Fabiano Santos alerta: governo tem de fazer política

Eu e Fabiano, num debate de que participamos, em 2010.


 

Nesta quinta-feira, 11, estive em Botafogo, na sede da IESP, núcleo de pós-graduação e pesquisa em Ciência Política, ligado à UERJ.

Fomos almoçar nas redondezas, eu e seis professores.

Seis sumidades da ciência política brasileira, todos assumidamente progressistas, leitores do Cafezinho e críticos à antidemocrática concentração da mídia brasileira.

Entre eles, Fabiano Santos, ex-presidente da Associação Brasileira de Ciência Política, e João Feres, idealizador do Manchetômetro.

Após a refeição, voltamos ao IESP, e usei meu celular para gravar uma entrevista exclusiva com Fabiano Santos, em sua sala.

Santos falou sobre os novos desafios do governo Dilma.

Superados o primeiro, segundo e “terceiro” turnos, a política nacional se voltará, cada vez mais, para as eleições para a presidência da Câmara, lembra Santos.

Para ele, seria um grave erro encarar esta eleição como um processo de governo, em que o PT lançaria um candidato a favor do governo, e o PMDB, com Eduardo Cunha, um contra o governo.

O Executivo deve encarar a eleição na Câmara como um processo cuja dialética é própria ao Legislativo.

Entretanto, o cientista enfatiza que Eduardo Cunha, pese a todas as críticas, justas e necessárias, é um candidato da base aliada.

Seria um contrassenso empurrá-lo, através de um processo de radicalização ideológica, para a oposição.

O PT pode, e talvez até deva, lançar o seu candidato próprio à presidência da Câmara.

Passada as eleições, contudo, o vencedor, seja do PT, seja do PMDB, será alguém da base aliada.

“Uma guerra de vida ou morte seria um erro”, diz Fabiano.

O PMDB, como um partido de centro, tem as condições de carrear votos da centro-direita, necessários para que sejam aprovados projetos progressistas do governo.

Independente de quem presidir a Câmara, PT, o maior partido, ou PMDB, o segundo maior, terá de fazer esse meio de campo entre forças ideológicas opostas.

Mas o governo tem de fazer política; e política é uma técnica e uma arte, lembra Santos.

Conversando com Fabiano, descobri que a crítica que setores da blogosfera fazemos à comunicação do governo é, essencialmente, uma crítica à sua forma de fazer política.

O cientista pediu uma explicação ao governo para a ausência de um porta-voz, que faça o contraponto diário com a imprensa, e comunique à sociedade a posição oficial em cada assunto em pauta.

Urge escolher os ministros políticos, que serão os protagonistas no diálogo com o congresso e com a sociedade, para comporem a linha de defesa e ataque do governo.

Esse contraponto diário acaba se refletindo também na formação da consciência dos próprios deputados, tanto da situação quanto de oposição.

Se o governo não responde à mídia, ele se enfraquece na própria Câmara dos Deputados, e as votações se tornam mais difíceis.

As últimas três frases são minhas, mas refletem a conversa que tivemos, como se verá no vídeo abaixo.

Fabiano lembra que o governo, sempre que optou por fazer política, ganhou o jogo.

Quando não fez política, perdeu.

Ele acha que Dilma entra no segundo mandato com muito mais experiência: “em 2010, ela nunca tinha disputado uma eleição. Ela aprendeu.”

Tanto é que aprendeu que, na votação da LDO, que permitiu ao governo manter o seu nível de investimento, a presidenta chamou as lideranças partidárias, conversou com todo mundo, ouviu a demanda dos parlamentares, e, ao cabo, venceu.

Assista abaixo a íntegra da entrevista, em duas partes. A primeira tem 15 minutos, a segunda, cinco minutos.

É um depoimento essencial para quem deseja entender a conjuntura política do país hoje.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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