O ataque do UOL à mídia alternativa

Já esperávamos por isso.

Fernando Rodrigues, jornalista do UOL, depois de fazer uma matéria em que revela os bilhões que a grande mídia ganha do governo, agora faz um outro post para criminalizar os gastos oficiais com a mídia alternativa.

É assim, a grande mídia ganha bilhões do governo e está tudo certo.

A mídia alternativa ganha um milésimo do que ganha a grande mídia e é criminalizada.

O governo, como sempre, responde com timidez, sem fazer o debate político.

A Secom deveria responder: ora, vocês querem ficar com tudo?

Os dados trazidos por Fernando são distorcidos. Ele se atém, por exemplo, ao mês de dezembro, quando os blogs políticos tem sua mais baixa audiência, por motivos óbvios (férias, natal, reveillon), e quando os grandes, pelas mesmas razões, tem suas maiores audiências (promoções publicitárias, etc).

Chamar blogs de política e economia com audiências de centenas de milhares de pageviews por dia, de sites com “baixa audiência”, é zombar da inteligência do leitor.

A Secom, ao aumentar timidamente os recursos de publicidade federal para a internet, mas não fazer uma defesa politizada da estratégia, acaba entregando os blogs à senha da turba fascista.

Ora, os grandes portais de internet não podem, obviamente, ser comparados aos blogs. O portal da UOL, por exemplo, tem até seção de vídeos pornô. Aliás, todos esses grandes portais tem. A blogosfera política, obviamente, não pode enveredar por esses caminhos para ampliar sua audiência.

Os grandes portais tem acesso direto às celebridades da tv aberta, até por serem controlados pelas mesmas empresas (caso da Globo). Outra coisa que os blogs políticos não podem explorar.

Pensando bem, Fernando Rodrigues não está errado. Ele ganha seu salário do UOL e, portanto, defende que o UOL ganhe mais dinheiro do governo.

Errado está a Secom, que foge ao debate.

Por quantas décadas, esses grupos de mídia receberam verbas do governo? Como a grande mídia brasileira construiu sua audiência? Não foi através de imensos subsídios públicos, continuados ao longo de muito tempo. Não foi dado um golpe de Estado cuja razão de ser era justamente implementar uma brutal censura política no país, deixando que apenas aqueles alinhados à ditadura, como Folha, Globo, Estadão e Veja, vivessem e prosperassem?

Além disso, a grande mídia recebe verba pública e usa o dinheiro para promover seu conteúdo na internet, ou seja, pega dinheiro público para inflar sua própria audiência.

A blogosfera não faz isso, até porque recebe muito pouco.

Ministro Edinho Silva, leia o seguinte livro, editado pelo Barão de Itararé: “Para garantir o Direito à Comunicação”, organizado pelo professor Vinicius de Lima.

Abra na página 255, no seguinte capítulo: “Mídia livre e plural para apoiar a democracia européia – Relatório do Grupo de Alto Nível sobre Liberdade e o Pluralismo na Mídia”.

O original em inglês está neste link.

Leia, por favor. Mande todos na Secom lerem. Distribua isso para todos os ministros e para a presidência da república.

O relatório diz, claramente, que os governos devem incentivar, através da publicidade institucional, a pluralidade na mídia de seus países. Para isso, naturalmente, devem dar tratamento diferenciado à mídia alternativa, que tem opiniões diferentes da mídia hegemônica (e que hoje, aliás, nem é tão hegemônica assim).

Leia também o livro Violência Midiática, de Vicente Romano, sobre as estratégias da grande mídia para controlar a opinião pública.

Prepare-se e venha para o debate, ministro!

Coragem!

Defenda a democracia!

A grande mídia não tem razão. A grande mídia é cria da ditadura!

Ela quer vampirizar todas as verbas públicas, como sempre fez.

Está disposta inclusive a violar, mais uma vez, a soberania popular, e patrocinar novo golpe de Estado, apenas para garantir a sua sobrevivência, e usar o Estado para matar seus concorrentes.

Fez isso em 1964 e está disposta a fazer de novo agora.

E o fará para sabotar, mais uma vez, a liberdade de expressão.

A violência com que Aécio, o protegée da nossa mídia, tratou os raros corajosos que lhe faziam oposição na imprensa, durante seu governo em Minas, e a indisfarçável fome com que a mídia – o post de Fernando, cheio de opiniões, é a prova disso – trata o assunto do financiamento estatal, mostram que a oposição não está disposta a apoiar nenhuma política de apoio à pluralidade, esteio máximo da liberdade de expressão em qualquer país democrático.

Afinal, que raios de democracia é essa em que toda a verba privada e pública de publicidade continua concentrada em meia dúzia de barões sonegadores e apoiadores de ditadura?

 

PS: Eu faço a defesa dos blogs, sem no entanto ter nunca recebido nada de nenhuma estatal ou governo. Só agora uma estatal resolveu fazer um bannerzinho aí do lado, a um custo, aliás, muito abaixo do preço que o setor privado (por exemplo, o banner da faculdade, logo acima) me paga. O blog ainda continua sendo financiado, basicamente, pelos seus mais de 700 assinantes.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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