A democracia avança na América Latina

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Análise Diária de Conjuntura – 23/11/2015

A vitória apertadíssima do candidato da oposição na Argentina mostra um continente cujas histórias seguem se desenvolvendo de maneira bastante homogênea.[/s2If]

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Todos viveram golpes militares e ditaduras pró-americanas em momentos parecidos, após um período de governos populistas.

Todos viveram juntos os anos neoliberais, que tanta miséria e sofrimento trouxe a seus povos.

Igualmente, os eleitorados de quase todas as nações latino-americanas experimentaram uma forte guinada à esquerda a partir do início do novo milênio.

Essa guinada à esquerda coincidia com um momento ultraconservador da política externa dos Estados Unidos, momento este cujas marcas trágicas ainda se vêem no planeta: o processo brutal de desestabilização do oriente médio teve início nas eras Bush.

E agora, experimentamos o mesmo cansaço, o mesmo esgotamento com modelos progressistas de governo, os quais, mesmo promovendo uma incomparável ascensão social, acumulou erros políticos e econômicos e acumulou adversários.

Na Venezuela, Maduro venceu as últimas eleições por uma margem extremamente apertada, e as eleições legislativas, programadas para o fim deste ano, prometem outro baque para o governismo.

No Brasil, Dilma ganhou com margem igualmente apertada as eleições de 2014, e o seu partido reduziu sua bancada na Câmara.

Em todos estes países, nota-se um jogo de tensões bastante parecido. Os grupos de mídia tradicionais, todos eles surgidos na ditadura militar, tornaram-se o principal partido político de oposição a governos ancorados sobretudo em movimentos sociais e sindicatos.

A política latino-americana, naturalmente pela psicologia própria desses povos, é muito marcada pela emoção, por um lado, e por uma espécie de sadismo social de suas elites, por outro.

Entretanto, está claro que, mesmo perdendo eleições, a esquerda organizada nunca foi tão forte na América Latina. Movimentos sociais, sindicatos, intelectuais, academia, tem se desenvolvido de maneira extraordinária nestas últimas décadas de liberdade política.

Um governo autoritário, que não ouça os movimentos sociais, terá enorme dificuldade para obter estabilidade política, e mais ainda para conseguir se reeleger.

No Chile, tivemos um exemplo interessante do que pode vir a acontecer daqui para a frente. Governos de esquerda e direita se alternando democraticamente, sem grandes rupturas e sem grandes traumas.

Na própria Venezuela, onde a polarização política atingiu níveis muito altos e muito agressivos, a oposição se tornou mais moderada, e suas lideranças mais importantes já entenderam que não pode haver retrocesso.

Para a oposição brasileira, a vitória de Macri representa uma lição de história e de democracia. Nenhuma força política tem vitória garantida. Mas para governar um país é preciso seguir a regra mais importante: respeitar o voto.

O voto é a expressão máxima da liberdade política do povo, porque somente o voto expressa diretamente a sua vontade de ser governado por esta ou aquela força.

A instabilidade política vivida no Brasil decorre principalmente da falta de respeito com que a oposição tratou o resultado eleitoral de 2014.

Macri ganhou por margem mais apertada do que ganhou Dilma Rousseff, mas devemos respeitar o resultado da mesma forma que se fosse por uma larga vantagem.

O que é preciso é que os povos latino-americanos tenham paz política, condição fundamental para que as economias prosperem e as democracias continuem amadurecendo.

As conquistas obtidas pelos governos progressistas latino-americanos, na Argentina, Bolívia, Venezuela, Brasil, dificilmente serão revertidas, porque foram conquistas profundas, não-materiais.

Os povos ganharam auto-estima, aprimoraram sua educação, reduziram seu analfabetismo, sentiram o gostinho de uma vida digna, do qual jamais esquecerão.

Isso significa que a direita terá de governar melhor, terá de ser mais transparente e, sobretudo, mais democrática. Caso caso contrário, não terá futuro.

O povo ganha, portanto, de uma forma ou de outra: se a direita fizer um governo melhor do que fez nos anos 90, mais voltado para o povo (coisa difícil, mas não impossível), o povo ganha. Se não fizer, o povo se insurgirá e a esquerda ganha as próximas eleições – e o povo também ganha.

Num regime democrático, o mais importante, para o médio e longo prazo, não são vitórias eleitorais, cujos resultados serão, necessariamente, instáveis e penduralres. O mais importante é o desenvolvimento de uma consciência política – e isso aconteceu.

No Brasil, a situação é particularmente ruim porque as forças progressistas que ganharam o governo não fizeram a luta política, o que significou que aceitaram um papel degradante, de vitoriosos eleitorais mas derrotados políticos. Nada, porém, que não possa ser revertido naturalmente, pela própria luta política, que não visa apenas a vitória, mas a conquista da dignidade.

Os peronistas de esquerda perderam uma eleição na Argentina, mas a vitória que conquistaram, tirando o país da situação humilhante em que se encontrava após alguns anos de neoliberalismo, isso jamais lhes será usurpado.

A mesma coisa vale para os chavistas – quem ousará negar a sua vitória contra o analfabetismo, contra a humilhação do povo, contra a ignorância política?

A mesma coisa vale para o Brasil – quem ousará negar os avanços proporcionados por alguns anos de políticas progressistas, mesmo que moderadas?

Fonte da imagem que abre o post: jornal Clarin.

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Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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