão neo-liberal (quase escrevi neo-criminal) de Carlos Menem, agora é a vez de Evo Morales nacionalizar a principal companhia de energia elétrica do país.  Na Venezuela, Chávez anunciou uma nova legislação trabalhista, mais próxima dos padrões da social-democracia. E no Brasil, a presidenta Dilma fez dois movimentos simultâneos profundamente simbólicos em direção à esquerda:

  1. Nomeou Brizola Neto, um jovem de ideias fortes sobre soberania e trabalhismo, um legítimo herdeiro intelectual de seu avô, o inesquecível Brizola, para o Ministério do Trabalho. Neto não é apenas um idealista. Tem sido um dos combatentes mais aguerridos e inteligentes na sangrenta guerra ideológica na qual os grandes meios de comunicação se alinham, sistematicamente, ao conservadorismo, contra a blogosfera de esquerda, da qual Neto faz parte com seu blog Tijolaço,
  2. Usou seu pronunciamento em cadeia nacional via TV e rádio, em homenagem ao Dia do Trabalho, para fazer uma dura crítica às instituições financeiras privadas, que vem drenando recursos do país para seus próprios bolsos, através da cobrança de juros e taxas extorsivas, com isso tornando-se entraves ao desenvolvimento.

A mídia brasileira, naturalmente, contra-atacou, mas agora vemos para que serve um bom capital político e a famigerada correlação de forças. As críticas à Dilma na mídia parecem tiros de balas de festim.

As capas da Folha e Estadão refletem a irritação das elites financeiras.

Na verdade, Dilma fez uma crítica justa aos bancos, de um jeito que só uma presidente trabalhista poderia fazer. A mídia nunca poderia fazê-lo, porque os bancos são seus grandes anunciantes. Um presidente não-trabalhista também nunca o faria, porque seria duplamente dependente dos bancos: através da contribuição financeira à sua campanhas, e através da mídia favorável, que por sua vez é bancada pelos mesmos.

Por outro lado, a presidente já construiu, em torno de si, um simbolismo bastante claro de que não é nenhuma voluntarista alucinada, que vai intervir na economia qual um Mao-Tse-Tung de saias, extemporâneo. Dilma quer um capitalismo moderno, humano, com instituições financeiras cobrando taxas em linha com as praticados lá fora.  Não é nenhum delírio revolucionário oferecer às empresas e indivíduos brasileiros taxas de juros um pouco mais próximas do padrão internacional.  Uma social-democracia ao estilo primeiro-mundo, um sonho que milhões de europeus, americanos e japoneses puderam experimentar por muitas décadas, e lhes permitiu alcançar níveis invejáveis de desenvolvimento político, cultural, econômico e social. Se eles puderam, nós também poderemos, ainda mais porque temos a fortuna de sermos uma das nações mais ricas do planeta em recursos naturais, terras e clima.

Ainda nos jornais de hoje, descobri uma nota que mostra uma presidenta cuja maior preocupação, além do desenvolvimento econômico, ainda é a superação da nossa mazela principal: a miséria.

(Fonte: Coluna da Sonia Racy, Estadão)

*

Dentre os colunistas, vale a pena comentar rapidamente as manifestações de Cantanhede e Dora Kramer. A primeira fez um ataque bem vulgar a Brizola Neto.

A pinimba de Cantanhede, naturalmente, é com o blog Tijolaço, uma iniciativa ousada do pedetista, num ambiente partidário em que ainda predomina uma grande covardia na relação com a mídia. Vejamos o que ela diz:

(…) o blog “Tijolaço”, em que se ocupa de xingar todos os críticos do governo, sobretudo do antigo governo, e alimentar a ira contra a imprensa.

Essa é de matar de rir. Cantanhede distorceu completamente o trabalho sofisticado que Brizola Neto e Fernando Brito fazem em seu blog, trazendo dados, argumentos, e ideias ao debate político. As contradições do cérebro midiático são incríveis: numa hora falam em decadência dos partidos, porque não teriam mais ideologia; noutra criticam os políticos que… tem ideologias. Quanto à alimentar a ira contra a imprensa, eu acho que a colunista fez um elogio ao Tijolaço o qual, embora justo, é um pouco exagerado. A ira contra os desmandos da imprensa nunca precisou do Tijolaço para subsistir, tanto é que existia antes e existirá depois da existência do blog.

