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Merdal em desespero!

Me dêem licença para interromper por um dia minhas investigações sobre as maracutaias da Globo e me divertir um pouco. A coluna do Merdal hoje nos dá uma oportunidade ímpar de aplicar aliviantes chutes verbais no traseiro de um cafumango.

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Me dêem licença para interromper por um dia minhas investigações sobre as maracutaias da Globo e me divertir um pouco. A coluna do Merdal hoje nos dá uma oportunidade ímpar de aplicar aliviantes chutes no traseiro de um cafumango.

Entendo que o excesso de adjetivos deve ser evitado em nome da elegância e do estilo, mas creio que uma exceção, neste caso, é benvinda. Sobretudo porque é uma chance de observarmos a maravilhosa contribuição do Brasil ao patrimônio da língua portuguesa! Ao final do post, há um glossário, para que ninguém me chame de “mulato pernóstico”, conforme a horrível expressão racista usada pelas elites até os anos 60. E também para vocês verificarem que tentei ser absolutamente preciso

Como já chamei, com todo respeito, Ali Kamel de sacripanta, procuremos outros epítetos para Merdal Pereira. Boa oportunidade para tirar o pó dos cinco volumes do meu Caldas Aulete!

Merdal está tão pi-pi-ri-pi-pi-piradinho com as denúncias contra o PSDB paulista que perdeu a pose. Sua coluna de hoje, porém, pode fazer um grande mal à blogosfera: destruir o nosso querido professor Hariovaldo!

Sim, porque a coluna de Merval revela um Hariovaldo de carne, osso e uma geléia estragada no lugar do cérebro. É uma competição desleal com nosso humorista! Força, Hariovaldo!

Vamos ao Merdal:

Corrupção e democracia

Outro dia escrevi aqui na coluna, a propósito das investigações sobre a formação de um cartel de empresas estrangeiras na construção do metrô paulista, que “o pior dos mundos para a democracia seria se ficar provado o que os petistas chapa-branca já dão como certo nos blogs e noticiários oficiais: que o esquema seria uma espécie de irrigação permanente de dinheiro ilegal para as campanhas eleitorais dos tucanos desde o governo Covas”.

Foi o que bastou para que esses mesmos pseudo-jornalistas a serviço do governo petista distorcessem minhas palavras, atribuindo a mim a tese de que as acusações contra o PT são boas para a democracia, e as contra o PSDB seriam prejudiciais.

Para um leitor de boa-fé, está claro que não tratava da corrupção em si, mas da maneira como ela fora praticada. Uma coisa são casos de corrupção de agentes políticos isolados, que acontecem em todos os países, outra bem diferente é a organização política transformar-se em criminosa para garantir recursos ilegais para a manutenção do poder.

Vamos copiar a expressão do Paulo Nogueira e fazer uma longa pausa para risadas.

Merdal pagou um mico federal ontem e hoje, ao tentar emendar o soneto, paga um orangotango gigante! Petista chapa-branca! Aí é demais, não dá nem para comentar. Adiante.

Merdal, que é um labrosta, um burdo e um biltre, reage às denúncias contra o PSDB atacando não a corrupção, não os desvios de milhões em verba pública, não a desonestidade e a nojenta ausência de ética e espírito republicano das autoridades do governo paulista, que protagonizaram o maior escândalo de superfaturamento da história brasileira. Merdal ataca os… blogs!

É um chibéu metido a chibante!

E dá-lhe choradeira! Dá pra notar, em meio ao desespero do Merdal, as suas lágrimas ácidas de crocodilo escorrendo pela coluna. Os tucanóides da mídia nem disfarçam. Na primeira encrenca, gritam “mensalão!”, “mensalão!”, à maneira de bandidos que, vendo a polícia se aproximar, se enfiam na muvuca e gritam: “pega ladrão!”.

Ora, Merval, não nos faça rir com essa nova filosofia que distingue a corrupção em duas hierarquias: regional e federal. A regional seria aceitável, pois se destina apenas a pagar vestidos de luxo para as esposas dos corruptos e viagens ao redor do mundo. Muito pior mesmo é a corrupção federal petista, não é?, que visa pagar deputados para aprovarem a reforma da previdência!

