Ainda há vida inteligente na comunicação do governo?


 

Vocês sabem que passei os últimos quatro anos vociferando contra a comunicação do governo federal, que acho um desastre.

Dão bilhões para Globo, Veja, Folha, tvs abertas comerciais.

Deixam a TV Brasil à míngua.

Ignoram a internet.

A comunicação dos ministérios é caótica. Não há uma centralização efetiva.

O blog do Planalto é tão frio quanto um cadáver.

Não há porta-voz. Não há secretário de imprensa.

A presidenta faz um programa de rádio semanal, distribuído para pequenas rádios, o que é muito bom. Mas poderia aproveitar e fazer também um vídeo, ao mesmo tempo, para distribuir nas redes sociais.

A Secom se tornou mero distribuidor de verba para grande mídia, não propõe nada, não promove debate, não ouve ninguém.

Uma situação triste. Ainda mais triste quando se pensa que um dos maiores obstáculos da nossa democracia é a concentração dos meios de comunicação.

Fazer o contraponto é uma luta. Somos vilipendiados pela própria mídia que recebe bilhões do governo, e a quem não interessa a pluralidade política na comunicação.

Por isso é tão doloroso ver o governo, que tem recursos humanos, financeiros, políticos, partidários, seguir a linha da inação, da covardia, da terceirização da iniciativa para seu próprio adversário.

Nem acho que o único problema do governo seja a comunicação.

Acho antes que a comunicação deficiente impede o governo, e o país como um todo, de se corrigir.

Uma comunicação mais eficiente permitiria que as pessoas apontassem os problemas, para que estes fossem corrigidos mais rapidamente.

Permitiria que ideias novas e revolucionárias viessem à tôna.

Aumentaria, por isso, o grau de produtividade e inventividade do país, ajudando a economia.

Por exemplo, o governo mandou instalar câmeras em vários hospitais federais, para que a presidenta pudesse monitorá-los.

Algumas dessas câmeras, as que não invadissem a privacidade dos hospitais, podiam ser abertas ao público, para que as pessoas monitorassem, até por hobby, os hospitais e comunicassem os problemas ao governo.

Um trabalho de comunicação bem feito poderia incorporar milhões, milhões!, de pessoas, ao serviço público, com trabalho voluntário.

O governo, e até mesmo seus críticos, tem a mania de achar que comunicação é só fazer propaganda boa de si mesmo. Não é. Comunicação é um processo de mão dupla. Falar e ouvir. Comunicação é transparência. É permitir que as pessoas se sintam parte de um governo democrático.

Existem coisas que a gente pode buscar exemplos em outros países, mas há outras em que a gente tem de servir de exemplo. O nosso processo eleitoral, por exemplo, é um modelo, por causa da magnitude do eleitorado. Em virtude das circunstâncias (monopólio dos meios, população enorme, demanda por mais democracia), a comunicação pública também deveria ser modelo para o mundo.

Um sistema de comunicação mais democrático reduziria o sentimento de falta de representatividade, e daria agilidade ao Estado.

*

No ano passado, no entanto, eu abri uma exceção às minhas invenctivas contra a comunicação do governo: foi a ideia do mochilão do PAC, que saiu do ar por causa da legislação eleitoral.

E agora está de volta.

É um projeto fantástico, elaborado com uma sintaxe jovem, e com isso fala a todos os brasileiros, pois a linguagem jovem é a mais universal.

O projeto sinaliza um fiapo de esperança de que ainda pode haver criatividade no governo, para mostrar o que está fazendo, e estabelecer uma ponte de comunicação direta entre o governo e o eleitor, que não seja apenas fazer comerciais pausterizados na tv aberta.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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