O fim da hegemonia americana

Na foto, John McCain, senador do Partido Republicano dos EUA, ao lado do líder do partido neonazista da Ucrânia, o Svoboda.

Por Ricardo Azambuja, colaborador do Cafezinho

A hegemonia mundial dos EUA, após o colapso da União Soviética, parecia intocável. Não mais, segundo especialistas em política internacional, diante de novos fatos que comprovam um avanço do poderio bélico russo e do crescimento da China como potência econômica.

A tomada de Aleppo pelo exército sírio apoiado pela Rússia, a segunda cidade mais importante da Síria e reduto da oposição e terroristas financiados pelos EUA e aliados, demonstra a perda do poder americano em uma guerra forjada por interesses ocidentais. A descoberta de militares e agentes de inteligência da Turquia, EUA, Israel, Qatar, Arábia Saudita, Jordânia e Marrocos nos redutos terroristas desmascara o papel do Ocidente em querer solucionar o conflito, alardeado por uma mídia ocidental manipulada.

Não foram poucos os gritos contra os russos e suas atrocidades em Aleppo por jornalistas sentados em suas poltronas a milhares de km do conflito. Mais parece o desespero pela perda de uma batalha que achavam ganha contra o presidente da Síria Bashar Al Assad. A libertação de Aleppo serviu para mostrar o apoio de grande parte da população ao exército sírio. Queixas de abusos perpetrados pelos oposicionistas foram relatados por homens, mulheres e crianças. O oposto do que prega a mídia ocidental. A farsa formatada de uma guerra de informações distorcidas encontrou resistência nos fatos in loco.

Não bastasse a desconfiança nos americanos e aliados pela perda de Aleppo, outro fato chamou a atenção na política internacional: a apreensão pela China de um submarino americano não tripulado no disputado mar do Sul da China e a devolução do mesmo aos americanos. Um gesto simbólico de desafio à superpotência americana. Um tapa na cara do tipo “vão espionar em outra região porque aqui quem manda somos nós, os chineses”.

Segundo o cientista político espanhol Carlos Martinez, “o colapso da União Soviética, devido à falta de liberdades civis e democráticas, foi uma catástrofe em escala mundial, que levou ao surgimento do mundo unipolar. A ideia do socialismo foi manchada, algo que afetou a vida de vários países europeus”. Porém, conclui ele, “hoje, estão acontecendo guerras no mundo inteiro. Essa é uma demonstração de instabilidade do mundo unipolar, encabeçado pelos EUA. Washington usou a situação para conduzir guerras por todo o mundo, perseguindo os seus interesses”.

Já para Pere Ortega, diretor do Centro de Estudos pela Paz, os EUA não são mais donos da hegemonia mundial, pois “a Rússia já não é aquele país fraco que era nos anos 90”. Ortega opina que o papel dos EUA como superpotência “não criou estabilidade no mundo”. Isso é um indício de que o mundo “está a caminho da multipolaridade”.

Outro especialista, Mehmet Ali Guller, destacou que “no contexto do colapso da URSS e da guerra no Golfo Pérsico, os EUA anunciaram que pretendiam se tornar a única superpotência mundial”. No entanto, isso ocorreu apenas entre 1991 e 2004: “Esses 13 anos são um período bastante curto, quando os EUA tentaram se tornar líder mundial”, explica Guller. Mas o que aconteceu afinal? Surgiram “projetos regionais ligados à China, Rússia, América Latina e Europa” que “deixaram a ‘América’ sem chances à hegemonia no mundo”, conclui o especialista.

O economista e cientista político brasileiro Marcos Troyjo acredita que China, Índia, Rússia e os EUA em breve se tornarão o “quarteto de líderes da nova ordem mundial”. Troyjo pensa que nos próximos anos este quarteto, que ele denominou com a sigla inglesa Cirus, determinará a política e economia mundiais O especialista destaca que, depois da vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais americanas, a ideia de “fim do Ocidente” é expressada cada vez com mais frequência. Na opinião dele, isso significa o enfraquecimento da União Europeia (UE), OTAN e G7.

Não só estrangeiros possuem a visão de fim do império americano. O discurso do presidente do Comitê de Assuntos das Forças Armadas no senado americano, John McCain, foi direto, dizendo que os EUA perderam o papel de líder mundial. Para provar as suas palavras, McCain recordou a situação na Síria, a captura pela marinha chinesa do submarino não tripulado americano e os alegados ciberataques contra instituições políticas dos EUA antes das eleições presidenciais americanas.

A perda de poder americano no tabuleiro da geopolítica internacional traz desdobramentos políticos e econômicos a todas as nações do mundo, positivos e negativos, dependendo do país, mas com certeza impulsiona a um melhor equilíbrio de forças e a possibilidade de diminuição das guerras criadas por interesses unilaterais. O Brasil, infelizmente, ao optar por uma maior aproximação com os EUA em detrimento do BRICS, bloco que inclui as prováveis futuras superpotências do mundo, Rússia, China e Índia, irá perder novamente o trem da história e a oportunidade de ser um ator importante no novo contexto global que se anuncia.

Ricardo Azambuja:
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