Desta vez, Merdal se descuidou. Não se pode exagerar, senão entorna o caldo. Há muitos leitores do Globo, imagino eu, que já desenvolveram danos mentais irreversíveis, e acreditam num peteiro como o Merval. Mas textos como esse nos são de grande serventia. É como se ele tirasse a máscara e o fardão da Academia e víssemos um idiota furioso discutindo com uma criança de três anos. A criança é o “leitor de boa fé”, doravante uma belíssima expressão para designar os tabaréus que ainda acreditam na Globo.

A ação individual de um político desonesto é menos danosa para a democracia do que a de um grupo político organizado, que se utiliza dos esquemas de poder a que chegou pelo voto para se eternizar nele. Foi o que aconteceu justamente no mensalão do PT. Se as investigações do caso Siemens em São Paulo levarem à conclusão de que o PSDB montou um projeto de poder em São Paulo desde o governo Covas, passando por Geraldo Alckmin e José Serra financiado pelo desvio de verbas públicas, estaremos diante de uma manipulação política com o mesmo significado, embora com alcance regional, enquanto o mensalão tentou manipular nada menos que o Congresso Nacional.

Inacreditável. Merdal acha mesmo que existe uma corrupção “boa”, a do PSDB, que envolve valores muito maiores que o mensalão, e tudo dinheiro público; e uma corrupção “ruim”, que é a do PT, usada para se “eternizar” no poder. Além de burrice, é uma falácia, comprovada pelos fatos. O PT está no poder federal há 11 anos. O PSDB está no poder em São Paulo há mais de 20. Merdal deve achar que seu leitor é um asno e vai acreditar que o PSDB paulista roubou centenas de milhões em São Paulo, mas jamais fez esquema para se perpetuar no poder.

Aí ele insiste na história de que os mau feitos paulistas tem alcance “regional”. É mesmo um caurineiro, um naique, um litodonte, porque esquece, ou omite, que a corrupção do metrô em São Paulo teve início quando o PSDB ainda ocupava o Palácio do Planalto. E não só isso. Omite que FHC mudou as regras eleitorais para si mesmo; sem a dignidade de fazer ao menos um plebiscito e consultar o povo, patrocinou uma suja negociata palaciana para aprovar a emenda da reeleição. Onde você estava em 1997, Merdal? Estava tratando de alguma sequela da sua notória cacosmia?

Só para você lembrar:

Na definição do presidente do Supremo, Ayres Britto no julgamento do mensalão, “(…) sob a inspiração patrimonialista, um projeto de poder foi feito, não um projeto de governo, que é exposto em praça pública, mas um projeto de poder que vai além de um quadriênio quadruplicado. É um projeto que também é golpe no conteúdo da democracia, o republicanismo, que postula a renovação dos quadros de dirigentes e equiparação das armas com que se disputa a preferência dos votos”.

Segundo outro ministro do STF, o decano Celso de Mello, “há políticos, governantes e legisladores que corrompem o poder do Estado, exercendo sobre ele ação moralmente deletéria, juridicamente criminosa e politicamente dissolvente”.

E quem é Ayres Britto, senão aquele que escreveu o prefácio do seu livro? Um poetastro cacóstomo, cujos discursos no julgamento do mensalão quase nos provocaram crises de otorréia! Quanto a Celso de Mello, é um reacionário empedernido e obtuso, fingindo cantar de galo num terreiro onde não passa de uma galinha.

A palhaçada deste julgamento foi justamente essa: discursos palavrosos e vazios, cheios de adjetivos fáceis, clichês midiáticos e uma carga de preconceito antipolítica que demoraremos anos para extirpar da nossa consciência coletiva. A propósito, o que uma coisa tem a ver com a outra? Merdal não tem noção do ridículo? O que o roubo do PSDB paulista tem a ver com a farsa inventada pela Procuradoria e chancelada por Joaquim Barbosa, presidente da Assas JB Corporation e dono de um aconchegante apê em Miami?

Não há nada, no entanto, até agora, que aponte para um esquema dessa envergadura, pelo menos na parte da documentação do processo do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) a que tive acesso. Há, aliás, indicações claras de que o acordo de leniência entre a Siemens e o CADE se destinava a investigar as ações daquela empresa na formação de cartel “no Brasil” todo.

