A última guerra

Por Ricardo Azambuja, colaborador do Cafezinho

As notícias sobre conflitos diários entre o bloco da OTAN, liderado pelos EUA, e o bloco encabeçado pela Rússia, no palco da geopolítica mundial, têm tomado conta das manchetes internacionais. Há uma névoa belicosa que não consegue esgueirar-se de olhares mais atentos. Existem motivos suficientes para pouco otimismo com o nosso planeta.

A guerra na Síria, e mais especificamente o papel da Rússia neste conflito, surpreendeu a todos. Não esperava-se tão cedo um outro personagem principal, além dos EUA, na gerência de disputas internacionais. O império americano cedeu espaço, e uma nova Rússia, mais moderna e letal que a ex União Soviética, nas palavras de um almirante americano, aproveitou a lacuna de forma inteligente e estratégica. Na guerra síria, a Rússia apresentou ao mundo novas armas de alta tecnologia e sua intenção inquestionável de ser uma superpotência tal qual seu maior rival desde os tempos da Guerra Fria.

A tomada de Aleppo, a segunda cidade mais importante da Síria, pelas forças do exército de Bashar Al Assad, apoiadas pela Rússia, e o encontro em Moscou entre Irã, Turquia e Rússia, sem a participação dos EUA, para a definição de um final para o conflito sírio, significaram uma mudança na estrutura do poder global.

Para o jornalista italiano independente Giulietto Chiesa, “ficou claro que é possível recuperar a paz sem a participação do Ocidente. Todo o mundo árabe compreende que o domínio americano está perdendo sua força”. Na opinião de Chiesa, a CIA, o Pentágono e a OTAN não podem aceitar a derrota em todas as frentes, não só militares, mas também políticas e diplomáticas. Trata-se da Síria, Turquia (membro da OTAN) e Ucrânia.

Chiesa vê claramente a linha do terrorismo, que parece chegar diretamente dos escritórios ocidentais, interligando o assassinato do embaixador russo em Ancara (como uma espécie de castigo para a Rússia) e o ato terrorista na boate em Istambul (como castigo para Erdogan). Além disso, o jornalista italiano acredita que na Europa está aumentando a tensão na véspera das eleições na França e Alemanha e, possivelmente, na Itália. Ao mesmo tempo, a Europa financiada por bancos norte-americanos está submergindo na histeria antirrussa e anti-islâmica.

O fato é que essa situação pode levar a um confronto entre nações dotadas de um arsenal nuclear muito mais potente do que o usado pelos americanos em Hiroshima e Nagasaki. As mensagens de militares ocidentais de que a Rússia está se preparando para a guerra, ao mesmo tempo que a OTAN envia tropas para os Países Bálticos, na fronteira russa, mostra o nível de nervosismo entre os dois blocos. Rússia, China e Irã continuam sendo constantemente provocadas pelos americanos e pela OTAN, seja na Ucrânia, no Mar do Sul da China e na violação do espaço aéreo e marítimo iranianos.

Por todo o lado surgem dados que a guerra poderia começar, provavelmente, na fronteira entre a Rússia e a Lituânia. Giulietto Chiesa ressalta que na fronteira entre os Países Bálticos e a Rússia está sendo instalado um exército inteiro que, segundo estimativas da mídia alemã e americana, conta com pelo menos cinco mil homens, além de 2,5 mil tanques e outros materiais bélicos. “Tudo isso custa bilhões. Mas para quê? Para estar em plena prontidão de combate dentro de meio ano, segundo o chefe do Estado Maior do Exército da Alemanha, general Volker Wicker”, explica o jornalista.

O problema é que uma terceira guerra mundial entre EUA, Europa, Rússia e China não deixaria muitos sobreviventes para contar a história sobre a última grande guerra da humanidade, e demonstraria a ignorância de uma raça que provavelmente se autodestruiria.

 

Ricardo Azambuja:
Related Post

Privacidade e cookies: Este site utiliza cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com seu uso.