A série e o filme sobre a Lava Jato serão duas palhaçadas acríticas

(Boneco inflável do super herói Moro em MT)

Por Pedro Breier, correspondente policial do Cafezinho

A novela da Lava Jato vai sair das telas da Globo para as do cinema, com o filme “Polícia Federal — A lei é para todos” e também para as do Netflix, com uma série dirigida por José Padilha.

Esqueça qualquer olhar crítico sobre o papel da polícia, promotoria, juízes e mídia, como podemos encontrar na série Making a Murder ou no documentário Amanda Knox, ambos no Netflix.

A série sobre a Lava Jato será baseada no livro de Vladimir Netto, filho de Miriam Leitão e repórter da Globo. Moro foi ao lançamento do livro em Curitiba. Veja o que diz a crítica da insuspeita Folha sobre o livro:

Netto não esconde sua admiração pelo juiz Sergio Moro, que conduz os processos da Lava Jato em Curitiba, e pelos procuradores e policiais federais que estão na linha de frente da investigação.
Moro exibe “rigor e coragem” ao conduzir o caso “com maestria”, diz o jornalista, que o descreve no livro como integrante de uma geração “que trabalha com afinco em busca de resultados”.

Imaginem qual será o tom de uma série baseada em um livro desses.

O filme certamente não vai ficar atrás no grau de adesão à narrativa midiática da Lava Jato. Leiam este trecho de matéria do Globo de hoje:

As filmagens do thriller “Polícia Federal — A lei é para todos” começarão no dia 17 de novembro, dentro do próprio prédio da Polícia Federal, em Curitiba. Segundo a produção do filme, há pouco mais de um ano foi firmado um acordo de cooperação com diretores da PF, que permitiram acesso a detalhes dos processos e vêm colaborando com informações. O roteiro vai abranger o início das investigações até a 24ª fase da Operação Lava-Jato, justamente o momento em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi levado para depor em condução coercitiva, em março. A intenção dos produtores é que, dependendo do resultado, este seja apenas o primeiro de uma trilogia.

A PF vai ceder até o prédio para as filmagens do filme! Será que se alguém quiser fazer algum filme crítico sobre a Lava Jato também poderá fazer um acordo de cooperação com a polícia? Ou a colaboração é só com quem bate palmas para os meganhas? A PF vestiu a camisa de polícia política com gosto. É uma instituição pública que deveria prezar pela isenção mas que na prática não perde a oportunidade de deixar claro que tem lado.

Outro trecho interessante da reportagem:

O orçamento de “Polícia Federal” será de R$ 13,5 milhões, um valor alto para o cinema brasileiro — na média, um filme de ficção no Brasil não gasta mais de R$ 5 milhões, mas há casos de produções maiores, como “Tropa de Elite 2” (2010), que custaram R$ 16 milhões. Também incomum é a forma de captação de recursos para o filme sobre a Lava-Jato: Tomislav Blazic garante que o dinheiro é completamente privado, oriundo de investidores que não utilizaram incentivo fiscal. O produtor, porém, não revela quem são esses investidores.

Investidores anônimos bancaram milhões para um filme sobre a Lava Jato, operação que tem total apoio da Globo, empresa da família que possui a maior fortuna do Brasil e envolvida em escândalos como o de uma sonegação fiscal milionária e o da mansão irregular em Paraty.

Mas na realidade paralela coxinha a Lava Jato é a operação que ‘finalmente está prendendo os poderosos’.

A direção de “Polícia Federal — A lei é para todos” é de Marcelo Antunez, que dirigiu os clássicos da comédia mundial “Qualquer gato vira-lata 2” e “Até que a sorte nos separe 3”, e a produção é de Tomislav Blazic, da também clássica comédia “Vestido pra casar”.

Nada mais coerente para um filme que aplaude a palhaçada chamada Lava Jato.

Pedro Breier: Pedro Breier nasceu no Rio Grande do Sul e hoje vive em São Paulo. É formado em direito e escreve sobre política n'O Cafezinho desde 2016.
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