Claro, Merdal! Que petulância a nossa, e do CADE, e da Folha, e do Estadão, de desviar o foco do único, autêntico e absoluto problema da sociedade brasileira: o mensalão! Os homens de bem, que pregam a virtude e a ética, não podem se afastar um milímetro da luta contra o verdadeiro mal, que é o mensalão. Falar de qualquer outra coisa é dar ouvidos ao capeta. O PSDB pode continuar roubando à vontade em São Paulo, isso é de somenos importância. O importante é prender Genoíno, que não tem um centavo no bolso. Aí sim o Brasil terá mudado!

Não há explicações para o fato de a investigação estar limitada a São Paulo e Distrito Federal, quando os diretores da Siemens citam contratos de trem e metrô em sete estados. Em cinco deles a empresa responsável é a estatal federal Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU). São citados contratos da CBTU que foram vítimas do cartel em Salvador, Recife, Fortaleza, Porto Alegre e Belo Horizonte.

Calma, santa! Há explicação sim. Os executivos prestaram depoimentos que incriminam principalmente as autoridades desses dois estados. Querer tirar o foco é uma estratégia malandra para não pegar ninguém. Depois que prendermos os corruptos de São Paulo, podemos ir atrás de outros, em todo o Brasil. Só em São Paulo, prezado Merdal, são 45 inquéritos simultâneos! Ou agora você, além de se pretender o décimo segundo ministro do STF, também quer dar ordens ao Ministério Público? Mas eu vou rir um bocado se o MP iniciar investigação a nível federal e descobrir mais papagaios da era FHC… Aliás, tem um livro aí na praça que é um sucesso, chama-se Privataria Tucana.

O PSDB considera que, ao escolher dois estados governados por partidos de oposição (PSDB em São Paulo e DEM no Distrito Federal na época) para investigar, o CADE assumiu um viés político. Outro fato importante é que pessoas que tiveram acesso às mais de 1.500 páginas do inquérito garantem que os documentos, depoimentos e trocas de e-mails de executivos da Siemens em poder do CADE não citam uma única vez o PSDB e o governador Geraldo Alckmin.

Claro, né. O ladrão jamais estará satisfeito com o trabalho da polícia. Me admira muito que Merdal não saiba disso. Quanto a citação de nomes, sugiro que Merdal passe a vista na Folha de hoje. Há uma citação totalmente comprometedora de José Serra, embora a gente saiba que Merdal dará um jeito amanhã de tentar livrar a cara do vampiro.

Os delatores premiados da empresa também não citam nominalmente em nenhum momento os funcionários públicos da CPTM ou do Metrô como praticantes de atos ilícitos como recebimento de propinas e comissões em licitações públicas. Como o CADE cuida apenas da parte referente à tentativa de neutralizar a competição nas licitações públicas, outras investigações do Ministério Público e da Polícia Federal revelarão mais detalhes da formação do cartel, que a Siemens praticou em mais de uma centena de países.

Esqueceu de tomar seus remedinhos, Merdal? Repito, leia a Folha de hoje. Aliás, leia novamente os jornais dos últimos dias. Em todas as notícias, se diz exatamente o contrário, que o Ministério Público já tem provas de envolvimento de servidores e políticos paulistas. Tanto que o Matarazzo e outros tucanos já foram indiciados pela Polícia Federal. Fale a verdade, seu cafangoso!

Glossário:

cafumango: Indivíduo sem importância; vagabundo.
labrosta: rústico, ignorante.
burdo: grosseiro, de má qualidade.
biltre: homem desprezível, vil, tratante.
chibéu: porco fraco.
chibante: valentão, brigão.
caurineiro: caloteiro, velhaco.
naique: empregado inferior.
litodonte: gênero de molusco.
peteiro: contador de petas, lorotas; mentiroso.
cacosmia: perversão do olfato, que faz o doente apreciar cheiros repugnantes.
poetastro: poeta medíocre que se dá ares de importância.
otorréia: hemorragia nos ouvidos.
cacóstomo: que tem hálito fétido.
cafangoso: quem finge desdém por aquilo que deseja.

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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