Lula cuidará pessoalmente de regulamentação da mídia em próximo governo

Matéria publicada no Valor de hoje informa que Lula “será protagonista político no 2º mandato” de Dilma Rousseff.

O ex-presidente irá liderar o debate, segundo a reportagem, sobre assuntos que Dilma “eventualmente não queira tomar parte”. Eu diria que Lula assumirá as missões politicamente mais espinhosas, resguardando a presidenta.

A primeira proposta citada pelo jornal é o projeto para “regulamentação dos meios de comunicação eletrônicos, que são concessões públicas, defendida por aliados como o presidente do PT, Rui Falcão, e o ex-ministro Franklin Martins.”

Nos últimos meses, o debate sobre a regulamentação da mídia tem sido mencionado cotidianamente na grande imprensa. Isso é um ponto positivo. O lado negativo é que persiste a campanha de desinformação sobre o significado deste debate.

Hoje mesmo, há um artigo de Carlos Alberto Di Franco, no Globo, que trata do assunto como só mesmo um representante da Opus Dei, como ele é, faria. Intitulado “Ataque à mídia”, Di Franco desfila um rosário de meia-verdades e mentiras sobre as intenções daqueles que desejam um sistema de informação mais democrático para o Brasil.

Em dado momento, Di Franco diz que “Cuba e Venezuela, ditaduras cruéis e antediluvianas, são o modelo concreto da utopia petista”.

Daí você vê o baixo nível a que essas figuras querem arrastar o debate. Vamos deixar Cuba de fora do debate. Não acho que seja “ditadura cruel e antediluviana”. Aliás, antediluviana? Esses caras perderam o senso do ridículo.

Venezuela não é uma ditadura. Afirmar isso num país com tantas eleições e tanta imprensa de oposição, é simplesmente mentira.

A democratização da mídia não é uma “utopia petista”. É uma demanda de todos os partidos de esquerda, incluindo aí o PSB, onde temos um de seus principais quadros, Luiza Erundina, na frente dessa luta. O PCdoB incluiu a democratização da mídia como prioridade política da legenda. Todos os movimentos sociais organizados defendem a democratização da mídia brasileira.

Chamar de “utopia petista”, portanto, é apenas uma tentativa desonesta de reduzir a importância do debate.

Di Franco, além disso, omite que a principal referência dos ideólogos do projeto de regulamentação da mídia brasileira está na Europa, não na América Latina.

A referência à Europa e EUA faz parte, inclusive, de uma estratégia política para fugir do ambiente extremamente preconceituoso que contamina redações e universidades, contra a América Latina.

À utopia petista, a direita representada por Di Franco contrapõe o seu profundo “viralatismo”, que só enxerga coisas boas nos países ricos. Tudo que vem da América Latina é pobre, bolivariano, antidemocrático. EUA e Europa invadem países, aprofundam a desigualdade social, espionam outros governos, mas para nossos vira-latas conservadores o mal está em governos populares democraticamente eleitos da América Latina.

Daí a gente lhes dá um xeque-mate, ao defender uma democratização da mídia que se inspire no modelo europeu. Já seria um grande começo.

Ao final do texto, Di Franco põe sua esperança em novos “protestos”, os quais, segundo ele, apesar de que alguns sejam “francamente impróprios e deselegantes”, enviam “recados muitos claros”.

Ora, Di Franco. Desde quando depredar lojas e bancos, é “deselegante”? Ao contrário, acho que depredar uma agência do Itaú ou uma concessionária de carros de luxo é até bastante elegante, a depender do ponto-de-vista. Só que é crime.

Não se esqueça, Di Franco, que os protestos também enviaram “recados muito claros à grande mídia”… Ou você esqueceu esse detalhe?

 

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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