Uma análise cruel e pessimista de Christian Lynch

Reproduzo abaixo uma análise cruel de Christian Edward Cyril Lynch, professor de Ciência Política no Iesp.

Cruel mas realista.

Claro que a política é dinâmica, e tudo pode mudar se houver iniciativa do governo e mobilização popular.

Dilma, infelizmente, continua perdida. Inaugurando casas em Roraima, como se fosse candidata a vereadora ou prefeita, ao invés de montar um gabinete de crise de alto nível, com os maiores especialistas do país em política, marketing, comunicação. Podia convidar inclusive consultores de outros países, para tentar reverter a crise montante.

Quando fará uma profunda mudança ministerial, trazendo nomes com prestígio social, como fez com Renato Janine Ribeiro, na Educação?

Quando iniciará uma grande ofensiva de comunicação?

Se perder o timing, contudo, se demorar, não vai adiantar mais.

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O impeachment e a novíssima República

7 de agosto de 2015

Por Christian Edward Cyril Lynch, no blog Do Alto da Torre

Vejam o cenário. Na “sociedade civil”, a maior impopularidade presidencial desde o Hermes da Fonseca. Dólar disparado. Desemprego em maré montante. Os mais pobres, tornados indiferentes à sorte da Dilma.Do lado do mercado, os industriais fluminenses e paulistas clamam por paz e governabilidade para pôr fim à crise. Ou seja, compram a tese de que a causa principal da crise econômica é política.

Do lado do governo… O Dirceu preso de novo. O Lula afirmativo por frente e negativo, exausto, por trás. Na Casa Civil, o ministro que é braço direito da presidência pede arrego aos tucanos e é esnobado. Os ministros dos partidos que rompem do governo ficam nas pastas. A Dilma cada vez mais catatônica, muda, desprestigiada, impotente. A costumeira inépcia governamental ajuntada à paulatina desagregação que marcha ao colapso. Nenhum dos expedientes costumeiros parece surtir nenhum efeito para reverter a marcha dos acontecimentos. No Jaburu, o suposto coordenador do governo, o vice Temer, reconhece a gravidade da crise e pede cavalheirescamente a paz e a concórdia, posando de estadista sóbrio e ponderado, para cujas mãos a presidência do Brasil poderá passar segura.

No congresso, sob a batuta de Cunha e Renan, o presidencialismo de coalizão arruinado, com os partidos deixando de temer represálias do governo, votando sandices só pra desmoralizar o Executivo. Votação de 400 votos contra 10! Até o PT abandonando a Dilma no ajuste fiscal, com o líder do governo não controlando mais nada nem ninguém. Parecem dizer – este governo não é de esquerda, não nos representa. Partidos clientes, como o PDT e o PTB, rompem com o governo, e este… Apatetado. Enquanto isso, o Cunha limpa a pauta da votação das contas para colocar as do governo Dilma em julgamento e manda fazer a triagem dos pedidos de impeachment adequadamente embasados. Vai esperar o 16 de Agosto, para ver as ruas do país se encherem contra o governo, o PT, etc, e gritarem pelo impeachment.

E depois dessa, já sabemos o resto do script que tentarão seguir, que é o mesmo de 1992. Dando certo, convocarão outras manifestações, até que, pela unânime aclamação dos povos, o governo colapsado virá abaixo, impedido ou por renúncia. Depois, será o “governo de união nacional” em torno do Temer, em coalizão do PMDB com a direita, os tucanos emplacados em cargos centrais, e tal. Em três meses, a poeira assentada. E depois, quem sabe, o parlamentarismo, para garantir o ascendente do Legislativo – leia-se, da classe política – contra o Judiciário e o Ministério Público, de um lado, e a polícia federal, de outro.

Será a novíssima República – e que república!

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Christian Edward Cyril Lynch é professor assistente do Departamento de Direito Público da Universidade Federal Fluminense (UFF) e pesquisador bolsista da Fundação Casa de Rui Barbosa (FCRB). Reside atualmente na cidade do Rio de Janeiro. Seu eletrônico é clynch3@hotmail.com.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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