Uma crítica camarada a Lula

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Análise Diária de Conjuntura – 07/06/2016

Nos últimos anos, a cobertura política da grande mídia tornou-se uma tempestade tão avassaladora e ininterrupta de ataques aos governos petistas, que tínhamos pouco espaço para fazer nossas próprias críticas. Mesmo assim, fizemos o possível para apontar – sobretudo no último período – os problemas que víamos no governo Dilma.[/s2If]

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Hoje me sinto até, com perdão da presunção absurda, uma espécie de Tocqueville em Souvenirs, lembrando suas advertências ao governo francês de então, cego às movimentações que se faziam para derrubá-lo:

Senhores, eu vos suplico não agir assim; eu não peço, eu suplico; eu me ponho de joelhos perante vocês, tanto eu creio que o perigo é real e sério, tanto eu estou convicto de que meus alertas não são uma vã forma de retórica. Sim, o perigo é grande! Afastem-no, enquanto ainda há tempo; corrijam o mal por meios eficazes, não atacando seus sintomas, mas o mal em si mesmo.

Alertávamos que o governo precisava construir, e isso desde o primeiro mandato, uma estratégia eficaz de comunicação política, porque era fácil identificar a desconstrução da imagem do governo.

A campanha de 2014 foi baseada apenas em propagar os feitos do passado. Não se construiu uma projeção para o futuro. Os estrategistas do PMDB, aliás, perceberam esse vácuo e criaram um projeto chamado Ponte para o Futuro, justamente porque é fácil perceber que havia necessidade das forças políticas construírem, com a sociedade, um debate sobre o porvir.

Com isso, a vitória em 2014 foi apenas eleitoral, e não política, não criando um espírito suficiente de solidariedade entre o eleitor e o novo governo. Para piorar, Dilma sumiu do mapa após a vitória, por meses e meses a fio.

Mas eu queria fazer uma crítica a Lula, pois eu vi o seu discurso ontem, na Fundição Progresso. Durante um bom tempo, Lula exaltou os seus feitos de governo para seus próprios militantes, sem oferecer novas estratégias, sem fazer autocríticas inteligentes, sem oferecer, enfim, horizontes futuros.

Lula não fala dos únicos temas, a meu ver, que poderiam reativar a economia brasileira, resgatar a nossa autoestima, atrair a atenção do mundo: meio ambiente, mobilidade urbana, reciclagem de lixo, limpeza.

Aristóteles, em seu clássico Política, observa que o objetivo da cidade, enquanto sociedade política organizada, é promover a felicidade de seus habitantes.

O ex-presidente, em seu discurso, falou sobre o crédito que o governo abriu, através do Banco do Brasil, para que os brasileiros comprassem carros. Ora, esse era o momento para fazer uma autocrítica, porque o governo deveria ter feito, concomitantemente ao estímulo à compra de veículos, uma política pública em prol do transporte público, para não acontecer o que aconteceu: uma verdadeira paralisação do trânsito em nossas grandes cidades.

Meio ambiente, da mesma forma, não é um tema apenas para Amazônia. Meio ambiente é reciclagem de lixo, algo que, se for tocado em escala industrial, pode gerar empregos e recursos para a sociedade. Meio ambiente é uma política de limpeza, que deixa as nossas cidades mais agradáveis para se viver. Tudo isso precisa integrar o discurso político contemporâneo. É algo assim que pode conquistar o eleitorado moderno, de classe média, condição obviamente necessária para qualquer partido político num país como o Brasil de hoje, num Brasil pós-Lula, onde a classe média se tornou maioria da população.

Meio ambiente também corresponde ao debate sobre a agricultura orgânica, que gera empregos, agrega valor e promove mais qualidade de vida para produtores e consumidores.

A esquerda precisa retomar a sua condição de formadora de vanguardas progressistas. Deixar as bandeiras de mobilidade urbana, uma bandeira universal, progressista, com tanto potencial de incentivar novos pólos industriais, para os garotos do MBL, é uma estupidez inimaginável.

Essa é uma bandeira que precisava integrar a campanha da Dilma em 2014, e precisa integrar a campanha dela agora, a campanha para superar o golpe.

A luta política reinstalou-se no país e, portanto, Dilma e Lula precisam oferecer programas de governo, ideias, coisa que aliás o novo presidente interino, em sua obsessão puramente destrutiva, não está fazendo, de maneira que vivemos um horrível vácuo.

O governo Dilma cometeu o erro de permitir que o vazio da desesperança se instalasse no país, ao não fazer um contraponto diário, combativo, enérgico, criativo, à campanha apocalíptica da mídia. Uma crise econômica é sempre superada. A desesperança, no entanto, destrói mais que qualquer outra coisa, porque torna a vida irrespirável. Esse ambiente asfixiante é que produziu o clima de golpe no país. As pessoas queriam qualquer outra coisa que não fosse aquele ambiente de pesadelo.

No entanto, o pesadelo continua, e ainda pior, porque o novo governo não sinaliza nada construtivo, apenas vendeta política, corte de gastos, além de ser integrado pelos mais notórios corruptos que o Brasil já viu.

Quem oferecerá um sonho de renovação?

Estou começando a achar que Ciro Gomes pode ser esta renovação. Mas Lula e Dilma também precisam se reinventar, e para isso precisam entender que a política, para voltar a ser respeitada no país, precisa ser associada à utopias realizáveis, modernas, avançadas, utopias que se materializaram em diversos países do mundo.

O povo brasileiro precisa voltar a ter esperança de que poderá se orgulhar de seu país. Como dizia Maiakóvski (foto), num poema que eu já eu citei tantas vezes (em linda tradução de Haroldo de Campos).

Se para o júbilo
o planeta está imaturo
é preciso arrancar alegria
ao futuro!
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Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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