Fiasco de marchas golpistas anima movimentos sociais

Análise Diária de Conjuntura – 14/12/2015

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É evidente que o fracasso retumbante das marchas golpistas, cuja afluência declinou mais de 70% segundo o Datafolha (que mediu apenas São Paulo; em outras cidades, as marchas minguaram ainda mais) é o grande fato político do final do ano.

O fracasso foi até surpreendente, visto que agora, mais que nunca, há uma perspectiva real de impeachment. Abriu-se um processo na Câmara e a oposição, que ainda não tem votos suficientes, precisaria, mais que nunca, oferecer uma grande demonstração de força nas ruas.

Não ofereceu.

É também curioso que o Datafolha não tenha divulgado, até o momento, outra de suas pesquisas pró-impeachment.

Aliás, reitero aqui minha crítica aos cientistas políticos brasileiros, que não fazem, na minha opinião, uma crítica necessária aos institutos de pesquisa, que pretendem se tornar “urnas virtuais”, substituindo o voto.

As pesquisas de aprovação tem sido usadas falaciosamente para chancelar o golpe.

É isso que os reacinhas golpistas não entendem.

Eu também tenho profundas críticas ao governo. Num dia especialmente irritado, talvez eu respondesse ao pesquisador que acho o governo ruim ou péssimo.

Não preciso fazer parte dos 7% ou 10% que aprovam o governo, ou acham a gestão boa/ótima, para entrar na luta contra o golpe.

Tenho igualmente profundas críticas ao Partido dos Trabalhadores. Também estou decepcionado com a corrupção e com a roubalheira.

O PT se tornou, além disso, um partido de poucos quadros.

Vide a Câmara. É o partido com maior número de parlamentares na Casa, e parece que é um dos menores. Só tem 3 ou 4 deputados que fazem a luta política. O resto não se posiciona, não produz nada.

Parece um bando de fisiológicos inúteis.

Aqui no Rio, a mesma coisa. O PT é uma legenda quase fantasma. Tem uma pequena e combativa militância, mas institucionalmente é um zero à esquerda. Não organiza um mísero debate, e quando o faz, é sempre uma coisa fechada, medíocre.

Mas… pelo amor de Deus!

Isso não significa que apoiaria um golpe travestido de impeachment, sem base jurídica.

Também não apoiaria qualquer movimento para destruir o PT, que, independente de seus problemas, é um partido cuja história o torna um dos momentos mais importantes da nossa democracia e da luta social dos povos.

A maioria dos brasileiros são críticos ao governo, ao PT, mas não querem uma ruptura democrática. E, sobretudo, entendem que a oposição é ainda pior: não por outro motivo, elegeram, pela quarta vez consecutiva, um presidente do PT.

Defeitos e vícios, todos temos, inclusive este blogueiro, e estamos abertos e vulneráveis às críticas, e aprendemos com elas, e tentamos nos aprimorar.

A questão ética também é um problema real que governo e PT devem olhar com atenção. É preciso adotar medidas criativas para combater a corrupção e recuperar um pouco da dignidade perdida.

É preciso ser honesto e parecer honesto.

Os eventos do PT não deveriam se dar em hoteis de luxo, nem adotar a estética brega e triunfalista que tem usado nos últimos tempos.

O vitimismo também não cola muito com o PT.

A esquerda brasileira precisa, naturalmente, sofisticar suas estratégias, inclusive do ponto-de-vista estético.

Governo e PT deveriam adotar novos slogans, novas cores, novos formatos visuais, bandeiras novas.

Minha Casa Minha Vida é um grande projeto, mas é preciso inovar.

Por que Dilma nunca focou seu marketing no Ciência sem Fronteiras, programa pioneiro de bolsas para jovens brasileiros estudarem no exterior?

Por que não criar programas novos de investimento em tecnologia e pesquisa?

Por que o ministro da Fazenda só fala em ajuste fiscal? A economia não é movida por impostos, mas pela produção. O ministro tem de provocar o debate sobre a atividade econômica brasileira, falar sobre a venda de ingressos para cinema, a produção de abacates, geladeiras; sobre comércio eletrônico, etc.

Em relação à Dilma, me parece evidente que ela precisa melhorar a relação com a imprensa, o que não significa submeter-se aos ditames do cartel midiático.

Muito pelo contrário! Dilma precisa procurar a imprensa progressista. Mas tem de fazer isso com inteligência, com planejamento.

Nas coletivas, não adianta responder com sarcasmo vazio aos repórteres. Além do mais, Dilma não é boa para coletivas quebra-queixo. Ela se sai melhor em entrevistas mais intimistas, onde fica mais à vontade. Aposte nisso!

Ponha um porta-voz para as coletivas diárias!

Por que Dilma não escolhe seus entrevistadores? Por que não dá uma entrevista para Fernando Morais, Janio de Freitas, Mario Magalhaes, num dia; para blogueiros, em outro; para o Brasil de Fato, em outro; para a Carta Capital, em outro?

Há vários medalhões com enorme prestígio na grande mídia.

Por que essa tola submissão à Globo, preferindo dar entrevistas para o Jô às três horas da manhã?

Quem ainda assiste ao Jô?

Outra consequência do fracasso das marchas golpistas é que isso ajudará a animar as manifestações antigolpistas, agendadas para esta quarta-feira, dia 16, em todo país.

Essas manifestações, mais que nunca, serão essenciais para vencermos o golpe do impeachment, e pressionarmos o TSE para não dar o golpe mais desonesto e mais antidemocrático de todos: a cassação do mandato.

Para isso, ajudaria que governo e PT investissem em comunicação. É preciso pressionar o TSE e o STF via opinião pública, via redes sociais, e para isso a defesa contra as acusações da oposição não pode ser uma estratégia apenas jurídica, mas também política e simbólica.

O governo tem de se defender politicamente e isso é essencial para a economia, porque um governo que não se defende é um governo fraco e instável, e essa instabilidade contamina a economia.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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