Esquerda vence eleições presidenciais em El Salvador

Com 100% das urnas processadas, o tribunal eleitoral de El Salvador aponta a vitória de Sánchez Cerén, da Frente Farabundo Martí para la Liberación Nacional (FMLN), por estreita margem sobre a direita salvadorenha, representada pela Arena.

O FMLN obteve 50,11% dos votos, contra 49,89%.  Há expectativa ainda se a Arena irá aceitar pacificamente os resultados.

Caso consiga fazer um governo razoável, cria-se a expectativa de que a América Central, finalmente, viva uma onda de governos populares democráticos.

Espera-se que a era das ditaduras, disfarçadas ou não, quando os EUA patrocinavam, sistematicamente, golpes de Estado, pelo exército ou pelos tribunais, no continente tenha ficado para trás.

Talvez não seja, paradoxalmente, mais interessante para os EUA que a América Central se mantenha vergada economicamente sob o chicote da opressão imperialista. Possivelmente, a própria dinâmica do grande capital tenha percebido que é interessante, também para os EUA, que as populações centro-americanas se desenvolvam economica e socialmente, com melhor distribuição de renda, para que se tornem um mercado consumidor dos produtos culturais e tecnológicos norte-americanos.

Antigamente, quando os EUA obtinham a maior parte de sua renda com a exportação industrial, havia medo de que um desenvolvimento econômico de cunho nacionalista em países latino-americanos pudesse criar indústrias que reduzissem os déficits comerciais desses países com os EUA, além de dificultar a obtenção de matérias-primas a preço baixo.

Hoje isso não tem mais sentido. O mercado de matérias-primas está extremamente consolidado pelas próprias estruturas econômicas. A América Central importa produtos manufaturados antes da China do que dos EUA, cujas exportações estão cada vez mais dependentes do setor de serviços e de produtos culturais.

A dialética interna ao próprio capitalismo norte-americano poderá, pela primeira vez em séculos, estimular o desenvolvimento da América Central?

É uma teoria otimista e ao mesmo tempo tristemente realista, quase cínica, porque condiciona uma possível onda de vitórias populares na América Central não apenas a um repuxão interno de soberania, e a uma nova emergência de forças sociais, mas também ao interesse do próprio império de formar uma nova camada de consumidores de seus filmes, softwares e aplicativos.

Aplicando-se uma fórmula marxista ainda bastante atual, até porque é uma observação de fatos históricos anteriores a Marx, pode-se prever que essas novas demandas do capitalismo produzirão sociedades mais avançadas, com mais organização, mais força e mais consciência para contestar o próprio império. Mas o império também não ficará parado, então na verdade o que teremos pela frente são novos desafios e novas formas de luta.

Seja o que for, a vitória da esquerda em El Salvador é uma excelente notícia para as forças populares de todo o continente!

 

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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