A política brasileira virou uma corrida maluca só com vilões

Por Pedro Breier, correspondente policial do Cafezinho

A loucura da política nacional parece estar convergindo para um ponto em que haverá uma espécie de cataclismo, do qual ninguém sabe ainda quem sobreviverá.

A Lava Jato passou a fornecer manchetes contra Lula quase que diariamente nos últimos dias.

Todas baseadas em acusações da PF que conseguem baixar o nível do ridículo visto nos casos do sítio, com seus suntuosos pedalinhos, e do tríplex no Guarujá.

No fim de semana as manchetes da mídia corporativa foram para a acusação de que o estádio do Corinthians foi um presente da Odebrecht para Lula. A Fiel deveria ir para as ruas imediatamente protestar contra o ex-presidente, porque a conta do suposto presente a Lula está sendo paga, com dificuldade, pelo Corinthians mesmo.

Hoje as manchetes do Globo, Folha e Estadão gritam: PF indica que Lula está na planilha de propinas da Odebrecht com o codinome ‘Amigo’. O ‘Amigo’ teria recebido R$ 23 milhões em propina, segundo um documento do Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht.

O delegado Felipe Hille Pace afirmou que “existe respaldo de provas e coerência investigativa” em considerar que o “Amigo” das planilhas seja o ex-presidente, mas ressalta que as investigações de crimes supostamente praticados por Lula são conduzidas por outro delegado da PF, Márcio Adriano Anselmo. Segundo ele, Anselmo já tem conhecimento dos “elementos probatórios”.

A ilação do delegado foi feita no despacho de indiciamento de Antonio Palocci. A resposta da defesa de Lula:

Tal posicionamento não pode, assim, ser tratado como oficial, mas tão somente como a indevida e inconsequente opinião de um membro da Polícia Federal, sem elemento algum para autorizar a conclusão de que Lula recebeu qualquer vantagem indevida. Todas as contas de Lula já foram analisadas pela Polícia Federal e nenhum valor ilegal foi identificado.

De fato, não há o apontamento de para onde foram esses milhões. Nenhuma conta, nenhum trust no exterior à lá Eduardo Cunha.

Trata-se de mais uma convicção sem provas de um membro da Lava Jato jogada ao vento e lançada nas manchetes para alimentar a onda necessária à prisão de Lula.

A coisa é tão inacreditável que os comentaristas dos portais se perguntam, indignados: como ainda não prenderam o Lula, com tanta coisa aparecendo contra ele? O poder de manipulação da realidade que a concentração midiática confere aos barões da imprensa é simplesmente assustador.

É bom lembrar que a PF já passou vergonha tentando identificar nomes na mesma planilha da Odebrecht: a sigla JD significava José Dirceu para os investigadores, mas depois virou Juscelino Dourado, um assessor de Palocci.

Enquanto a caçada insana a Lula continua, Renan Calheiros, Gilmar Mendes e até Aloysio Nunes vão para cima da Lava Jato.

Renan e Gilmar bateram forte na operação que prendeu quatro policiais legislativos do Senado: o presidente da Casa falou em métodos fascistas, chamou o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, de ‘chefete de polícia’ e o juiz que autorizou a operação de ‘juizeco’.

O ministro tucano do STF disse que tudo indica que juiz de primeiro grau não poderia ter autorizado a prisão de policiais legislativos e que não se pode banalizar polícia no Congresso.

Aloysio Nunes atacou Moro na discussão sobre o projeto de lei que visa coibir abusos de autoridades: ‘O juiz Moro, que se acha o superego da República, tem que dizer quais artigos do projeto da lei do Abuso do Poder (quando ficar pronto), impedem a ação da Justiça.’

Enquanto isso, Moro, em uma audiência pública realizada na Assembleia Legislativa de Curitiba, aumenta o tom da sua pregação em favor das muitas medidas pró acusação propostas pelo Ministério Público, sem querer ser maniqueísta mas já sendo:

Sem querer ser maniqueísta, ou coisa que o valha, o Congresso [precisa] demonstrar de que lado está nessa equação. Por isso acho extremamente importante essa iniciativa e todo o trabalho que vem realizado para discutir essas medidas. Eu tenho a fé e acredito que a Comissão vai aprovar as 10 medidas em sua integralidade ou em sua maioria.

Moro está mais ou menos na situação que estava Eduardo Cunha antes de dar início ao processo de impeachment de Dilma: seu grande trunfo é a prisão de Lula. Após decretá-la, Moro será um incômodo inútil e perigoso para a direita orgânica, que voltará todas as suas baterias para colocá-lo de volta em seu devido lugar. Será descartado assim como foi Cunha ao cumprir o papel que lhe foi reservado.

A política brasileira virou uma corrida maluca, onde os procuradores da Lava Jato e Moro correm para aprovar as medidas que fortalecem a acusação no processo penal (ou seja, o Ministério Público) e os políticos da direita, inclusive Gilmar Mendes, assustados com o poder da PF, do MP e de Moro, correm para aprovar o projeto que coíbe abusos de autoridades, para frear o ímpeto da Lava Jato.

A mídia familiar, representada pela líder inconteste do bloco golpista, a Globo, mantém, por enquanto, seu apoio à Lava Jato – afinal, o grande prêmio ainda não foi entregue por Moro -, mas já dá pistas de como se portará quando Moro e os procuradores do MPF não forem mais necessários: em editorial do Globo de hoje o título é ‘Congresso precisa barrar ações contra a Lava Jato’, mas no meio do texto consta que ‘a ideia do projeto (contra abusos de autoridades) tem, em si, razão de ser. No país do “você sabe com quem está falando?”, há mesmo muito abuso de agentes públicos contra o cidadão. Mesmo que seja alguém com algum status social, como fica exposto em certas medidas de procuradores e decisões de delegados.’

A população assiste – com a exceção honrosa dos bravos secundaristas que ocupam escolas Brasil afora enquanto a mídia finge que isso não está acontecendo -, atônita, a essa corrida maluca só com vilões.

Pedro Breier: Pedro Breier nasceu no Rio Grande do Sul e hoje vive em São Paulo. É formado em direito e escreve sobre política n'O Cafezinho desde 2016.
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