Política no Brasil está mais para ‘Walking Dead’ do que ‘House of Cards’, diz Financial Times

Foto: Divulgação / AMC

na BBC Brasil

O enredo da atual crise política no Brasil já foi muito comparado à série americana de ficção House of Cards, pelo teor de intrigas e reviravoltas na trama.

Mas o agravamento da crise está tornando esse roteiro mais parecido com o da série de TV The Walking Dead, uma história de zumbis, avalia o correspondente do jornal britânico Financial Times no Brasil, Joe Leahy.

“Pelo seu envolvimento em corrupção, ou apenas pelo oportunismo cínico, os principais atores políticos do Brasil estão rapidamente perdendo legitimidade aos olhos de um eleitorado cansado”, escreve Leahy em coluna na edição do jornal desta terça-feira.

Para Leary, “mais e mais brasileiros” estão dispostos a aderir a um movimento “fora todos”, pela saída da presidente Dilma Rousseff e de todo o Congresso por meio de novas eleições.

Ele cita a alta frequência de protestos no país nos últimos meses – e a polarização entre o verde-amarelo do pró-impeachment e o vermelho do “não vai ter golpe” -, mas identifica o “fora todos” como “novo tipo de manifestação”.

Menciona como exemplo um ato que reuniu 5 mil pessoas em São Paulo no último dia 1º, identificado pelos organizadores como “apartidário e contra a corrupção” – o protesto teve apoio do PSTU e da central sindical Conlutas.

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“A crescente natureza bizantina de uma batalha pelo impeachment de Rousseff significa que mais e mais brasileiros estão inclinados a se render ao desgosto e se unir ao movimento fora todos”, diz Leahy.

Corrupção

O jornalista cita os problemas de Dilma – “profundamente impopular, presidindo a pior recessão em um século e com seu partido acusado de corrupção desenfreada” – e a acusação de manipulação de contas públicas que sustenta o atual processo de impeachment.

Menciona o recente desembarque do PMDB do governo “em preparação para o impeachment”, mas diz que o partido está envolvido “até as orelhas” em denúncias de corrupção da Operação Lava Jato, que apura, entre outros, crimes na Petrobras.

Leahy diz que “pesos pesados” do PMDB, como os presidentes da Câmara, Eduardo Cunha, e do Senado, Renan Calheiros, estão sob investigação de corrupção, e conclui que isso “tira certa legitimidade do impeachment”. “Pois muitos analistas acreditam que (eles) queiram assumir o poder de forma a protegê-los das acusações.”

O correspondente afirma que o vice-presidente, Michel Temer (PMDB), até agora “tem estado fora de investigações de corrupção”, mas também é alvo de um pedido de impeachment.

“Com todos sofrendo impeachment ou implicados em corrupção, o movimento Fora Todos está ganhando terreno”, afirma ele, citando a defesa recente de novas eleições pela ex-candidata à Presidência Marina Silva (Rede).

Mas essa saída da “limpeza geral” é improvável, avalia Leary, porque não há uma alternativa constitucional para isso, a não ser que Dilma e Temer sofram impeachment, renunciem ou a chapa seja cassada pela Justiça Eleitoral. “Com ambos (Dilma e Temer) não mostrando sinais de querer o afastamento, é improvável que o impasse se resolva logo.”

“Enquanto isso, os políticos ‘zumbis’ de Brasília ameaçam tornar um país que já esteve entre as histórias globais mais vibrantes de crescimento em uma economia zumbi do mundo emergente”, diz.

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