Novo porta-voz de Dilma é um poltergeist!


Enfim, a presidenta acordou para a urgência de um porta-voz que externe a opinião do governo.

E quem é o escolhido pela presidenta para assumir tão importante função na república?

A resposta está em matéria divulgada amplamente pelos portais, a começar pelo UOL.

Cálculo de perda da estatal enfurece Dilma Rousseff

A presidente Dilma ficou, segundo assessores, “enfurecida” com o cálculo feito por consultorias independentes indicando a necessidade de dar uma baixa de R$ 88,6 bilhões em ativos da estatal.”

O porta-voz de Dilma é, portanto, uma pessoa chamada “assessores”.

Entretanto, não se sabe porque razão, o seu sobrenome e seu rosto permanecem ocultos. Só fala por enigmas e charadas, e apenas alguns felizardos da grande imprensa tem acesso a ele.

Desculpem-me a ironia destrambelhada, mas não vi outra maneira de comentar o que me parece um fato científico.

Um filósofo muito antigo dizia que a natureza repudia o vácuo. Outros pensadores mais recentes falaram algo parecido sobre o poder.

Pois bem, ao se recusar a ter um porta-voz, um relações públicas, um secretário de imprensa visível, Dilma deixou que estes surgissem como espectros fantasmagóricos.

O porta-voz de Dilma é um poltergeist!

São os “assessores do Planalto”, também chamados de “figuras próximas à Dilma”, ou “pessoas ligadas ao governo”, e por aí vai.

Esses fantasmas sempre existirão. São as “fontes da Casa Branca”, mas não podem substituir a comunicação assertiva e direta do governo e da presidenta, através da qual eles – governo e presidenta – pautam a mídia e estabelecem uma relação política digna com a opinião pública. A mesma coisa vale para a Petrobrás, que é um governo à parte.

Não vou comentar a burrada da Graça Foster, ao mais uma vez dar carne às hienas, fornecendo a manchete que a grande mídia pediu a Deus. Fernando Brito e Nassif já o fizeram.

É um case a ser estudado.

Quiçá a maior estupidez de marketing negativo em décadas.

Graça Foster, ao divulgar os R$ 88 bilhões, um número maluco que mistura variação cambial, queda no preço da matéria-prima, oscilação na bolsa e perdas com corrupção (estas equivalentes, na verdade, a um percentual mínimo), permitiu a proliferação, mundo a fora, de capas como essas:



Errar é humano.

Mas não é a primeira vez que Graça comete esse tipo de… equívoco, para usar um termo delicado.

Numa das incontáveis CPIs que mídia e oposição criam toda semana sobre a Petrobrás, Graça Foster, ao falar sobre Pasadena, disse que se tratava de um “mau negócio”. A declaração virou manchetes iguais para todos os jornalões.

Antes disso, Dilma também tinha contribuído para a crise, ao se referir negativamente a Pasadena, cuja compra, declarou, teria sido baseada num “parecer técnica e juridicamente falho”.

Ora, ninguém compra uma refinaria com base em parecer jurídico, e sim pensando estrategicamente. Antes da descoberta do pré-sal, os planos de expansão da Petrobrás incluíam a sua internacionalização via refinarias. Foi o que fez.

Se Paulo Roberto levou propina, isso é outra história.

Rolou corrupção no sistema de metrôs e trens de São Paulo, e isso não quer dizer que eles não deveriam ter sido construídos.

Petroleiras russas, chinesas, venezuelanas, sauditas, compram refinarias mundo à fora, e não o fazem baseadas em parecer técnico, mas na necessidade estratégica de seus países.

Tanto Dilma como Graça parecem não entender que a comunicação, no mundo de hoje (e talvez no passado também) constitui uma dimensão essencial para enfrentar seus adversários.

O governo e a Petrobrás são entidades políticas, atacadas diariamente por razões políticas.

Nem vou demonizar os adversários da Petrobrás. Eles correm atrás de seus interesses econômicos. É da natureza do lobo correr atrás do cordeiro. Mas Dilma não pode continuar agindo com tanta ingenuidade. Não pode continuar falando à nação através de fantasmagóricos “assessores”, por uma razão óbvia. A fala desses assessores é facilmente manipulável.

