Torcidas contra o golpe

Por Luis Edmundo Araujo, editor de esporte do Cafezinho

O Estatuto do torcedor, criado por lei federal, não permite “portar ou ostentar cartazes, bandeiras, símbolos ou outros sinais com mensagens ofensivas”. O Regulamento Geral das Competições de 2016, da Confederação Brasileira de Futebol, exige autorização expressa da impoluta CBF para o uso de faixas, cartazes e “manifestações em geral”, e o pedido da torcida interessada deve ser feito com dois dias de antecedência. A Fifa também proíbe qualquer ato ou manifestação política em jogos de competições organizadas por ela, a Globo, claro, não gosta, a Polícia Militar reprime, recolhe qualquer faixa assim que esta é estendida, mas nada disso, nem o Estatuto do Torcedor, nem a CBF, nem a Fifa, nem a Globo, nem a PM e seu spray de pimenta têm conseguido evitar o que vem acontecendo nos estádios por todo o País desde o golpe que colocou na Presidência o interino Michel Temer.

De acordo com a Constituição de 1988, “é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato”, e é nisso em que devem estar se baseando os torcedores de Norte a Sul do Brasil, nas mais diversas competições, para expressar sua indignação com o que vem ocorrendo no País, com o assalto à democracia brasileira promovido pela plutocracia, pelos políticos suspeitos, investigados ou corruptos comprovados, e pela nossa grande mídia também suspeita, investigada mas nem tanto, sonegadora comprovada.

A nova onda de protestos começou com a torcida do Corinthians reclamando dos horários dos jogos noturnos, sempre depois da novela global, sem deixar de estocar o atual presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, Fernando Capez, do PSDB, que como procurador ficou conhecido pela forte repressão às torcidas organizadas em São Paulo, e hoje é suspeito de envolvimento na chamada “máfia da merenda”, acusado de receber propina no esquema de desvio de recursos para a merenda escolar no estado.

Na final do Campeonato Carioca deste ano, entre Vasco e Botafogo, mais faixas contra o golpe e a Globo foram vistas. Antes, no jogo em Brasília entre Vasco e Flamengo, as torcidas dos dois maiores rivais do futebol carioca já haviam protagonizado uma raríssima união na luta pela democracia. Na última sexta-feira, na final da Copa Verde entre Paysandu (PA) e Gama (DF), em Belém, também houve protesto, assim como no outro extremo do País, na final do campeonato gaúcho.

Também houve protestos em Florianópolis, no último dia 28, no jogo entre Avaí e Ceará pela Série B do Campeonato Brasileiro; e na partida entre Atlético Mineiro e São Paulo pela Libertadores, no último dia 18, com a faixa da foto de abertura deste texto. O Castelão no Ceará, na vitória do Fortaleza sobre o Flamengo pela Copa do Brasil, e o Arrudão do Recife, na decisão da Copa do Nordeste entre Santa Cruz e Campinense, também foram palcos de protestos, e outros virão, oxalá que venham, enquanto o Brasil não retomar, na prática, seu Estado Democrático de Direito.

luis.edmundo@terra.com.br

 

 

Luis Edmundo: Luis Edmundo Araujo é jornalista e mora no Rio de Janeiro desde que nasceu, em 1972. Foi repórter do jornal O Fluminense, do Jornal do Brasil e das finadas revistas Incrível e Istoé Gente. No Jornal do Commercio, foi editor por 11 anos, até o fim do jornal, em maio de 2016.
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