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Bloco de Notas #1

Toda sexta. Sobre música e adjacências. Por Bernardo Oliveira*, editor de música d’O Cafezinho.   — Konono N°1 meets Batida é o novo disco do grupo congolês Konono N°1, gravado em parceria com Pedro Coquenão, produtor português-angolano mais conhecido como Batida. Ao lado do Kasai Allstars, o Konono Nº1 é um dos grupos mais importantes na divulgação da […]

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Konono N°1 e Batida. Foto: Vera Marmelo.
Konono N°1 e Batida. Foto: Vera Marmelo.

Toda sexta. Sobre música e adjacências.
Por Bernardo Oliveira*, editor de música d’O Cafezinho.

 

Konono N°1 meets Batida é o novo disco do grupo congolês Konono N°1, gravado em parceria com Pedro Coquenão, produtor português-angolano mais conhecido como Batida. Ao lado do Kasai Allstars, o Konono Nº1 é um dos grupos mais importantes na divulgação da música congolesa, particularmente associada às experimentações elétricas com ritmos tradicionais característica dos Congotronics. Mestres na amplificação criativa da kalimba africana, a música festiva do grupo ajusta-se, com bons resultados, à régua severa do EDM. Assista aqui a uma prévia lançada pela Crammed.     

— Com uma pegada de filme policial contrária ao Tropa de Elite, os Racionais MCs lançaram no final do mês passado (26) o primeiro vídeo de Cores e Valores. “Um Preto Zica” foi dirigido por KondZilla, diretor que trabalha com funkeiros como MC Livinho e MC Pedrinho. O clipe narra a trajetória de um “dedo-de-seta” (o popular “alcaguete”) que vacila e, na sequência, cai nas mãos da rapaziada. Assista aqui.

— Gabriel Guerra, o popular Guerrinha, é uma das figuras mais interessantes na seara do experimentalismo pop brasileiro. Instrumentista, arranjador e compositor que revisita de forma inusitada as sonoridades jazz-pop dos anos 80, acaba de lançar o segundo EP de sua banda de rock, singelamente batizada como Crusader de Deus. O nome do EP é Juros Perfeitos e é tipo um rock psicográfico com toques de economês (sério!). Saiu pelo selo Balaclava e pode ser ouvido aqui.

— Aos 81 anos, João Donato lançou em março deste ano o álbum Donato Elétrico (Selo Sesc), disco no qual investe em sonoridades elétricas e analógicas características de seus trabalhos dos anos 70 — particularmente no discaço A Bad Donato. Produzido pelo pesquisador e produtor Ronaldo Evangelista, Donato Elétrico conta com músicos do calibre de Guilherme Kastrup e o combo afrobeat paulistano Bixiga 70, participações que conferiram uma atmosfera nigeriano-caribenha ao disco. Ouça aqui.   

— Fundado em 2009 pelo biólogo Diego Albuquerque, o Hominis Canidae é um dos blogs fundamentais para se iniciar um mapeamento abrangente da música brasileira contemporânea. Sua tarefa se resume a disponibilizar discos para download de uma imensidão de novos artistas brasileiros independentes e produzir mixtapes com esses trabalhos. Já são mais de 70 mixtapes para baixar no Bandcamp do blog. Baixe e ouça aqui.

— Talvez o único grupo da safra “Samba da Lapa” a investir solidamente no trabalho autoral, o Galocantô acaba de lançar seu terceiro disco independente. Intitulado Pano Verde, o álbum mantém o alto padrão de composição que marcou os dois primeiros, Fina Batucada e Lirismo do Rio. Com direção artística de Túlio Feliciano, Pano Verde traz compositores do calibre de Luiz Carlos da Vila, João Martins, Zé Luiz, Juninho Thybau, entre outros. Assista aqui ao clipe de “Vara de Família”, parceria de Nei Lopes e Fred Camacho. Ouça o disco aqui.

Galocanto? - foto Rose Amaral

Galocantô. Foto: Rosi Amaral.