Dora Kramer, em sua coluna de hoje, mostra-se perplexa com Demóstenes Torres. Pelo jeito, só agora caiu a ficha na sua cachola: o senador não era um coitadinho bipolar, bonzinho de dia e malvado à noite. Ele trabalhava 24 por dia para Cachoeira, praticando freneticamente tráfico de influência junto a juízes, ministros, governadores, prefeitos, para beneficiar um esquema criminoso. Kramer pergunta-se como este personagem, que (agora sabe-se) operava com enorme desenvoltura, pode passar despercebido da opinião pública e de seus pares? Ora, pois pois, como diria o Seu Manuel, a resposta é fácil. A imprensa o protegia. A revista Veja, por exemplo, sabia que Demóstenes era mancomunado com Cachoeira, e inclusive ajudou a dupla a fazer chantagens contra seus adversários, via reportagens e denúncias amparadas em escutas ilegais.

A blindagem que a mídia vem fazendo da atuação da Veja no esquema Cachoeira configura-se, ela também, uma agressão à ética do jornalismo.

Bem, isso não é novidade.

Feliz Dia do Trabalho para todos! Deixo-os com esse vídeo da linda italiana Milva cantando Bella Ciao.

Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

Apoie O Cafezinho

Crowdfunding

Ajude o Cafezinho a continuar forte e independente, faça uma assinatura! Você pode contribuir mensalmente ou fazer uma doação de qualquer valor.

Veja como nos apoiar »

15 comentários

Os comentários aqui postados são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do site O CAFEZINHO. Todos as mensagens são moderadas. Não serão aceitos comentários com ofensas, com links externos ao site, e em letras maiúsculas. Em casos de ofensas pessoais, preconceituosas, ou que incitem o ódio e a violência, denuncie.

Escrever comentário »

Carlos

23 de abril de 2018 às 01h06

Parece que o jogo virou.

Responder

Elson

02 de maio de 2012 às 06h47

Com estas manchetes os jornalões ficam mal na fita com seus leitores , pois eles se auto proclamam gardiões da ética e dos direitos do povo , assim passam a impressão que a presidenta usou seu poder para prejudicar meia dúzia de sanguessugas e beneficiar milhões indevidamente .
Más o mais patético é ver os calunistas de plantam tentando tapar o sol com a peneira e livrar a veja de sentar no banco dos réus com Cachoeira e Demóstenes .
O pig fará de tudo para salvar a pele do Bob Civita e do PJ , se possível transformará o Perilo em boi de piranha .

Responder

    Elson

    02 de maio de 2012 às 17h17

    Más o mais patético é ver os calunistas de plantam tentando tapar o sol com a peneira e livrar a veja de sentar no banco dos réus com Cachoeira e Demóstenes.
    Neste parágrafo peço que se corrija a palavra "plantam" (do verbo plantar ) , por plantão . Obrigado .

    Responder

alex

02 de maio de 2012 às 01h11

Miguel… estava sem tempo estes dias para ler tudo que saiu deste megaEscândalo CachoDemo…
Não sabia que o o jornalista Claudio Humberto era um mensaleiro de Cachoeira!!!
O periodista recebia uma grana do esquema ..
Que bandido sô … Ele levava a sério o lema "bate-levou"
Ele batia e levava uma bela grana …
E nóis aqui suando pra pagar o condomínio a escola do filhote.. o convênio
E a "imprensona véia-de-guerra e de pensamento" mamando no equema do Velho Cachoeira
Que triste sô …

