Folha e Estadão pedem mais repressão nos atos contra o golpe e Temer atende prontamente

(Charge: Ribs)

Por Pedro Breier, correspondente policial do Cafezinho

Dois dias depois de uma estudante perder a visão de um olho por conta de mais uma ação truculenta da PM de São Paulo, a Folha publica um editorial com o título ‘Fascistas à solta‘.

Crítica à repressão violenta às manifestações, típica de ditaduras e regimes fascistas?

Lógico que não.

Afinal, a Folha, assim como a Globo, apoiou a ditadura.

Fascistas não são os comandantes do aparato militar do Estado, que mandam seus soldados para cima de civis que estão exercendo seu direito constitucional à livre manifestação.

Fascistas são os que estão protestando.

No final do editorial consta o seguinte: ‘Democracias incapazes de reprimir os fanáticos da violência são candidatas a repetir a malfadada República de Weimar, na Alemanha dos anos 1930, tragada pela violência de rua até dar lugar à pior ditadura que jamais houve’.

O jornalista Bruno Torturra demonstrou o absurdo dessa frase em poucas linhas de um post no Facebook:

A ironia – para não dizer duplipensar – é que a República de Weimar tornou-se de fato uma ditadura nazista quando, sob a paranóia fabricada em torno dos socialistas, um incêndio mal esclarecido no Reishtag consolidou Hitler no poder para, justamente, “reprimir os fanáticos que poderiam dar lugar à ditadura”.
Nojo é eufemismo.

O professor de Gestão de Políticas Públicas Pablo Ortellado também botou o editorial da Folha em seu devido lugar:

O editorial da Folha de São Paulo de hoje merece nada menos do que o adjetivo de canalha e está a altura do seu jornalismo mediocre, engajado e partidarizado que escondeu e distorceu resultados de pesquisa que mostravam que o Brasil queria eleições gerais; que escondeu resultados de pesquisa que mostravam o apoio da população as ocupações dos secundaristas e que promoveu a ação policial violenta contra manifestantes no 13 de junho de 2013. Pois depois de uma abusiva e violenta sequência de ações repressivas da polícia contra manifestantes que deixou toda sorte de feridos, uma manifestante cega, um jornalista sem dentes e fez ataques gratuitos com bombas a bares e residências, o jornal não se levanta contra o abuso, não se levanta em defesa da vida humana e da preservação do direito de protesto, mas contra os manifestantes reduzidos a esses bodes expiatórios que são os black blocs. Seu editorial reduz milhares de manifestantes ao modo de atuação de um pequeno grupo de dez ou vinte pessoas; depois, mostra profunda indignação com a quebra de vidraças, mas não parece se importar ao dano permanente que a ação da polícia causou a integridade física de dezenas de seres humanos; omite toda a sorte de injustificáveis e arbitrários abusos policiais que aconteceram nas últimas noites; por fim, manipula a trágica morte do cinegrafista da Band em 2014, vítima de um acidente causado por manifestantes e atribui ela a black blocs, sem que haja a mais remota evidência disso. Todo esse esforço retórico é feito para desqualificar os protestos contra o governo Temer — num ridículo, farsesco e enviesado tratamento que nunca foi dispensado aos protestos pró-impeachment que tiveram a participação direta de grupos neonazistas e o apoio ativo desta mesma ignóbil Polícia Militar. Parabéns Folha de São Paulo, você, quando quer, sabe fazer comunicação de pior qualidade do que a Veja! Você é uma vergonha aos bons jornalistas que emprega!

O Estadão vai ainda mais longe em seu editorial: diz que Dilma incitou os manifestantes à violência: ‘o discurso de despedida da ex-presidente, por exemplo, é um claro estímulo à extrapolação dos limites legais para as manifestações de protesto contra o governo’.

Não há absolutamente nada no discurso de Dilma que dê remotamente margem para essa interpretação.

O Estadão considera Alckmin, o comandante da polícia que mais mata do Brasil e que deu origem a enormes manifestações de rua em 2013 ao reprimir violentamente um protesto do Movimento Passe Livre, ‘hesitante’ na repressão aos protestos e pede ‘medidas duras’ contra manifestantes:

Se as autoridades responsáveis – de modo especial o governador paulista, sempre hesitante nesse assunto – não tiverem a coragem de adotar medidas duras, mas necessárias para impedi-la, essa escalada da violência alimentada pelo ressentimento e pelo revanchismo colocará em risco, real e imediato, as liberdades fundamentais dos cidadãos.

O presidente Temer Golpista, como bom pau mandado dos grupos que o alçaram ao poder, já atendeu aos pedidos de mais repressão feitos pela Folha e Estadão: autorizou o uso das Forças Armadas na Av. Paulista, domingo, quando ocorrerá mais uma manifestação contra o golpe, a despeito da autoritária e ideológica proibição do governo de São Paulo.

Não podemos nos intimidar e assistir de casa o Estado agredir os seus próprios cidadãos.

Domingo, todos às ruas.

Fora Temer.

P.S.: Guilherme Boulos acaba de anunciar que Alckmin recuou e o ‘Fora Temer’ começará às 16h30min na Paulista, domingo:

URGENTE: SECRETARIA DE SEGURANÇA RECUA E NÃO ATACARÁ MANIFESTAÇÃO NO DOMINGO!

A Secretaria de Segurança de Alckmin recuou da tentativa de impedir a manifestação de domingo pelo #ForaTemer. Recuaram da posição de “não autorizar qualquer manifestação na Avenida Paulista no domingo” e solicitaram à organização do ato um tempo a mais para poderem encerrar as atividades da tocha paralímpica, até as 16h30.

A manifestação seria realizada de toda forma, conforme Nota publicada mais cedo pelas Frentes Povo Sem Medo e Brasil Popular. Aceitamos a alteração de horário para deixar claro de que lado está a intransigência e não dar pretexto à repressão da Polícia Militar.

O ato ocorrerá no domingo, na Avenida Paulista (Masp), conforme a definição dos movimentos. A concentração passa a ser as 16h30.

O crescimento da mobilização fez Alckmin recuar! Vamos todos/as tomar as ruas no domingo!

A repressão não deterá a luta!
Fora Temer! Diretas Já!

Pedro Breier: Pedro Breier nasceu no Rio Grande do Sul e hoje vive em São Paulo. É formado em direito e escreve sobre política n'O Cafezinho desde 2016.
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