Estadão ataca dono da única editora que publica livros críticos ao PSDB

A guerra promete ser dura. A velha mídia está usando, sem nenhum escrúpulo, toda a sua estrutura de reportagem para atacar aqueles que, de alguma maneira, produzem conteúdo crítico ao PSDB.

A bola da vez agora é Luiz Fernando Emediato, proprietário da Geração Editorial, que editou os livros Privataria Tucana, sobre as roubalheiras do PSDB por trás dos processos de privatização, e o Príncipe da Privataria, que aborda o escândalo da compra de votos para reeleição de Fernando Henrique.

Emediato é escritor, um excelente escritor, aliás, com vários prêmios literários e um prêmio Esso. Escreveu livros dos 16 aos 30, parou e voltou agora a fazê-lo, aos 62. E entrou também no mundo do cinema, como produtor.

A ironia é que Emediato tem uma história profissional no Estado de São Paulo, tendo sido o criador do Caderno 2.

Sua principal reclamação é que a reportagem não inseriu nenhum de seus esclarecimentos.

Trecho:

Como a imprensa é livre em nosso país, o jornal tem o direito de escrever o que quiser, resultado de boa ou má apuração dos fatos. Mas tinha também a obrigação moral de registrar meus esclarecimentos, mesmo duvidando deles.

Ao agir assim, o Estadão faz sua parte na nova estratégia da direita. O jornal tenta asfixiar economicamente qualquer esforço para se produzir informações e cultura que fujam da cartilha da grande mídia. Da nossa mídia antidemocrática, oligopolista e que se consolidou durante a ditadura.

Eu já assisti a algumas edições do filme produzido por Emediato, e baseado em seu livro, para o qual ele tenta obter patrocínio. Trata-se de um belíssimo longa-metragem sobre as origens de Brasília, do ponto-de-vista de uma família de trabalhadores.

Agora só falta essa. Além de tentar asfixiar os blogs, a mídia também se esforçar para bloquear iniciativas culturais importantes, sempre por causa de sua maldita obsessão pelo poder. Obsessão que antes os fez conspirar para derrubar um governo democrático, e que agora os faz perseguir os “dissidentes” de um pensamento que eles crêem ser o único permitido.

O texto do Emediato:

*

“A meus amigos:

O jornal “O Estado de S. Paulo” – onde trabalhei durante 10 anos, de 1978 a 1988 e onde ganhei o Prêmio Esso de Jornalismo e vários outros prêmios – publicou em sua edição de quinta-feira, dia 5, uma equivocada e insultuosa reportagem a meu respeito. Como não tenho nada a temer, compartilho com vocês o texto do jornal. http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,integrante-do-fi-fgts-pede-ajuda-a-empresas-imp-,1505788

A reportagem usa fatos verdadeiros, que não desminto, mas em contexto malicioso, afirmando que posso estar utilizando minha condição de membro do Fundo de Infra-estrutura do FGTS – FIF-GTS para solicitar favores a empresas para o patrocínio de filme baseado em obra literária minha. Só me faltava essa: pedir migalhas para apoiar projetos milionários, mas de interesse do Brasil. Com um voto entre 12, para referendar escolha já aprovada pelos técnicos de banco estatal, a Caixa Econômica Federal. Não faz muito sentido, mas o jornal – ou seus jornalistas – assim consideram.

Trata-se de rematada tolice.

O alvo aí não sou eu, mas o Comitê de Crédito do FI-FGTS, que está sob bombardeio de empresas contrariadas em seus interesses e possivelmente de políticos de menor envergadura, com suas práticas de sempre.

O filme baseado em meu livro – como é público – está pronto, para estrear em outubro, e, como é praxe, conta com apoio – evidentemente solicitado pelos produtores – de várias empresas privadas e estatais.

O jornal “O Estado de S. Paulo” afirma textualmente que “Emediato procurou este ano as duas maiores construtoras do país para pedir recursos para o filme: a Odebrecht e a Camargo Correa”.

De fato, como previsto na Lei do Audiovisual e autorizado pela Agência Nacional de Cinema – Ancine, os produtores do filme enviaram solicitações de patrocínio a mais de 200 empresas, desde 2007, quando o FI-FGTS o FI nem existia. Entre elas, obviamente, as duas construtoras citadas, o que elas confirmaram. Confirmaram também que não apoiaram o filme.

O jornal afirma ainda que o filme conta com patrocínio do Banco Original, do Grupo JBS, cuja coligada, Eldorado Brasil Celulose, recebeu investimento do FI-FGTS quando eu era membro do Comitê de Crédito, pelo governo. É verdade, mas era membro suplente e quem votou a favor do projeto – que estava há meses aguardando deliberação – foi o membro titular do Comitê.

Outras – às quais os produtores do filme, insisto, solicitaram apoio desde 2007, estão aguardando que a Caixa Econômica Federal encaminhe aos membros do FI seus pedidos de apoio. Quando isso acontecer – se acontecer e eu estiver ainda no colegiado – votarei tecnicamente.

Todas essas informações foram prestadas ao jornal, que as ignorou. Como é de praxe, enviarei protesto ao jornal “O Estado de S. Paulo”, que poderá ignorá-lo ou publicar, discretamente, na seção de Cartas dos Leitores, nem sempre lida pelos que tomaram conhecimento da reportagem.

Só posso lamentar que o grande jornal onde passei 10 anos maravilhosos de minha vida profissional faça isso com quem – como eu – não tem nada a temer. Só quem não conhece o tema e não me conhece pode imaginar que eu votaria a favor de um projeto qualquer em troca de tão singelo benefício. Quem estuda e combate a corrupção – essa praga que flagela nosso país e nossos costumes – sabe muito bem como são os procedimentos para se obter fortunas de conglomerados econômicos. Isso não é feito às claras – como buscando patrocínios legais para obras de arte – mas na calada da noite e nos porões dos paraísos fiscais.

Como a imprensa é livre em nosso país, o jornal tem o direito de escrever o que quiser, resultado de boa ou má apuração dos fatos. Mas tinha também a obrigação moral de registrar meus esclarecimentos, mesmo duvidando deles.

LUIZ FERNANDO EMEDIATO

Emediato, aos 30, quando lançou seu romance, Trevas no Paraíso, que agora virará filme

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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