O imortal coração de Marisa

Foto: Nelson Almeida/ AFP

Foto: Nelson Almeida/ AFP

Por Tadeu Porto*, colunista do Cafezinho

Não sei quais órgãos a família de Dona Marisa vai autorizar para doações, mas sei que, se alguém levar o coração, terá recebido um presente digno de uma sinergia que vai muito além da continuidade da vida em si, afinal, esse alguém poderá guardar no peito átrios e ventrículos que, num ritmo contínuo e harmônico, bateram sonhos e lutas do início ao fim.

Foi o sangue bombeado por esse coração, por exemplo, que levou as mãos da Marisa a costurar a primeira bandeira do PT. Essa estrela que, hoje, alimenta a utopia de milhões de brasileiros e brasileiras ganhou força em gestos simples e fortes como o dessa jovem militante que viu no nascimento do partido a possibilidade de trazer a liberdade e a igualdade que o Brasil tanto precisava (e ainda precisa).

Essas batidas, que aceleraram com cada luta do casal petista, foram símbolo de uma batalha infindável que eles enfrentaram contra o ódio e o preconceito. Houveram, claro, aquelas pancadas de alegria, que ajudaram o sangue a carregar hormônios de felicidade do dedão do pé aos fios de cabelo quando Lula deixou o país com a maior popularidade já registrada a um chefe de Estado. Mas também aconteceram aquelas batidas de tristeza, oriundas da angústia de ver sua família inteira sendo perseguida na implacável dialética que a luta contra desigualdade impõe.

Tum tum, por tum tum, a simbologia da doação dos órgãos de Dona Marisa é uma daquelas situações que nos fazem acreditar que vida é uma verdadeira arte, como contemplar uma paisagem que parece ter sido milimetricamente calculada para acalentar nossa alma.

Afinal de contas, é natural procurar algum conforto em meio a tanta tristeza pelo falecimento e indignação por não ver o fascismo dar trégua nem mesmo momentos de luto. E ver o coração que pulsou utopias, o pulmão que respirou ares de revolução, ou estômago de ferro que digeriu um massacre de injustiças poderem iluminar outras vidas, soa como um alento nesse cenário devastador.

Nesse sentido, a trajetória da ex-Primeira Dama não terá sido em vão e continuará alimentando o espírito por justiça e igualdade por todo esse Brasil, pois, como dizemos aqui em Minas, seu sonho não há de envelhecer jamais.

As mãos que acariciaram a barba daquele que construiu as bases para tirar o país do mapa da fome; as palavras que deram forças ao líder sindical que perdeu três eleições seguidas; e, sobretudo, o sorriso que, certamente, guiou o caminho de milhares de militantes que se identificavam com suas causas são exemplos que alimentam nossos ideais.

E por isso tudo, e muito mais que esse texto não consegue expressar, não há dúvidas de que Dona Marisa figurará  para sempre nos nossos discursos, debates, homenagens e livros de história.

Bom, sei que é difícil pedir para um coração que nunca se calou diante das injustiças cotidianas que descanse em paz nesse momento tão difícil que vivemos. Que ele seja, assim, inspiração: como seus sonhos, suas palavras e sua luta hoje e sempre…

Marisa Letícia, PRESENTE!

*Tadeu Porto é diretor do Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense. Sigam-o no Facebook! :)

Tadeu Porto: Petroleiro e Secretário adjunto de Comunicação da CUT Brasil
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