Espiando o poder – O arrocho e a prisão, o medo de 2013 e a Seleção

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Espiando o poder: análise diária da grande imprensa

Por Luis Edmundo Araujo, colunista do Cafezinho

“Limite para gasto público avança na Câmara”, diz a manchete do Globo de hoje, sobre a aprovação em comissão especial da proposta que fixa um teto para as despesas governamentais, a ser estipulado pela inflação. O arrocho está no ar, assim como a iminência da prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a julgar pela chamada em toda a largura da primeira página do diário carioca, acima da manchete, afirmando que “Lula é incluído no inquérito principal da Lava-Jato”. O Estadão bota Renan junto de Lula no título de sua chamada sobre o caso, também no alto da primeira página, enquanto a Folha de São Paulo preferiu não citar o ex-presidente na capa hoje, que ataca em outra frente, mirando eventuais futuros protestos que podem vir a ser abafados, quem sabe, pela alegria do povo com o bom futebol da Seleção. O Brasil ganhou de 5 a 0 da Bolívia e tem 100% de aproveitamento sob o comando do técnico Tite, informa o texto-legenda da foto de Vanderlei Almeida, da France Presse (AFP), que mostra Neymar erguendo Gabriel Jesus de braços abertos, como um salvador, e vem colada ao assunto principal da capa, logo abaixo da manchete: “Subsídio pode subir R$ 1 bi em SP com tarifa congelada”.

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Os aumentos nas passagens de ônibus em São Paulo foram, como se sabe, o estopim dos protestos de junho de 2013, quando centenas de milhares de pessoas foram às ruas por todo o País sem pedido nem pauta específica a não ser a revolta em comum, generalizada, contra “tudo o que está aí”, a começar pela classe política. O Congresso foi cercado, vidraças foram quebradas na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) e carros de reportagem foram virados, incendiados, enquanto jornalistas, principalmente os apresentadores da tevê, pediam assustados que, por favor, não houvesse vandalismo. Talvez por isso o prefeito eleito de São Paulo, João Doria, tenha anunciado logo após a vitória no primeiro turno que congelaria as tarifas por todo o ano de 2017, decisão que a Folha desaconselha no subtítulo da manchete a afirmar que a “medida anunciada pelo prefeito eleito (…) bancaria 30 km de corredores” exclusivos para ônibus na cidade.

Um desperdício e tanto, sem dúvida, caso sejam mesmo elevados os subsídios do poder público às empresas de ônibus para garantir o congelamento das tarifas, avisa o jornal, ainda mais em tempos de cortes obrigatórios nas despesas, como anuncia a chamada do Estadão sobre a aprovação, pela comissão especial da Câmara, da “PEC do Teto”, que vem dentro da manchete: “Rio pede R$ 14 bi à União e negocia intervenção branca”. No texto embaixo o jornal afirma que a intervenção “pode atrapalhar a PEC do Teto” porque, “pela Constituição”, não se pode aprovar, durante intervenção, qualquer Proposta de Emenda à Constituição, como esta que rendeu novo regalo à grande mídia. Depois da campanha pra “tirar o Brasil do vermelho” das edições de ontem, em que o governo Temer se exime de culpa pela atual situação econômica, os três jornais publicam novo anúncio de página inteira hoje, em que nove entidades, sob o aviso em cima de “expressão de opinião”, mostram apoio à PEC do Teto falando em superação, já, “da crise política que paralisou o país por mais de um ano”.

Assinam o anúncio, entre outras, a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a Confederação Nacional dos Transportes (CNT), a Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), a Confederação Nacional das Instituições Financeiras (CNIF) e a Confederação Nacional de Comunicação Social (CNCS), todas a afirmar, unidas, que “é hora de concentrar todas as atenções nas reformas essenciais à retomada do crescimento econômico”. E se não aparece nem na capa do Estadão nem da Folha, o ministro da Fazenda Henrique Meirelles surge logo no subtítulo da manchete do Globo dizendo “que governo Temer teve de assumir ‘prejuízo de R$ 170 bi'”, ele que no texto da chamada, bem no fim, “foi à TV defender o teto e disse que o governo Dilma deixou” a conta.

O governo atuante há mais de seis meses, empossado e não votado, não tem responsabilidade de nada, afirma o ministro. A culpa, muito provavelmente, deve recair sobre o lado de sempre, daquele citado nas capas de Estadão e Globo, nas chamadas sobre Lula, Teori e o inquérito da Lava Jato. O jornal carioca, aliás, não faz qualquer menção a Eduardo Cunha nem no título nem no subtítulo, só no texto da chamada de primeira página, em corpo bem menor, onde se lê logo na primeira frase que o ex-presidente “e o deputado cassado Eduardo Cunha foram incluídos” no tal inquérito. Já a Folha relega o caso de Lula às páginas de dentro, onde o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Teori Zavascki aparece como se sorrisse, tipo a Monalisa, na foto de Pedro Ladeira, ele que tanto condenou, de forma tão veemente, o “espetáculo midiático” da denúncia contra Lula.

Na capa de hoje a Folha não cita Lula e dá duas chamadas relacionadas à Lava Jato, uma para a proposta de “4 anos de prisão” para Marcelo Odebrecht e, logo acima, para o estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV) dizendo que a “decisão do STF pode levar 3.460 à prisão…”. A Folha não cita Lula mas repete, em sua primeira página, a palavra prisão em dois títulos, um em cima do outro, sendo o mais alto deles sobre a decisão do Supremo de confirmar a possibilidade de encarcerar um sujeito a partir da condenação em segunda instância, o que torna mais rápido o caminho de um certo ex-presidente à prisão e pode provocar grandes protestos pelo Brasil afora, ou não. Vai depender de muita coisa, inclusive, até, quem sabe, da Seleção, que pode muito bem continuar a alegrar imensamente o povo com futebol vistoso, de goleadas e grande jogadas, remetendo, por exemplo, ao grande escrete de 70, talvez ao som do vibrante, esfuziante Pra Frente Brasil.

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Luis Edmundo: Luis Edmundo Araujo é jornalista e mora no Rio de Janeiro desde que nasceu, em 1972. Foi repórter do jornal O Fluminense, do Jornal do Brasil e das finadas revistas Incrível e Istoé Gente. No Jornal do Commercio, foi editor por 11 anos, até o fim do jornal, em maio de 2016.
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