— Marlon da Silva, mais conhecido como DJ Marfox, é um dos responsáveis pelas transformações da música eletrônica de matriz africana em Lisboa. Ao lado de seus parceiros DJ Nigga Fox, Blacksea Não Maya, entre outros (todos associados ao selo independente Príncipe Discos), criaram uma música eletrônica baseada em ritmos angolanos como o kuduro, a kizomba, o funaná e a tarraxinha. Seu último lançamento chama-se Chapa Quente e contém samples curiosos da batucada das escolas de samba brasileiras. Ouça o disco aqui.

— O sexteto paulistano Projetonave, produtores de rap que não abrem mão de combinações com jazz, dub e sons eletrônicos, lançou recentemente duas mixtapes em comemoração a seus 20 anos de atividade. O grupo abriu o baú de arquivos a dezenas de artistas como Cesrv, Cybass, Sants, Seixlack, Emicida, Síntese, Grassmass, Amiri, entre muitos outros. O resultado são 48 faixas, entre remixes e re-edits, lançadas em formato digital e cassete. Antes que se pergunte “por que em cassete?”, Akilez (responsável pelas programações do grupo) justifica: “Não consigo pensar numa mixtape em CD. É natural.” Ouça as mixtapes aqui.

— As composições do italiano Giacinto Scelsi (1905-1988) acabam de ganhar uma releitura ousada através do selo londrino SN Variations. Scelsi EP traz o “Duo para Violino e Cello” executado por Aisha Orazbayeva (violino) e Lucy Railton (violoncelo); “Invertebrate Harmonics”, composta pelo mestre das gravações de campo Chris Watson; e “Honshirabe”, gravada por Watson e interpretada por Joe Browning ao shakuhachi. Uma experiência aberta com o material rigoroso produzido por Scelsi. Ouça o disco aqui.

— A compilação Hy Brazil chega a sua décima edição com um punhado de novos artistas brasileiros focados na seara dos sons eletrônicos. Hy Brazil Vol. 10 – New Music from Brazil 2016 foi selecionada pelo produtor cultural Chico Dub — que esteve por trás do documentário Dub Echoes e é o responsável pelo Festival Novas Frequências —, e traz os beats invocados de Bmind e Comodoro SL/E (projeto de Paulo Caetano, do Bemônio), samples de candomblé com o Ubunto, o neobaile de John Woo e DJ Sydney, o space rock do Rakta e os experimentalismos de IN-SONE, Bella, Luisa Puterman, FELAPPI, entre outros. Escute e faça o download aqui.

— O selo independente Kafundó Records, especializado em “música de raiz e bass do Brasil”, é capitaneado pelo DJ norte-americano Maga Bo e o colecionador alemão Wolfram Lange, ambos radicados no Rio. O selo acaba de lançar o novo trabalho do ÀTTØØXXÁ, projeto criado pelo baiano Rafa Dias. O disco chama-se É F*DA P*RRA e dá prosseguimento ao Bahia Bass, tendência que mistura ritmos baianos com música eletrônica de pista. O disco pode ser escutado no Soundcloud da Kafundó.

— Dois veteranos da vanguarda jazzística de Chicago reapareceram nas últimas semanas com grandes trabalhos. Henry Threadgill — que ganhou o prêmio Pulitzer por seu disco In for a Penny, in for a Pound (2015) — lançou em abril deste ano ?Old Locks And Irregular Verbs com seu novo grupo, o Ensemble Double Up (ouça uma faixa aqui). Por sua vez, Anthony Braxton editou 3 Compositions (EEMHM) 2011 (ouça na íntegra aqui). Em ambos os casos, a composição se forma a partir de estratégias de improviso elaboradas para grupos e orquestras.

Omara “Bombino” Moctar ou simplesmente Bombino lançou em abril Azel, seu quarto disco solo. Guitarrista e compositor tuaregue, oriundo da região de Agadez (Níger), ficou conhecido pela guitarra extraordinária e por cantar na língua local, o Tamasheq. Aclamado como um dos grandes nomes da música tuaregue contemporânea, Bombino equilibra ritmos da tradição local com reggae e rock, conquistando o gosto “ocidental”. Particularmente, prefiro quando ele toca o som tuaregue mesmo, mas vale a conferida aqui.

*Professor da Faculdade de Educação/UFRJ, autor de “Tom Zé — Estudando o Samba” (Editora Cobogó, 2014).

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Bernardo Oliveira

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