A verdadeira polêmica da semana: PT deve ou não anistiar o caixa 2?

Por Tadeu Porto*, colunista do Cafezinho

Esqueçam a possibilidade de atender um policial levemente ferido ou um traficante a beira da morte [até mesmo porque se a condição de atendimento é salvar alguém fica difícil pensar em considerar a pessoa levemente ferida, afinal, ela não precisa ser salva].

A polêmica de verdade – daqueles problemas da vida real – está na câmara dos deputados, com a tentativa de anistia para os crimes de caixa dois amplamente ocorridos nas eleições. Todos os grandes partidos estão dispostos a se concederem essa colher de chá, exceto o Partido dos Trabalhadores que, segundo o Estadão, reluta em entrar no “bonde do perdão”.

Bom, a princípio a lógica sobre o PT abraçar ou não a anistia parece simples: oras, o correto é deixar aqueles que cometeram o crime serem punidos, independente de quem for e ponto final.

Seria sim, simples, se o Brasil fosse um país para amadores.

Consideremos, por exemplo, o caso Eduardo Cunha. O PT ganhou de presente, trabalhando pela cassação do deputado, um Golpe parlamentar, a debandada de políticos no seu quadro e uma derrota clamorosa nas urnas em 2016 (com direito ao melhor prefeito do país perder no primeiro turno para um aventureiro qualquer).

Em contrapartida, o PMDB, partido do ex-presidente da câmara, conseguiu chegar à Presidência da República, estabelecer um núcleo duro dentro do governo que blinda figuras como Geddel Vieira e, de quebra, melhorar o desempenho nas eleições municipais.

Dentro desse cenário factual, fica bem difícil avaliar se valeu mesmo a pena o PT enfrentar o PMDB de Cunha dentro da câmara. Vamos tentar, então, vislumbrar qual o futuro do partido pós decisão sobre a anistia.

Existe um cenário altamente plausível: a anistia não passar na câmara e, na prática, ser utilizada como a Lava-Jato em geral: pega um ou outro gato pingado de outras agremiações, sem grande repercussão da mídia, e massacra o PT para tentar destruir o partido de uma vez por todas.

A grande verdade é que a repulsa contra o crime no Brasil é tão falsa quanto um depoimento do Eduardo Cunha, pois parte da população brasileira utiliza a corrupção como máscara para manifestar seu conservadorismo exacerbado: chama-se o preto, o pobre, o gay, a mulher e as demais minorias de petista corrupto e fica por isso mesmo. Portanto, combater práticas corruptas no país não adiante muita coisa, a não ser que você seja um totalitário como Sérgio Moro e alimente a sede de sangue do vampirismo fascista verde e amarelo.

Portanto, para a imagem do PT, ser contra a anistia não vai fazer diferença alguma para essa massa raivosa e alienada que parece ter inundado o país. Em contrapartida, para o grupo politizado que aparecerá no país nos próximos anos (a luta educa e essas mobilizações são uma grande escola) uma mudança de postura do partido – sair de um pragmatismo exacerbado para a construção de uma ideologia moderna que ganha mentes e corações – pode ser crucial para que o PT renasça de todo o desgaste que sofreu nos últimos anos.

E aí? O PT deve ou não ser a favor da anistia do caixa 2?

Minha opinião (não sou de ficar em cima do muro): o PT não deve, de maneira alguma, apoiar a anistia ao caixa 2, nem mesmo liberar a bancada para fazer o que quiser. O partido deve entender que ele, para o bem ou para o mal, representa a maior força da esquerda nacional e que nossas lutas são difíceis demais para nos darmos ao luxo de sermos incoerentes e antiéticos. Nosso verdadeiro adversário de médio prazo é o fascismo e é impossível combate-lô com a imagem desmoralizada. #ficadica

*Tadeu Porto é diretor do Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense

 

Tadeu Porto: Petroleiro e Secretário adjunto de Comunicação da CUT Brasil
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