A revolução na agricultura familiar e a falência absoluta na comunicação federal

Desculpe ser chato, mas vou continuar batendo na tecla da comunicação.

Os governos petistas fizeram uma verdadeira revolução na agricultura familiar brasileira. Este é um assunto que eu conheço de perto, porque fui jornalista especializado em café durante muitos anos. Na era FHC, viajei certa feita para o oeste baiano, a convite de uma associação de produtores locais, e testemunhei, à noite, uma conversa que me angustiou. Bebendo uísque, meia dúzia de latifundiários previam o fim da agricultura familiar. Para eles, ela não tinha futuro e ia acabar. Pois bem, no ano seguinte o Lula ganhou a eleição, aumentou exponencialmente os recursos para agricultura familiar e esta não só não acabou como cresceu muito. Hoje, a agricultura familiar responde por cerca de 75% ou mais pelo consumo interno de alimentos no Brasil.

Pois bem, ontem Dilma lançou o novo Plano Safra da Agricultura Familiar, e aumentou em 15% o volume de recursos disponibilizados sobre o ano anterior. Serão R$ 24 bilhões para micro, pequenos e médios agricultores familiares. Os grandes não podem reclamar, terão centenas de bilhões de reais. A novidade, porém, é na relação com os familiares, que hoje tem acesso a um crédito bancário subsidiado que nunca tiveram no passado.

Aí eu vou no site do Ministério do Desenvolvimento Agrário, atrás de um gráfico mostrando a evolução dos recursos para agricultura familiar, e descubro, decepcionado, que eles pararam de atualizar os gráficos em 2007! A última atualização da página que fala da “evolução do Pronaf” tem dados apenas até 2006/07. É de lascar! O governo dispõe R$ 24 bilhões para agricultura familiar e não tem um centavo para atualizar um maldito site!

O MDA até fez um “hotsite” para anunciar o novo plano safra, mas confuso, pesado, fontes minúsculas, quase ininteligível, e que não fornece nenhum histórico do programa.

O mais importante, do ponto de vista da informação para a sociedade, é fazer um histórico, é comparar. Um dado só deixa de ser bruto quando é contextualizado diacronica e sincronicamente, ou seja, quando o situamos num contexto histórico, e em relação a outros países.

Mais um fator, portanto, a provar a falência absoluta da comunicação federal! É um pesadelo! Um apagão absoluto! Esta é uma das principais causas do apagão político que vivemos. Não é porque a Dilma “não gosta de política”. É porque ninguém sabe nada do que está acontecendo no Brasil! Nem os próprios ministros!

Já me falaram que o tal Thomas Traumann é gente boa, mais consciente do que a Helena Chagas e tal, mas ele tem um trabalho ainda monstruoso pela frente. A comunicação federal precisa ser centralizada, otimizada, os sites dos ministérios têm de ser todos atualizados. Não é possível que sequer num ano de eleição eles farão isso?

Estão todos apenas esperando os “vídeos geniais” que João Santana vai exibir na propaganda eleitoral? Não dá para cada um fazer sua parte? Santana é um gênio, mas sozinho ele não vai fazer nenhum milagre!

E reitero: eu falaria a mesma coisa se o governo fosse do PSDB. Uma comunicação atualizada, bem feita, é bom para todos os brasileiros, é bom para a administração pública como um todo! É uma questão de Estado e interesse público, não apenas de governo ou PT. Mas é evidente que, se o governo atual não se comunica de maneria eficaz, o dano político é terrível.

Já disse alhures e repito aqui: o apagão na comunicação do governo é um dos responsáveis pelo transbordamento das “ruas”. A falta de uma comunicação mais democrática, na era da comunicação, gera descontentamento popular, porque passa a impressão que o governo não está ouvindo, não está atento às demandas do povo. Não resta outra saída ao povo, aí incluída a classe média, do que ir gritar nas ruas para ser ouvido.