Responder

Eloy

01 de maio de 2012 às 20h33

E mais uma reportagem falando em tráfico de influência de maneira errônea…

Responder

Luiz M. de Barros

01 de maio de 2012 às 18h01

Pag 161 do livro “Universo neoliberal em desencanto” quero adaptar a aplicação aqui na no ponto central da Cachoeira.
Tem uma teoria para entender e fazer uma aproximação em fenômenos complicados “Chama-se aproximações lineares longe de pontos singulares para curvas diferenciáveis” eis o nome técnico. Em casos práticos, surgem nas seguintes circunstancias: temos algum processo cuja representação é UMA NUVEM DE PONTOS. Você olha aquilo e pensa, bom, vamos aproximar isso por uma RETA, uma regra de três. Pega uma régua e tasca, no Meio da nuvem de pontos, uma linha reta. Pronto!
Acessando a blogsosfera os pontos são entre muitos: Demóstenes, Cachoeira, Perillo, Agnelo, Dada, Gilmar Mendes, PG da republica, PIG-Veja, Folha, Estado, Globo, RBS, mensalão, Brizola Neto ministro, juros bancários, cotas raciais, Protogenes, Brasil247, blogs sujos, Policarpo, Serra, Haddad, PMDB, Collor, Merval, popularidade de Dilma, Christina nacionaliza YPF, Delta, Bolivia e por ai vai interminável.

A reta aponta para onde então? Com que intensidade?
Para dois pontos não descritos: Financiamento publico de campanha e ley de los medios com uma força incontrolavel!!!!

Responder

Ronaldo Braga

01 de maio de 2012 às 17h38

Ô Miguel, cadê a longa análise (que iria para "o ralo") sobre o significado político da escolha do Brizola Neto para o Ministério do Trabalho?

Responder

Guto

01 de maio de 2012 às 17h04

E a Bolívia enfiou uns soldados na fronteira com o Acre para expulsar brasileiros. O Brasil é tão generoso e eles ficam nessa truculência, o Lula deu os investimentos da Petrobras pra Bolívia! Eles descobriram uma reserva de minério raro chamaram várias empresas extrangeiras para explorá-lo mas excluíram a Vale!

Essa estratégia não tá fucionando, acho que vale a pena ser mais firme, precisamos defender o interesse do país. Que tipo de parceiro quer só vantagens e não oferece nada em troca?

Responder

    Miguel do Rosário

    01 de maio de 2012 às 17h12

    Tem que ver isso, mas o Brasil tem que resolver na base da diplomacia.

    Responder

      Elson

      02 de maio de 2012 às 18h24

      Caro Miguel .
      Lembra-se do Chico Buarque ?
      "Nós não falamos grosso com Bolívia e Paraguai e fino com Washington .
      Esta é a tônica de um governo soberano , que trata de igual para igual . Se estivéssemos sob a égide de um governo demotucano , com certeza já teríamos invadido a Venezuela e a Bolivia , falando grosso e dizendo sim Senhor , para o Tio Sam .

      Responder

    Leonardo

    01 de maio de 2012 às 19h03

    Até bem pouco tempo atrás, a Vale tinha um presidente (o Roger, como dizem certas colunistas e comentaristas por aí – deve ser aquele jogador que passou pelo Fluminense e Grêmio, namorido da Débora Secco), que seguia a cartilhazinha (sim, porque economia de 1ª série) dos Chicago Boys (não gosto de chamar de neoliberal) e exportava pedra (com uns navios maravilhosos que ele mandou comprar sem consultar os armadores – no duplo sentido – que controlam o comércio marítimo mundial). Por essas e outras a má vontade do Evo Morales com a Vale pra mim já é plenamente justificável. Ele deve fazer o que é melhor pro país dele, assim como temos de fazer a mesma coisa com o nosso. Fico feliz da Bolívia conseguir mais uma riqueza em que se apoiar, aquele é um país de batalhadores e quem sabe não consiga repatriar (dando emprego decente) alguns dos escravos de sweatshops de grandes magazines que estão aqui na pátria amada?

    Mudando de assunto a Record botou abaixo a porta que separava Chuck Waterfall e a revista See it, quebrando o silêncio da grande mídia.

    Responder

Deixe um comentário