Sugestões de como melhorar a desastrosa comunicação da Petrobrás

Permitam-me fazer algumas observações sobre os esforços recentes da presidente da empresa e da própria presidente da República para defender a estatal.

Romper o silêncio já é um avanço e ajuda a criar um clima melhor. Mas, sinceramente, não adianta vir a público elogiar à Petrobrás e fazer referências obscuras a quem deseja “destruir” a Petrobrás.

Até porque não é disso que se trata. Ninguém quer destruir a Petrobrás. A oposição quer voltar ao comando da estatal, ponto, e ela tem o direito democrático de querer isso.

A gestão atual da Petrobrás tem que responder com informação e profissionalismo, até para mostrar que tem competência para continuar na liderança.

O blog da Petrobrás tem tentado dar sinais de vida, mas ainda deixa muito a desejar. Os posts não trazem um infográfico. Não há um mísero esforço de produzir interação.

Olha só esse post de ontem:

Qual o valor estético da ilustração? Zero!

Os textos são sempre frios, técnicos, sem graça.

A fala da presidenta da empresa, Graça Foster, foi postada no blog em forma de áudio MP3, ao invés de vídeo em youtube.  Seu discurso deveria ter sido transcrito em texto e os fatos mencionados por ela deveriam ser explorados. Foster fala numa reportagem de uma revista, Portos e Navios (se não me engano), em que são mencionados os empregos gerados pela empresa, por decisão estratégica de governo. Cadê a reportagem? Tinha que ser reproduzida, com gráficos, fotos.

Semana passada, a Petrobrás publicou anúncio de página inteira nos grandes jornais. Um anúncio mal feito, em linguagem técnica e empolada, diga-se de passagem. Tipo do anúncio para “mostrar serviço” e agradar a “diretoria”.

É sempre assim. Acha-se que torrar dinheiro na grande imprensa dará resultados. Não dá. Ninguém dá muito valor a esse tipo de publicidade feita às pressas durante uma crise. É preciso um trabalho de relações públicas, fundamentado em informações.

No post do etanol reproduzido acima, por exemplo, custava fazer um infográfico com um mapa mostrando as regiões a serem atravessadas pelo duto? Custaria mais barato e seria mais eficaz do que comprar anúncio de página inteira no Globo, por 1 milhão de reais. Qualquer garoto faria isso por R$ 200 ou R$ 300.

Acho que a Petrobrás, assim como vários setores do governo, sofrem com seus próprios servidores. São pessoas concursadas, que tem estabilidade no emprego, e não querem trabalhar, odeiam o emprego e passam o dia lendo a grande mídia, onde aprendem a odiar o governo. E aí não fazem nada direito ou fazem de má vontade.

Aliás, o trunfo da mídia é esse: ela mina o Estado por dentro. A Petrobrás aumentou seu número de funcionários de uns 80 para quase 200 mil nos últimos dez anos, mas se não se faz um trabalho de comunicação inteligente e politizado com eles, a tendência é perder suas mentes para a grande mídia. O cidadão, quando melhora de vida, quando arruma um emprego público, quer se informar melhor, e o Estado não está oferecendo essa oportunidade.

Os sindicatos também tem culpa. Devorados por um corporativismo sem limites, e por um esquerdismo principista, sem estratégia, despolitizado, não ajudam a empresa a enfrentar seus adversários internos e externos. O momento agora exige esquecer divergências trotskistas internas e trabalhar unido em prol da estatal.

Mas o pior de tudo é o autismo (com todo o respeito aos autistas, que na verdade são mais inteligentes que isso). Quando o Brasil inteiro está discutindo Pasadena, o blog da Petrobrás responde com um post sobre produção de biodiesel com óleo reciclado. Custa trazer informações gerais sobre a refinaria de Pasadena? Fotos dos operários, da empresa, histórico de produção, etc. Vai ter que informar tudo mesmo daqui a pouco, numa eventual CPI, porque não se adianta?

Os posts são mal escritos, mal ilustrados, preguiçosos, fragmentados, bizantinos, não trazem links para documentos. Se a imprensa inventa uma “crise” para a Petrobrás, e efetivamente, se a empresa está sob ataque político, era o momento de trazer textos, infográficos e aplicativos que falassem da situação da empresa. Os posts do blog parecem textos mal feitos para um jornalzinho interno, e não para os cidadãos em geral, os verdadeiros donos da empresa.

Por que a empresa não produz joguinhos para crianças brincarem de “explorar” o pré-sal? Por que não cria aplicativos para celular e ipad que nos permitam entender os números da empresa? O blog poderia oferecer viagens virtuais pelas plataformas, usando imagens de satélite; viagens ao fundo do mar, em montagens eletrônicas, para conhecermos como funcionam as sondas ultraprofundas. Para atrair os jovens ao blog, poderia disponibilizar músicas para download, comprando as músicas de bandas brasileiras independentes, para estimular a cultura e promover a imagem da empresa.