Se o governo não quiser que o país mergulhe na anarquia total, trate de melhorar urgentemente a comunicação de todos os ministérios e de todas instituições do Estado. Basta atualizar os sites, otimizá-los, simplificá-los, padronizá-los, o que implica em gastos insignificantes em relação ao que estamos gastando em obras e programas sociais.

Agora sou eu que vou ficar revoltado com a Copa do Mundo! O custo de construir um maldito banheiro num estádio dava para melhorar todos os sites da administração pública! Por que não o fazem? Porque o governo tem uma visão medíocre, mesquinha e incompetente do que significa a comunicação.

Daí não adianta o PT vir cobrar “regulamentação da mídia”, se o próprio governo não faz o dever de casa. De nada vai adiantar uma lei de mídia, se o poder público não usa os espaços que já possui para informar melhor o povo.

Abaixo, texto publicado no site do MST, comemorando o aumento de recursos. Uma notícia extraordinária, que mostra a revolução profunda na economia agrícola brasileira, mas que não se tornará manchete na mídia nem nas redes sociais, porque o governo tem um sistema de comunicação pública totalmente falido!

 

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Pela primeira vez plano safra sai com a palavra ‘Reforma Agrária’
26 de maio de 2014

Por Yara Aquino, da Agência Brasil (Publicado no site do MST)

O Plano Safra da Agricultura Familiar para o período 2014/2015, lançado nesta segunda-feira (26) pela presidenta Dilma Rousseff em cerimônia no Palácio do Planalto, terá R$ 24,1 bilhões para investimento e custeio. O valor representa aumento de 14,7% em relação à safra anterior. As taxas de juros foram mantidas e variam de 0,5% a 3,5%.

Uma das novas ações do plano é o Pronaf Produção Orientada, linha de crédito voltada para a produção sustentável de alimentos, com foco nas regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste. A linha é direcionada para projetos de sistemas agroflorestais, convivência com o semiárido, agroecologia e produção de alimentos para abastecimento de centros urbanos. O limite de crédito é R$ 40 mil e é garantida assistência técnica até R$ 3,3 mil.

“O que buscamos com essas medidas é aumentar a produção de alimentos para o nosso país, especialmente a produção agroecológica. Queremos garantir a renda dos agricultores e, com o aumento de produção, contribuir com a estabilidade de preços para os consumidores brasileiros”, disse o ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto.

O seguro para a agricultura familiar também terá mudanças. A cobertura que o agricultor passará a ter será baseada na renda esperada e não mais no custo de produção.

Houve ampliação de medidas voltadas às agricultoras. Para esta safra, mais de 800 mil agricultores serão atendidos pela assistência técnica e extensão rural contratada pelo ministério. Desse total, 50% serão assegurados para mulheres agricultoras. Os jovens também terão ampliação de operações do Pronaf Jovem. Antes, eles podiam acessar uma única operação, no valor até R$ 15 mil, e agora serão três, com o valor total mantido. O Plano Safra do Semiárido receberá R$ 4,6 bilhões.

O ministro Miguel Rossetto disse que a qualificação dos assentamentos de reforma agrária será uma das prioridades do Plano Safra. Para as famílias que estão iniciando a vida em assentamentos, foi criado o Crédito de Instalação, com valor até R$ 14,2 mil por família, para aquisição de bens de primeira necessidade e início da produção.

O integrante da coordenação do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), Alexandre Conceição, discursou durante a cerimônia e destacou que “este é o primeiro Plano Safra em que, de cara, saímos com a palavra reforma agrária”. Ele também pediu celeridade do governo para a implementação das medidas voltadas aos agricultores familiares.

“Deveríamos voltar a discutir o plano no fim de 2014 ou 2015 para saber ser vamos comemorar ou não. Muitas vezes tem planejamento, decreto, mas que não atendem à necessidade do povo porque emperram na burocracia do segundo e terceiro escalão. Pedimos à presidenta para chamar a atenção do seu governo por uma reforma agrária rápida e emergencial”, disse Conceição.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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