Para aplicar um programa antipovo, Temer aposta na repressão contra os que enfrentam o golpe

Foto: Mauro Donato, repórter do DCM, após ser agredido pela PM em SP, na última quinta-feira. Crédito: Jornalistas Livres

Por Leonardo Miazzo, editor do Cafezinho

O golpe de Estado em marcha no Brasil, como O Cafezinho explica há muito tempo, não visa uma simples substituição no Palácio do Planalto. A tentativa de derrubar a presidenta Dilma Rousseff tem o objetivo de aplicar, por meio ilegítimo, o programa derrotado nas urnas em 2014. Para isso, é necessário destruir por inteiro o PT, principal representante da esquerda no Brasil, e suas principais figuras, especialmente Lula – aquele que causa arrepios na oposição de direita quando fala sobre a possibilidade de concorrer às eleições em 2018. Prender Lula – e Dilma – seria a cartada final daqueles que não têm voto para chegar ao poder.

O governo Temer emergirá cercado pela desconfiança e pela insatisfação da esmagadora maioria dos brasileiros – sua popularidade está no chão, enquanto a da presidenta cresce. Afinal de contas, muitos daqueles que gritavam feito fantoches “Fora, Dilma” começam, enfim, a perceber o tamanho do buraco em que Temer colocará o País. Primeiro, a desvinculação de receitas que, hoje, devem obrigatoriamente ser investidas em áreas como Saúde e Educação. A seguir, a tentativa de institucionalizar a terceirização sem limites e impor um dos piores ataques da História ao conjunto da classe trabalhadora. Depois, atacar na carne e sem piedade os principais programas sociais desenvolvidos ao longo dos últimos 13 anos, especialmente o Bolsa Família (com a exclusão de quase 36 milhões de pessoas de sua cobertura), o Pronatec (intenso corte no universo de pessoas beneficiadas), e o Minha Casa, Minha Vida (recrudescer duramente as condições para obter financiamento).

Além disso, para acariciar os que sentem saudade dos tempos da privataria tucana, Temer já garantiu que irá “privatizar tudo o que for possível”, especialmente na área de infraestrutura. Com um governo tão conservador – aliado ao mais reacionário Congresso dos últimos tempos -, devem seguir adiante perigosos projetos, como restrições ainda maiores à realização de abortos e ataques aos negros e LGBTs.

Com um pacote tão difícil de ser digerido, soa ridícula a afirmação de Temer de que o seu governo “unirá o Brasil”. As mobilizações contra o golpe e todos esses retrocessos vêm aumentando consideravelmente nos últimos meses, o que demonstra que a ilegítima gestão não terá paz nem por um dia. E é justamente por isso que os golpistas se articulam para legitimar uma violenta repressão contra os movimentos sociais, estudantis e todos os trabalhadores que lutam em defesa da democracia e das grandes reivindicações populares. Vamos aos fatos:

  • Temer dialogou com o deputado federal Marcos Montes (PSD-MG). Em pauta, a proposta de recorrer às Forças Armadas “para mediar conflitos por terras no Brasil”. Em termos mais claros, colocar o Exército na rua para reprimir a atuação dos movimentos de luta por terra e moradia, em especial o MST;
  • Com o particular esforço do fantasma Eduardo Cunha, avançam as tentativas de criar uma CPI para investigar a UNE, entidade que tem cumprido um brilhante papel na luta contra o golpe. A repressão ao movimento estudantil e à juventude como um todo será um dos eixos da política do governo Temer;
  • A asfixia contra blogs e sites progressistas – aqueles que lutam diariamente contra a supremacia da narrativa da mídia golpista e monopolista.
  • E um fato particularmente assustador: Alexandre de Moraes, o comandante da Polícia Militar mais violenta do Brasil, deve ser o Ministro da Justiça de Temer.

Este último ponto merece ser aprofundado. Em sua gestão à frente da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, Alexandre de Moraes transformou uma PM violenta em uma máquina de extermínio sob as asas da “legalidade”. As imagens da repressão contra professores, estudantes secundaristas, mulheres e todos os movimentos de luta rodam o Brasil e chocam a todos. Além disso, o secretário segue incapaz de justificar acontecimentos tenebrosos, como a chacina em Carapicuíba, no ano passado, na qual jovens foram assassinados sob circunstâncias absolutamente suspeitas.

Foto: Mídia NINJA

A provável escolha de Moraes por Temer é realmente o que parece ser: a institucionalização da repressão, da violência “legítima”, dos ataques às liberdades democráticas do povo brasileiro. O novo governo, para obter êxito na aplicação de seu programa antipovo, precisa contar com todo o aparato repressivo em seu máximo potencial. Para amarrar tudo isso, os golpistas serão agraciados com a complacência da grande imprensa, que há muito batalha para criminalizar a esquerda brasileira e todos os seus movimentos de luta.

Para derrotar todo esse conjunto de atrocidades, é preciso manter a onda de mobilizações de rua e disputar, nas redes e em todos os locais possíveis, a construção de uma nova narrativa, a contrapor a mídia monopolista e suas mentiras. Se o golpe de fato se concretizar, nascerá um período de graves turbulências e violentos ataques a todos os brasileiros; ao mesmo tempo, cabe a cada um de nós a tarefa de resistir. Resistência: essa é a palavra de ordem. Resistência contra Temer, Cunha (cujo fantasma ainda assombrará o País por muito tempo), Moro, STF, Janot (e toda a Justiça seletiva), Moraes e todos aqueles que tentarão impor, na base da força, o que os brasileiros combateram democraticamente nos últimos 13 anos.

Resistência!

 

 

 

 

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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