Poxa, com o dinheiro que tem, a Petrobrás poderia até mesmo adquirir os direitos de bons filmes e disponibilizá-los para download. Melhor ainda: promover concursos para roteiros de séries, filmes e livros de ficção que mostrassem o país daqui a vinte anos, quando o pré-sal estiver gerando centenas de bilhões de reais ao erário público.

Pesquisando na internet, à procura de uma ilustração para este post, estou vendo que a quantidade de charges contra a atual gestão da Petrobrás está aumentando de maneira avassaladora. Latuff e Bessinha estão ficando isolados em meio a uma profusão de cartunistas pagos pela direita para detonarem a gestão petista. A reação tem que vir em todas as frentes, inclusive nessa.

Por que a gestão não organiza um concurso de charges legais em favor dela mesma, para se defender? Mas aí tinha que aceitar um pouco de malícia, e publicar charges batendo em seus adversários; talvez fosse o caso de estimular os sindicatos a fazerem isso. Enfim, alguma coisa tem de ser feita também quanto a isso. A grande mídia está começando a engolir a Petrobrás da mesma maneira que fez no caso do mensalão.

Diretores da empresa, inclusive a presidente, poderiam conversar com os internautas periodicamente, através do blog, esclarecendo dúvidas e ensinando sobre petróleo. Seria uma fantástica demonstração de transparência!

Além disso, tinha que mostrar, em destaque, logo na capa, os números monstruosos da empresa, que está investindo centenas de bilhões de dólares nos próximos anos e gerando centenas de milhares de empregos.  Esses números poderiam vir em java, com movimento, interação e comparativos para entendermos sua magnitude (equivale a tantos hospitais, etc).

São tantas coisas que podem ser feitas! A Petrobrás só está em crise porque ela quer! Nesse ritmo, daqui a pouco teremos pesquisa onde veremos o crescimento dos brasileiros que defendem a sua privatização. Aí, quando ela for privatizada, terá uma comunicação extraordinária, mas também só isso: o Brasil não verá mais a dinheiro da Petrobrás sendo usado para financiar o nosso desenvolvimento econômico e social, como vemos hoje.

O blog da Petrobrás, como está sendo feito hoje, parece o trabalho de amadores. Ou pior que isso, de gente mal intencionada. Parece o blog de um posto de gasolina do interior, não da maior empresa do Brasil!

O discurso de Graça Foster também me pareceu extremamente pobre. “Acreditamos na Petrobrás, acreditamos na Petrobrás, acreditamos na Petrobrás mil vezes”. Ora, isso não quer dizer nada. Com todo o respeito, é um discurso pobre, que ao invés de demonstrar galhardia e criatividade, apenas expressa a timidez e o medo obsequioso que parece estar dominando o espírito de Foster.

Para piorar, ela termina o discurso dizendo que “precisa da energia de todos vocês”, transmitindo um sentimento baixo de insegurança, ao invés de fazer o contrário: de inspirar otimismo e coragem aos funcionários, acionistas e cidadãos interessados nos destinos da empresa.

Eu acredito que Foster seja uma das presidentes mais tecnicamente preparadas que a Petrobrás já teve.  Ela não precisa ser uma grande oradora, mas poderia contratar alguém para escrever um discurso. Há vinte mil escritores desempregados no país, precisando de uma força, que poderiam ajudar Foster com muito prazer. Era o momento de fazer um discurso emocionante, poético, político, altivo, desafiador, e não essa coisa reativa, chorosa, insegura e repetitiva que ela fez.

As redes estão repletas de intrigas, fofocas, desinformações e mentiras sobre a Petrobrás, que não são respondidas. Fala-se que é uma das empresas mais endividadas do mundo, por exemplo, sem esclarecer que isso decorre do fato de ter sido a empresa que mais encontrou petróleo no mundo.  E que se trata de um endividamento positivo, saudável, porque corresponde ao crédito internacional concedido à Petrobrás para construir suas plataformas. É uma dívida lastreada em petróleo. É como se eu descobrisse uma mina de ouro no valor de 100 bilhões de reais, e, portanto, me endividasse para criar uma empresa comercial para explorar essa riqueza. Deve haver algum nome bonito para diferenciar esse tipo de endividamento, lastreado em petróleo, de uma empresa gigantesca, que registrou o maior lucro do país, de um endividamento negativo de uma empresa sem ativos, sem recursos naturais, a beira da falência.

*

Antes de encerrar, um aviso aos leitores. Não quero trabalhar na Petrobrás, não quero dinheiro da Petrobrás (quer dizer, se ela quiser fazer um anunciozinho no blog, ao invés de continuar despejando toneladas de dinheiro na grande mídia, agradeço), não quero ter nenhuma função pública, porque já estou fazendo o blog, e nem me considero apto para nada a não ser o que já faço por aqui.

Sou apenas um blogueiro absurdamente intrometido, talvez um pouco implicante, porém com boas intenções, e que está vendo a direita estendendo seus tentáculos com cada vez mais desenvoltura sobre mentes e corações de muita gente.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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