Aliás, é sempre manipulada. Além disso, é antidemocrático, porque somente os repórteres da grande mídia tem acesso a eles.

Ou seja, a tática dá à mídia uma posição duplamente privilegiada, o que não é democrático nem republicano: 1) a mídia tem acesso a uma informação mais completa, que ela filtra, divulgando só o que lhe interessa, da forma que a interessa e quando a interessa. 2) só ela tem acesso à informação, o que lhe confere poder e um trunfo político.

Com um ou mais porta-vozes trabalhando diariamente, todos os brasileiros teriam acesso à opinião e posição do governo, sobre todos os assuntos, em relação a todas as intermináveis polêmicas que fazem da nossa vida política uma crise eterna. Um porta-voz, ou secretário de imprensa ativo, permitiria, além disso, ao governo, praticar a comunicação. E só se aprende na prática.

Vê-se claramente que, em virtude da falta de uma estratégia de comunicação, as cordas vocais do governo estão se atrofiando. O governo, ao invés de estar aprimorando técnicas de comunicação, está andando para trás, está se infantilizando.

Está desaprendendo a falar.

Uma das características do poder, segundo análise pioneira presente no clássico The Federalist, é o “encrouchment”, um termo sem tradução exata para o português, mas que significa a tendência a crescer sobre o outro, a invadir o espaço do outro. É uma tendência biológica de qualquer instituição política. O poder dessa instituição cresce até o limite imposto por outro poder. Os poderes tendem a se chocarem, a se limitarem uns aos outros. Isso faz parte da doutrina democrática.

Entretanto, se o governo não se posiciona politicamente, os outros poderes crescem para cima dele.

Em que país do mundo, um ministro de corte suprema tem mais presença na mídia do que o presidente da república?

O Brasil.

Gilmar Mendes dá mais entrevistas, assume mais posições políticas, que a Dilma.

E olha que, segundo a Constituição, o código da magistratura, o manual de ética do STF, etc, é vetado ao juiz exercer atividade político-partidária.

A mesma coisa vale para delegados e promotores, e todos fazem política na maior cara de pau.

Já vimos que Dilma não gosta de falar.

Visivelmente, ela não se sente à vontade. Só que aí a coisa piora, porque ela perde a prática, atrofia as cordas vocais, perde o traquejo, e quando tem, obrigatoriamente, de falar, para cumprir um protocolo, não faz direito. E aí passa a gostar cada vez menos.

É que nem jogar sinuca. Se você fica muito tempo sem jogar, desaprende, fica ruim de taco, e aí, quando vai jogar, não consegue mais encaçapar nenhuma bola, e passa a não gostar mais de jogar.

Dilma precisa entender que o seu cargo é de natureza essencialmente política, em função da visibilidade oferecida pelo sufrágio universal, pela campanha, pela própria característica do regime presidencialista.

O seu rosto e sua voz oferecem segurança a milhões de brasileiros. É uma lógica política primária. Não por outra razão, tantos governos espalhavam fotos e estátuas da liderança por toda a parte, visando assegurar estabilidade política.

A figura do presidente da república é um dos principais trunfos políticos do governo – na comunicação. Nossa democracia não precisa espalhar fotos e estátuas de Dilma.

Mas custava ela falar regularmente à nação?

Custava ela transformar o Café com a Presidenta num programinha semanal de TV na EBC, divulgado simultaneamente pelas redes sociais?

A mesma coisa vale para o presidente da Petrobrás. Tem de falar regularmente à nação.

Os blogs da Petrobrás e do Planalto bem que podiam passar por uma recauchutada no visual, por um banho de loja!

Que tal o governo e Petrobrás disponibilizarem alguns aplicativos para smartphones?

Quando os blogueiros entrevistaram Graça Foster, no primeiro semestre do ano passado, a primeira coisa que ela disse, ao entrar na sala, para nossa perplexidade, foi que “não era muito de internet”, que ainda era da geração do impresso. E fez o gesto de folhear uma revista com as mãos (o que para mim foi quase um insulto).

Pois é, Graça, está na hora de começar a mudar.

Até porque,  e isso já tem algumas décadas, a oscilação das cotações do petróleo e da Petrobras nas bolsas não chega ao conhecimento dos operadores via nenhum papel impresso…

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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