E a bomba coxinha estourou no colo de Marcelo Freixo

Os leitores mais antigos do blog sabem que tenho minhas ressalvas ao deputado Marcelo Freixo. Considero-o um excelente parlamentar e uma pessoa honesta, mas não gosto do seu discurso moralista e despolitizante.

No entanto, me parece evidente que não se pode culpar Freixo pelo incidente trágico com o repórter da Band.

E esse título do G1 é vergonhoso.

Presto minha solidariedade ao deputado, portanto.

Não é tão difícil entender o que aconteceu. A militante Sininho ligou para o rapaz preso, o tal Fabio Raposo, que repassou um rojão ao cara que o acendeu.

Raposo passou o telefone para seu advogado, Jonas Tadeu.

Sininho, então, menciona algum auxílio que poderia ser dado pelo deputado Marcelo Freixo.

Naturalmente, foi um gesto apenas ingênuo e desastrado de Sininho, militante bobinha e amiga dos black blocs.

Sininho é admiradora do Freixo, um político que se tornou uma espécie de messias para setores da juventude carioca. Provavelmente ela achou que, criando uma ligação entre Raposo e Freixo, isso o deixaria mais protegido.

Só que ela não contava que o advogado, além de não gostar de Freixo, viu ali a oportunidade de desviar as atenções da mídia de seu cliente para um deputado, um político. Uma ótima cortina de fumaça.

Conseguiu.

Por outro lado, há sim uma relação de afinidade entre a tática black bloc, mascarados de forma geral, e o PSOL.

Marcelo Freixo jamais veio a público (não com a insistência que o tema requeria) declarar que não apoiava a violência. E olha que muita gente cobrava isso dele.

Prefiro acreditar, contudo, que o silêncio de Freixo foi apenas oportunista, ao achar que as violências nas ruas, na medida em que eram contra o governador Cabral, seu adversário, acabariam por lhe beneficiar politicamente.

Mas não creio que ele seja cúmplice ou incentivador de violências. Espero que não.  Só está sendo picado por cobras que ele viu nascer, multiplicar-se, e tratou de forma condescendente.

É fato, porém, que muita gente, inclusive professores universitários, passou a defender a violência como uma tática válida politicamente. Ao fundo desse sentimento, nota-se o velho rancor anti-democrático e voluntarista da classe média carioca, sempre adepta de soluções de força: golpe militar, golpe judicial, quebra-quebra.

Evidente que isso não ia dar certo. O Rio é um barril de pólvora. Uma cidade com problemas terríveis de mobilidade urbana, com áreas miseráveis, degradadas, abandonadas. Rebelar-se é preciso, sim. Mas com estratégia e inteligência. Violência é para estúpidos ou fascistas. Sempre alguém acaba se ferindo.

Em São Paulo, por exemplo, milhares de pessoas fizeram uma linda manifestação contra a Globo, com cantorias, faixas, projeção de laser e substituição do nome de uma ponte. No dia seguinte, a Folha, para descrever a manifestação, mostrou na capa a foto de um grupo de mascarados assustadores portando paus. Desqualificou totalmente o protesto. E Marcelo Tas ainda veio me encher o saco no Twitter, dizendo que a Folha tinha dado um “bom destaque”.

Em primeiro lugar, é preciso saber onde está o adversário. Os black blocs, por exemplo, com a chancela do PSOL, atacaram, em junho e julho do ano passado, no Rio de Janeiro, sindicalistas e partidos de esquerda, como se estes tivessem culpa pelos problemas da cidade, os quais remontam a décadas e décadas de abandono, má-gestão, corrupção ou simplesmente decadência econômica. Eu estava lá e vi. Foi lamentável. Uma manifestação pacífica terminou com muito quebra-quebra e violência porque black blocs e mascarados queriam brincar de polícia-e-ladrão.

Não é questão de “criminalizar” o movimento social. Matar jornalistas, depredar pontos de ônibus, quebrar agências bancárias, jogar pedras na polícia, tudo isso é crime, então não me venham com essa.

Outra coisa irritante é a história de “infiltrados” entre os black blocs. Ora, esse é justamente o problema. Se tem um monte de mascarados, a coisa mais fácil é alguém mal-intencionado infiltrar-se, e isso gera problemas de segurança para os manifestantes e para a cidade. Ou seja, a tática black bloc é contraproducente; não protege ninguém. Ao contrário, traz insegurança e desqualifica as manifestações junto à sociedade.

Máscara é coisa de baile de carnaval. Manifestação política tem de mostrar o rosto, para segurança dos próprios manifestantes.

E protesto, numa democracia, tem de ser pacífico e inteligente, senão vira levante fascista. Pode-se até entender que uma comunidade carente, desesperada com a morte estúpida de um membro, causada pela polícia, queime um ônibus na avenida brasil. Pode-se entender que sem-terras invadam uma fazenda improdutiva, desocupada há décadas.

O que não se pode aceitar é ver jovens de classe média quebrando a cidade, enquanto supostos intelectuais gritam nas redes sociais que isso é lindo. Até um colunista do jornal O Globo andou falando que “os únicos que nos representam politicamente são esses que quebram lojas”. E esse mesmo colunista falava, em 2012, que Marcelo Freixo salvaria o Brasil.

Ou seja, houve um grande movimento de incitação a violência, inclusive dentro da mídia, por se entender que isso poderia trazer danos políticos ao PT e ao governo federal. E trouxe mesmo. Só que não apenas ao PT. Trouxe danos a todo mundo, à imagem do país, à compreensão do que é democracia, até mesmo à imprensa, como agora se vê com a quase morte de um cinegrafista da Band.

Está na hora de fechar a caixa de pandora e entender que o Brasil precisa de mudança, sim, mas tem que ser pela via democrática. Querem fazer política? Escolham seus candidatos e comecem logo a trabalhar em suas campanhas. É assim que se faz, goste-se ou não. Se não gostam de política, então vão estudar e trabalhar, o que já seria uma excelente contribuição que dariam ao país.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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