PSDB pára Congresso para endeusar Yoani

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Aécio Neves bem que tentou atrair para si os holofotes, mas Yoani Sanchez monopolizou o debate político ontem e hoje. A Folha escreveu um editorial defendendo-a dos “baderneiros” e os blogueiros da Veja passaram o dia salivando ódio contra os ativistas pró-Cuba que estão enchendo de água o fejião da moça.

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Pra piorar, os tucanos resolveram usar a blogueira como gasolina para incendiar o debate no plenário. Uma votação importante foi interrompida porque parlamentares da oposição queriam que a TV Câmara se concentrasse em Sanchez, enquanto outros  – a maioria – acharam um absurdo que uma blogueira, por mais famosa que seja, atrase a agenda de votações do Congresso Nacional. Os protestos contra esse arbítrio foram logo instrumentalizados pela mídia para transmitir a impressão que a esquerda parlamentar se juntou às autoridades de Cuba para reprimir a brava guerreira da liberdade!

O título da nota de Lauro Jardim, da Veja, dá uma ideia da artimanha:

Entretanto, a revolta dos representantes não era exatamente contra a blogueira e sim na transformação do Congresso numa casa de espetáculo. Ora, a blogueira já tinha estado numa sala da comissão, já havia participado de um debate. Sua entrada em plenário, em plena sessão, atrapalhou uma votação, e isso irritou os deputados.

Por outro lado, suspeito que a ansiedade com que o PSDB, liderado por Otávio Leite, deputado que nas eleições municipais do Rio obteve 1% das intenções de voto, abraçou a dissidente cubana foi excessiva. Isto é, deixou de ser um gesto de crítica ao déficit democrático de Cuba e se tornou uma tomada de posição agressivamente anticomunista. Uma coisa é defender a abertura democrática de Cuba, outra é interromper uma sessão do Congresso Nacional brasileiro para dar espaço a uma blogueira conhecida pelo apoio que recebe da direita americana. Nem o Congresso estadunidense, em que pese a sua maioria conservadora, faria um papelão desse.

O PSDB, tentando faturar em cima de críticas a algumas manifestações contra a blogueira que talvez tenham se excedido, acabou, ele mesmo, cometendo  o pior dos excessos. Os manifestantes eram militantes socialistas defendendo um país socialista. Os tucanos pararam os trabalhos legislativos para agradar uma blogueira que apenas uma elite sabe quem é. Pra piorar, no meio da bagunça instaurada no plenário, a direita mais reacionária do parlamento assumiu o protagonismo na defesa de Yoani. Bolsonaro, por exemplo, foi à tribuna explicar à Yoani que a ditadura havia salvo o país. A foto no início do post resume bem a situação.

Podemos até considerar a importância de se discutir os excessos e os erros do autoritarismo cubano, mas nessa toada o Congresso deveria parar seus trabalhos também para blogueiros que protestam contra os EUA, Arábia Saudita, Irã, China e França. Ironia suprema: no mesmo dia em que o PSDB endeusa uma estrangeira que ganhou fama por denunciar a falta de liberdade de expressão em seu país, a Justiça brasileira determina que um blog paulista pague 200 mil reais a uma corporação midiática por conta de uma paródia.  Ou seja, o conservadorismo brasileiro, guiado pelo PSDB, assopra a blogueira de Cuba e morde os blogueiros do Brasil. Pior, age assim, notoriamente, porque os blogs brasileiros exercem seu direito democrático de assumirem posições políticas diferentes daquelas dos jornalões. 

Essa postura, a meu ver, isola o PSDB, porque isso é radicalismo. Além disso, ele encampa a crítica rasa e oportunista da direita aos problemas de Cuba, uma crítica que não leva em conta o histórico de atrocidades patrocinadas pelo imperialismo americano em toda a América Latina. É natural, até saudável, que se façam críticas a alguns aspectos autoritários do socialismo cubano, mas fazer isso sem olhar para o seu contexto histórico, para a quantidade de agressões dos EUA contra o governo cubano, contra sua economia, fazer isso sem mencionar o terrível embargo econômico do qual a ilha é vítima, sem falar no terrorismo da comunidade anticastrista, sem falar nos golpes de Estado patrocinados e apoiados pela direita americana, sem lembrar, enfim, do longo período de trevas de que fomos vítimas, é fazer o jogo sórdido do imperialismo.

Cuba jamais patrocinou golpes de Estado na América Latina. Os EUA deslocaram porta-aviões para garantir a derrubada de João Goulart, e estavam dispostos a promover um banho de sangue no país caso o povo não aceitasse pacificamente a mudança de regime. Esse é o contexto no qual devemos entender a inquietação daqueles que se manifestaram contra Yoani Sanchez. A hostilidade não é exatamente contra ela e sim contra o que ela representa. Ao poder sinistro que promoveu tanta destruição, mortes, fome e subdesenvolvimento na América Latina.

*

Assista ao debate no programa Entre Aspas, ancorado por Monica Waldovgel, entre Breno Altman e Sandro Vaia, sobre as manifestações anti-Yoani no Brasil.

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Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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