Saiu o relatório completo do Datafolha


 

O relatório completo da última pesquisa Datafolha, realizada nos dias 28 e 29 de agosto, que provocou uma onda de compreensível nervosismo em todas as campanhas (exceto na de Marina, onde gerou também compreensível entusiasmo), acaba de ser publicado.

É lamentável que, ao lado da absurda concentração midiática que experimentamos, ainda tenhamos esse outro problema: os institutos de pesquisa pertencem (ou são financiados por) aos mesmo grupos de mídia cuja concentração criticamos tanto.

Mas não posso fazer nada quanto a isso. As pessoas me perguntam sobre o Vox Populi. Pois é, mas o Vox Populi não publica os relatórios completos em seu site, e isso eu acho imperdoável.

Eu acho que o Datafolha e o Ibope são bons institutos de pesquisa. Só não confio neles porque, infelizmente, não posso confiar em nada que seja patrocinado pela Folha e, sobretudo, pela Globo.

Por outro lado, adotando uma postura panglossiana, nota-se um lado bom no fato da Globo, que patrocina Ibope e Datafolha, ser tão histericamente antipetista.

O lado bom é que, não havendo risco desses institutos serem tendenciosos em favor de Dilma Rousseff, podemos analisar os números com essa perspectiva. Se encontrarmos números positivos para Dilma, podemos ter certeza de que são reais. Isso ajuda muito na análise, especialmente quando o analista ensaia a difícil tarefa de manter a objetividade sem perder e sem esconder a sua própria opinião sobre os fatos.

Pois bem, a pesquisa foi considerada muito ruim para Dilma porque Marina abriu uma impressionante vantagem de dez pontos no segundo turno.

Do Aécio, nem se fala mais. É carta fora do baralho. Nem sei se será um apoio importante no segundo turno porque, se apoiar muito abertamente Marina, pode atrapalhar mais do que ajudar, visto que a maioria dos eleitores de Marina vieram de quem pensava em votar nulo, além do voto de protesto, que deverá ficar num nível bem acima da média vista nos últimos anos. Se Aécio aparecer ao lado de Marina, ela correrá riscos de perder o discurso da terceira via.

Além disso, os votos de Aécio não migram automaticamente para Marina, mesmo se Aécio a apoiar abertamente. Eleitor não é boi de rebanho que vota em quem seu candidato mandar.

Dito isso, vamos aos números.

Tanto Dilma como Marina já são amplamente conhecidas pela população. Dilma, por 99% dos entrevistados; Marina, por 94%. Então podemos fazer comparações bastante objetivas entre as duas em relação ao voto espontâneo.


 

O voto espontâneo tem a vantagem de captar um desejo mais firme do eleitor. Dilma experimentou uma alta de três pontos na votação espontânea e lidera as pesquisas com 27% das intenções de voto.

Marina vem em segundo lugar, com 22%.

A diferença, de 5 pontos, é significativa, porque a margem de erro é de 2 pontos percentuais. Portanto, foge até mesmo de um empate “técnico”.

Eu preparei uma tabela comparativa com os números dos votos espontâneos das duas pesquisas.


 

Observe que Dilma cresceu, substancialmente, em todos os segmentos pesquisados. Inclusive entre aqueles mais problemáticos para ela: jovens entre 18 e 24 anos, pessoas com ensino superior completo, ricos, e habitantes das grandes cidades.  A presidenta ampliou sua votação espontânea em todos esses segmentos.

Dilma sofreu uma perda forte no segmento que recebe renda familiar entre 5 e 10 salários, mas o crescimento, também forte, entre as famílias que ganham mais de 10 salários, sinaliza que não houve nenhuma crise especial anti-Dilma entre os abastados.

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A maior parte do eleitorado considera importante o horário eleitoral. E 53% tem muito ou algum interesse em assisti-los.


 


Na segmentação, observamos que os grupos de eleitores onde a presidenta se encontra em desvantagem, como a classe média e os eleitores mais instruídos, são os que revelam mais interesse em assistir ao horário eleitoral.

Junto ao segmento onde Dilma perdeu mais votos na espontânea, por exemplo, os eleitores com renda familiar entre 5 e 10 salários, o interesse pelo horário eleitoral gratuito na TV é de 61%!

Como a campanha eleitoral de Dilma é inegavelmente superior, em qualidade e tempo, a de outros candidatos, não será surpresa se ela ganhar eleitores nessa faixa.


 

O problema de Dilma se concentra no segundo turno, e é grave.


 

A força de Dilma está na população mais pobre e no Nordeste, onde, mesmo assim, Marina conseguiu avançar bastante. Num segundo turno, Dilma ganha de 48 X 43 entre famílias com renda familiar até 2 salários, e de 52% a 41% no Nordeste. A petista também ganha no interior e nas cidades com até 50 mil habitantes.

Mas a presidenta terá que melhorar ainda muito a sua performance no Sudeste e nas cidades médias e grandes.

A principal força de Marina está concentrada nas famílias com renda mensal entre 5 e 10 salários: a ex-ministra tem 67% dos votos num segundo turno, contra 25% de Dilma.

Na segmentação por religião, para o segundo turno, vemos dados que explicam perfeitamente o pragmatismo eleitoral de Marina ao recuar das propostas de política gay. Observe que Dilma não caiu entre os católicos; ao contrário, até oscilou positivamente um ponto. Sua queda entre uma pesquisa e outra se concentrou entre os evangélicos e kardecistas.

 


 

Curiosamente, Dilma repete no segundo turno uma performance que já detectamos nos votos espontâneos no primeiro: ela cresceu fortemente entre as classes mais ricas, embora ainda se mantenha bastante atrás de Marina Silva. No segmento com renda acima de 10 salários, a vantagem de Marina, que era de 43 pontos no dia 15 de agosto, passou para 23 pontos no dia 29 do mesmo mês.


 

A rejeição à Dilma concentra-se principalmente entre os mais jovens e mais ricos, embora por razões, provavelmente, bastante distintas. Entre jovens entre 16 e 24 anos, a rejeição à Dilma chega a 41%. Entre os que possuem curso superior, é de 50%. A rejeição entre os pobres é baixa. Começa a crescer muito a partir das famílias com renda acima de 2 salários, até chegar a 53% entre os que ganham mais de 10 salários.

 


Abaixo, o relatório completo.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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