Renan está certo. Dilma tem que dialogar


 

Bem, desta vez vou na contramão.

Acho que o presidente do Senado, Renan Calheiros, agiu corretamente em devolver a MP que punha fim à desoneração das folhas de pagamento.

A MP chega num momento delicado da economia, e pode afetar o emprego.

Possivelmente, Renan Calheiros prestou um inestimável auxílio à Dilma, porque ajudou a evitar a deterioração do mercado de trabalho.

Além disso, trata-se de uma MP intempestiva. Quando Dilma lançou o programa para desonerar a folha de pagamento, havia a impressão que seria uma medida definitiva.

Eu pelo menos tive essa impressão, e achei uma medida justa e inteligente. Quem emprega mais, paga um pouco menos imposto.

Não era então? Era uma coisa temporária, uma ação anticíclica?

De qualquer forma, a medida deu certo.

O emprego foi praticamente a única variável da economia brasileira que o governo pode brandir com orgulho durante o processo eleitoral.

Sou obrigado a ser repetitivo.

A presidenta peca, mais uma vez, pela falta de diálogo, comunicação, política.

Renan reclamou que a medida não foi discutida com o Legislativo.

Tinha que ser.

Dilma tem que sentar com Renan e Eduardo Cunha antes de mandar qualquer medida ao congresso.

Senão fizer isso, vai perder tudo. O governo vai sofrer um verdadeiro massacre no legislativo.

Assim como tinha de ser discutida com a população e as centrais.

É preciso explicar à população o que está acontecendo.

Usar a TV aberta, dar entrevista, abusar das redes sociais.

A presidente só usa seu twitter para repetir frases de seus discursos em inagurações ou necrológios.

Por que não usa para discutir política?

Por que não suas redes como canais de diálogo com a população, para monitorar como as pessoas estão se sentindo em relação ao governo e à presidenta?

Por que não as usa para fazer perguntas, para ouvir?

Depois que as ideias e projetos do governo tiverem sido discutidos com o senado, a câmara, partidos, sindicatos, empresários, a sociedade, a presidenta podia usar as redes para pedir o apoio da população para sua aprovação.

Mande email, whatsapp, facebook, twitter, use tudo para pedir à população engajamento numa luta em comum em prol do desenvolvimento nacional.

É assim que se faz.

A presidente nunca vai conseguir aprovar mais nada se continuar agindo dessa maneira fria, distante, expedindo burocraticamente MPs para o Congresso Nacional.

As medidas para anular a desoneração das folhas de pagamento implicarão em maior pressão tributária sobre as empresas que mais empregam?

Não seria melhor aplicar um imposto sobre grandes fortunas, ou adotar medidas mais rígidas para conter a nossa evasão fiscal, a maior do mundo?

Enfim, o governo precisa ouvir mais a sociedade.

Não foi a sociedade que elegeu Dilma?

Quem sabe ela – a sociedade – não pode lhe ajudar a governar?

Quanto à inclusão do nome de Renan Calheiros na lista de Janot, eu prefiro manter a coerência e não condená-lo previamente, como faz a mídia com petistas.

Renan e Cunha terão direito ao contraditório, à defesa, e são inocentes até prova em contrário.

Minha divergência com eles é política. Se eles tem problemas na justiça, preciso de provas para acusá-los.

Não vou entrar nessa onda de delação premiada.

Se eu ver, ouvir, tocar, essas provas, aí sim.

Além do mais, já estou escaldado. Setores espertos do MP adoram fazer esse jogo. Incluem alguns nomes da oposição para adensar um processo viciado e chancelar a sua farsa, depois tiram os nomes da oposição, e pronto, ganham um poder monárquico sobre a política brasileira.

E com apoio dos próprios petistas, ludibriados facilmente com a possibilidade de verem seus adversários saírem chamuscados no tribunal da mídia.

Temos que discutir política e desenvolvimento nacional, e não afundarmos todos num debate policialesco e moralista que só interessa aos vendilhões que lucram com as crises e com a instabilidade.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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