O depoimento de Emilio Odebrecht à Folh… ops, à Lava Jato

A Lava Jato é uma piada de humor negro.

A reportagem da Folha sobre o depoimento do oligarca da Odebrecht, o velho Emilio Odebrecht, termina com uma informação interessante:

Só que a reportagem já tinha vazado o seu conteúdo! A Folha explica que o vídeo foi “acessado pela Folha por uma falha da Justiça Federal”.

É a suruba total.

A reportagem tem um outro exemplo maravilhoso desse jornalismo pós-verdade que caracteriza o nosso tempo.

Entenderam? O patriarca “não tem dúvidas” de que Palocci “pode ser sido um dos operadores do PT”.

Aliar a expressão “não ter dúvidas” a uma frase na condicional é outra novidade dos tempos modernos.

O regime de exceção não se limita a judiciário. Invadiu também a sintaxe. Eu “não tenho dúvidas” de que a Folha “pode” ter distorcido o depoimento de Emílio a Sergio Moro.

Sobre o conteúdo em si do depoimento de Emilio Odebrecht, é inacreditável que a Lava Jato tenha destruído a maior empresa brasileira de engenharia, além de tê-la entregue aos chacais estrangeiros, para ouvir platitudes como a de que “sempre houve caixa 2 no Brasil, para todos os partidos”.

A economia afunda na maior depressão de sua história, os vampiros do congresso avançam sobre os direitos sociais, os lobisomens do judiciário avançam contra os direitos individuais, e os jornalões não falam de uma coisa nem outra, apenas da Lava Jato.

Ninguém propõe nada para recuperar a economia brasileira.

A mesma reportagem traz outro depoimento, de outro executivo da Odebrecht, também “vazado” por “falha do sistema de vídeo”.

Ela traz uma “opinião” interessante do executivo da Odebrecht, que revela o viralatismo profundo que assola a nossa burguesia.

De acordo com o executivo, as indústrias nascem por combustão espontânea, e não por investimentos privados e públicos. Se os chineses seguissem tal raciocínio, teriam limitado suas ambições e se restringido à plantar arroz.

Ora, se não havia mão-de-obra especializada, esta poderia ser formada. E foi. Se não havia tecnologia, esta poderia ser importada e aprendida. E foi. O “único cliente”, a Petrobrás, era simplesmente a maior empresa do país e uma das maiores empresas de petróleo do mundo. Após os investimentos do governo, da Petrobrás e do setor privado, a indústria brasileira de navegação renasceu, floresceu, gerou dezenas de milhares de empregos, prosperidade para cidades inteiras, arrecadação fiscal, estabilidade, até que veio a Lava Jato e, zás, destruiu tudo.

 

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
Related Post

Privacidade e cookies: Este site utiliza cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com seu uso.