Quando o MP consegue ser pior que Eduardo Cunha: Moreira Franco sofre as consequências de uma habilidosa convicção sem provas.

Por Tadeu Porto*(@tadeuporto), colunista do Cafezinho

Em primeiro lugar [falar “Fora Temer” em voz alta está liberado] vamos a polêmica da frase mais comentada da semana: o “eu não tenho provas, mas tenho convicção” realmente não foi dito literalmente (e nesse sentido quem deu a barrigada errou) mas foi o melhor resumo – disparado –  do triste espetáculo que o Ministério Público armou para denunciar a “propinocracia” brasileira que, surpreendentemente, só existiu de 2003 até 2010.

E por que a síntese foi tão boa a ponto de viralizar de maneira fantástica?  Vejamos uma das frases efetivamente ditas: “não teremos aqui provas cabais que o Lula é o efetivo proprietário (…) Pois, justamente o fato de ele não se configurar como proprietário (…) é uma forma de ocultação”.

Sério mesmo? Lulinha ocultou o triplex e por isso não existem as provas cabais? Quer dizer que se eu tirar meu nome do papel do meu apê que parcelei em 30 anos na Caixa – governo Dilma ;) – não vão existir provas cabais de que resido há anos no local? Os meus vizinhos que me viram em lágrimas com o Galo campeão da libertadores, minha conexão de internet que deu acesso aos meus títulos no FIFA16, as cartas que recebi e mandei, o GPS do meu celular apontando o local… Isso seria o quê? Detalhes que levam a convicção de algum promotor? Honestamente, não dá para cair numa dessas. Portanto, é um fato inquestionável que Dallagnol & CIA escreveu uma das páginas mais vergonhosas da justiça brasileira com o power point que demorou 10 minutos pra virar piada (nem o Latex essa galera usou, pra pelo menos ganhar pela estética).

Em segundo lugar, falemos sobre Eduardo Cunha, a força súbita que emergiu em 2015, segundo a Veja, para estremecer a base da política nacional. O ex-presidente da câmara “delatou” o seu (ex) amigo, o secretário-prestes-a-virar-ministro do governo usurpador de Michel Temer, o piauiense de carreira política no Rio de Janeiro Moreira Franco.

Cunha foi claro em suas palavras sobre a “supeição” que lançou para seu companheiro de partido: “No programa de privatização, dos R$ 30 bilhões anunciados, R$ 12 bilhões vêm de onde? (…) Ele sabe de onde tirar dinheiro. Esse programa de privatização começa com risco de escândalo. Nasce sob suspeição. (…) Vai ficar muito difícil a permanência do Moreira no governo”

A nossa grande mídia, obviamente, quase não deu destaque ao fato. Assistimos a privataria voltar com força total (essa mesma que quebrou a Oi e teve que fazer a estatal Cemig salvar a privada Light em 2006) capitaneada por um grupo que representa a mais retrógrada maneira de se fazer política no Brasil, e isso parece não ser importante para levantar o debate na sociedade civil.

A despeito da vergonhosa postura midiática, um fato solta aos olhos com a entrevista de Eduardo ao Estadão: sua precisão é incrível. Medindo as palavras com muita habilidade, o carioca consegue explicar, com poucas palavras e sem acusar diretamente, a sujeira que o ex-governador do Rio pode ter praticado em seu recém lançado programa de concessões. Franco deve ter pulado como um gato – angorá – quando leu as acusações.

Cunha não apresenta provas contra o ex-ministro da aviação civil, mas tem a convicção de que “Vai ficar muito difícil a permanência do Moreira no governo”. Com algumas frases em uma entrevista, Eduardo manda seu recado para o governo Temer e estremece a base governista, sem utilizar um décimo da vergonhosa pirotecnia da força tarefa da Lava-Jato.

Ou seja,a equipe de procuradores do maior operação anticorrupção do país apresenta uma acusação que consegue ser mais amadora que a entrevista de um deputado que tem tudo para acabar sendo o mais corrupto da nossa história. Consequentemente, faz uma investigação importante parecer uma reportagem desleal da revista Veja – desculpem o pleonasmo – e afunda a credibilidade de instituições essenciais para uma democracia justa e efetiva.

Bom, quando Cunha consegue parecer mais coerente que um equipe inteira do Ministério Público, algo de muito errado está acontecendo.

E, olha, nem precisa de muita convicção para inferir tal fato… Basta um pouquinho de consciência política.

*Tadeu Porto é diretor do Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense.

 

Tadeu Porto: Petroleiro e Secretário adjunto de Comunicação da CUT Brasil
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