Em semana decisiva, governo conta com 28 votos na comissão de impeachment e 207 no plenário da Câmara

No Blog do Kennedy Alencar.

Governo conta 28 votos na comissão; oposição, 35

Após articulações nos últimos dias, o governo contabilizava na noite de domingo 28 votos na comissão especial da Câmara contra o parecer do deputado federal Jovair Arantes (PTB-GO). O relatório de Jovair é favorável à abertura de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff. Para a disputa em plenário, o número do governo girava em torno de 206, 207, já incluindo eventuais ausências.

Alguns desses deputados diziam que estavam sofrendo pressões da opinião pública e até da família para votar a favor da abertura de processo de impeachment contra a presidente. O governo tentará aumentar um pouco mais esse número, mas sabe que, nas condições políticas atuais, dificilmente angariará mais apoio. É preciso levar em conta que o clima político favorece o abandono do governo e o embarque na canoa do impeachment.

O governo Dilma trabalha para tentar chegar perto dos 30 votos na comissão do impeachment e não baixar de 200 para a disputa em plenário. No pior cenário na comissão, o governo espera ficar acima de 25, porque seria uma sinalização de força semelhante no plenário. “A comissão é um microcosmo”, diz um ministro.

Nas contas da oposição, pelos menos 35 deputados deverão votar a favor do relatório de Jovair. A intenção é se aproximar ao máximo de 40 votos na comissão, também numa tentativa de mostrar força para a batalha no plenário da Câmara.

A oposição crê que tem algo real por volta dos 315 votos a favor da queda da presidente. Há articuladores da oposição que afirmam já possuir 330, mas nessa conta entra quem também está negociando com o governo. Logo, o número de 315 seria mais confiável. Nesse cenário, faltariam 27. Não é muita gente, mas é um grupo bem disputado.

Nos bastidores da Câmara, o comentário é que há uma fatia de 50 a 60 deputados que decidirá na undécima hora.

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Temores e expectativas

O governo teme alguma ação da Lava Jato ou desdobramento das delações da Andrade Gutierrez que possam desequilibrar o jogo na reta final, sobretudo se atingir o ex-presidente Lula ou algum membro do governo. A pressão da opinião pública e a provável votação no domingo também são elementos que jogam contra o governo.

Já a oposição se preocupa com a força que todo governo tem, que são os cargos e as verbas. A caneta ainda está com a presidente Dilma Rousseff. E há uma promessa do ex-presidente Lula de que aqueles que ficarem ao lado do governo serão recompensados com maior divisão do poder.

O Brasil vive hoje um clima de maior divisão do que havia na época da votação do impeachment de Collor, em 1992. Isso favorece Dilma na comparação com Collor. Naquele momento, havia um alto grau de consenso nas forças políticas e na sociedade de que seria inevitável a deposição de Collor diante do conjunto da obra e da descoberta da Fiat Elba.

Em relação à presidente Dilma, há um conjunto da obra desfavorável a ela, sobretudo por causa da crise econômica. Mas não existe, hoje, prova de envolvimento da presidente com os escândalos investigados pela Lava Jato.

Por último, há divergências jurídicas significativas em relação ao enquadramento de Dilma no crime de responsabilidade, com advogados e políticos que defendem com ardor tanto uma posição quanto outra.

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Aval tucano a Temer

A pesquisa Datafolha que mostrou que 60% querem a renúncia de Dilma e Temer e que um percentual parecido defende o impeachment de ambos tem impacto sobre o confronto entre governo e oposição. Contribui ainda mais para a incerteza em relação ao que vai acontecer no plenário da Câmara.

A pesquisa mostra que, fique Dilma no poder ou entre Temer no Palácio do Planalto, haverá potencial para forte contestação do vencedor no dia seguinte.

Quem conseguir ao longo desta semana mostrar que pode lidar melhor com esse cenário de dificuldade poderá obter alguma vantagem na votação em plenário.

Michel Temer tem se esforçado para se apresentar como mais capaz de reaglutinar forças no Congresso. O vice-presidente conta com o apoio do PSDB, que seria, na prática, avalista de um governo peemedebista. O mau desempenho de políticos tucanos na pesquisa Datafolha sobre a sucessão de 2018 joga a favor do apoio do PSDB a um eventual governo Temer.

O PSDB apostaria numa reorganização de suas forças para disputar o Palácio do Planalto em 2018. Hoje, no Datafolha, apesar do desgaste de Lula e da pouca exposição pública de Marina Silva, o ex-presidente e a líder da Rede são nomes mais competitivos do que os tucanos.

 

 

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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