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Folha tenta vender receituário neoliberal

O texto é um amontoado incongruente de propostas contraditórias, absurdas, um conservadorismo idiota e nefelibata.

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O editorial da Folha nesta quarta-feira, naturalmente, foi parar no site do PPS. Aliás, os site da oposição há muito se tornaram monótonos reprodutores de editoriais. Os caras até desistiram de escrever qualquer coisa original. Para quê? Muito mais fácil chupar os textos da grande mídia.

Vocês podem acreditar ou não, mas há meses que eu sabia que vinha chumbo grosso nesse primeiro semestre, porque a expectativa de agentes públicos e privados é de a economia brasileira deverá se aquecer apenas a partir de junho ou julho, e isso mesmo antes do governo reduzir impostos e juros, aumentar o crédito, e apagar os fogos cambiais diários. Com essas medidas, espera-se que a economia brasileira receba um bom impulso na segunda metade do ano.

O maior problema do governo são mesmo as famigeradas obras de infra-estrutura. O negócio não avança. As empreiteiras atrasam as obras, pedem mais dinheiro, chantageiam, subornam, paralisam, incentivam greves. O aparato público por sua vez ainda é despreparado, incompetente, a burocracia é lenta, burra e corrupta.

Entretanto, o importante, como diz o gaúcho, é forcejar. Os PAC 1 e 2 não apenas tocam obras, eles mudam a própria rotina de uma burocracia que há décadas não trabalhava direito.

O receituário da Folha, porém, é estarrecedoramente neoliberal.  Graças a Deus que seu candidato não ganhou as eleições. Confiram o quadro que ilustra o texto:

Muito bem. Faltou receitar distribuição grátis de porções de camarão frito e isopores cheios de cerveja. Comentemos por ordem:

  1. Manter ou elevar a meta de superávit primeiro: para quê fazer isso? Bem no meio de um ambiente recessivo, a Folha sugere ao governo tomar medidas recessivas? Jênios!
  2. Criar limite legal para aumento de despesas correntes: mesma coisa, quer limitar o poder de ação do Estado justamente num momento histórico em que os Estados vem cumprindo função primordial de apagar os incêndios causados por máfias do sistema financeiro privado.
  3. Reduzir caraga tributária de 35% para 30% e desonerar a produção de forma geral: comentemos esse item no próximo.
  4. Aumentar investimento em infra-estrutura, educação e saúde: é para rir ou chorar? A Folha sugere que o governo faça o milagre da multiplicação de pães? Quer reduzir a caixa do governo, quer que ele gaste mais com juros, e ainda pretende que ele aumente investimentos? A solução parece a do chefe “altruísta” que reduz o salário do empregado na esperança de que ele trabalhe mais e gaste mais com a educação do filho.

No editorial, há outros delírios neoliberais da Folha: frear futuros aumentos do salário mínimo e bloquear propostas de reajustes das folhas salariais. Muito bonito! Quer que o governo aumente recursos para educação e saúde mas não quer aumentar o salário dos professores e médicos? O texto é um amontoado incongruente de propostas contraditórias, absurdas, um conservadorismo idiota e nefelibata.

Concordo, porém com a frase final:

Falta ousadia ao governo Dilma.

Só que numa interpretação avessa da Folha. Ou seja, falta ao governo – grosso modo – aprofundar tudo aquilo que a Folha acha ruim. Ou seja, aumentar a carga tributária (para os mais ricos); reduzir o superávit primário; flexibilizar o limite de gastos.

Ah, concordo também que o governo deve aumentar os investimentos em infraestrutura, educação e saúde. Como dizia aquela antiga propaganda de cigarro: pelo menos alguma coisa a gente tem em comum.

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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Comentários

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elsonfidofilo@hotmail.com

24/05/2012 - 05h30

Eu já ouvi essa cantilena em 2008, quando o mais preparado dos brasileiros ( Jose Serra ) foi a tv defender essa receita milagrosa, os europeus seguiram a risca essa estratégia e veja oque acontece no velho continente.
Essa turma quer é um estado para poucos, e que a política seja exercida pelo setor financeiro, já vimos esse filme e não gostamos.


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